Cássio: O Think Tech está no ar. Meu nome é Cássio Politi e junto com Algar Tech nós vamos embarcar nessa jornada de repensar possibilidades. No episódio de hoje a gente faz uma imersão em como a tecnologia pode melhorar a segurança no trânsito. Deixa eu chamar a Sara, que é a nossa especialista virtual em negócios aqui na Algar Tech. Ela não dirige porque vive no mundo virtual, mas tem um cérebro eletrônico que conhece tudo desse assunto. Tudo bem com você, Sara?
Sara: Tudo ótimo, Cássio. O assunto que o podcast aborda hoje é muito importante, porque lida com vidas humanas. No Brasil, infelizmente, o tema é ainda mais relevante, porque somos hoje o quinto país com mais mortes no trânsito. Em média, de cada 100 mil pessoas, 22 perdem a vida no trânsito por ano. O Brasil está melhor do que quatro países apenas. São eles: Índia, China, Estados Unidos e Rússia.
Cássio: Não é brincadeira mesmo, viu? São muitas famílias que perdem alguém em acidente de trânsito e são acidentes que quase sempre poderiam ter sido evitados. Para o bate-papo de hoje eu tenho a satisfação de receber o Rodrigo Mourad, que é cofundador e presidente da Cobli. A Cobli é uma fleet tech. O que é isso? É uma empresa que faz tecnologia para frotas. O fleet vem do inglês, do frotas em inglês. A Cobli usa tecnologia para a logística ser mais eficiente, ou seja, ajuda as empresas a terem profissionais com uma direção melhor, a fazerem manutenção melhor dos carros, a fazer uma logística melhor, principalmente, e, para isso, usa muitos elementos da transformação digital aí: IOT, ciência de dados e outros elementos para trazer ciência para o mundo da logística. Rodrigo, grande prazer receber você aqui. Obrigado por aceitar o convite para o bate-papo de hoje aqui.
Rodrigo: Cássio, o prazer é meu. Estou super animado de estar participando do podcast. Acho que esse tema que a gente vai falar, sobre acidentes, é superimportante. Espero que consiga contribuir bastante, continuar ajudando a reduzir acidentes aqui no Brasil.
Cássio: É isso aí. É um tema importante, não é, Rodrigo? Acho que afeta a vida de todo mundo no aspecto pessoal, no mínimo, e de muitas empresas no aspecto profissional. Aqui no podcast a gente fala de tecnologia como meio, não como fim. Vamos cruzar os dois assuntos aqui: como é que a tecnologia ajuda a melhorar a segurança e até a eficiência no trânsito?
Rodrigo: O que a gente vê indo para essa parte de acidentes, aqui no Brasil acontecem mais de 700 mil acidentes por ano, o que dá mais de 72 acidentes por hora. Quando você tenta entender um pouco mais de porque eles acontecem, tem basicamente três fatores: um é erro humano, principalmente direção distraída. Pensa, a pessoa está lá no celular ou está conversando, comendo, acaba não vendo alguma coisa, fica distraída e acontece o acidente. Dois: são problemas de vias. Às vezes tem um buraco muito grande, tenta desviar, tomba, acontece alguma coisa. Três: são problemas mecânicos mesmo. Pode imaginar, o próprio carro tem algum problema, para de funcionar o freio e acontece um acidente. A gente vê que depende muito da fonte estatística e do ano, mas, em geral, mais de 90% dos casos são causados por falha humana. Essa direção distraída, pessoa está no WhatsApp, no celular e tudo mais, e essa é uma das coisas que a gente mais tenta ajudar a combater para tentar ir reduzindo, primeiramente, essa distração, para aí sim a gente conseguir ter menos acidentes. A tecnologia ajuda nisso de diversas maneiras. A gente consegue acompanhar, por exemplo, se a pessoa está dirigindo há muito tempo, 10 horas, 12 horas, 15 horas dirigindo direto, obviamente ela vai ficar mais cansada, ou se ela está tendo um comportamento pior, está começando a frear muito em cima, está começando a acontecer outras coisas em uma frequência que não é comum para ela, ou, em muitos dos casos, dá para utilizar, inclusive tem crescido super rápido aqui no Brasil a utilização de câmeras embarcadas no veículo. São câmeras bilaterais, que aí você consegue acompanhar em tempo real (inint) [00:04:22] artificial. A pessoa está ficando distraída, está com sono, está muito cansada, já consegue alertar na própria cabine, fazer barulho, apitar, avisar as pessoas para, realmente, cara, vamos parar o carro, porque isso aqui está ficando perigoso demais, além de outros comportamentos, como: olha, está dirigindo muito rápido, muito perto do carro da frente. São coisas que a gente comumente vê como causas de acidentes. Lá nos Estados Unidos, por exemplo, tecnologias como essa de câmera de ação mais comuns, tem um caso muito emblemático. É o caso da Amazon, que é a maior frota do mundo, que depois de conseguir embarcar a câmera conseguiu reduzir em 48% a incidência de acidentes por ano, muito via essa questão de, olha, vamos reduzir comportamento distraído, vamos garantir que as pessoas estão utilizando cinto de segurança. Mesmo que no caso tenha um acidente, ele seja menos impactante e assim ir trabalhando para reduzir. Acho que esse é um exemplo legal de como tecnologias novas. A câmera em si não é tão nova, mas muito por uma questão da queda grande que teve de custos e da capacidade de inteligência artificial para processar dados, conseguem ajudar a gente em reduzir acidentes de maneira super expressiva. Pensa que dos 700 mil acidentes que eu falei no Brasil, se a gente reduz em 40%, daria 350, 340 mil acidentes a menos por ano. Pensa quantas vidas, quantos problemas a gente evita com isso, trânsito e tudo mais, que decorrem dos acidentes. Acho que esse é um dos exemplos mais claros de tecnologia de ponta sendo utilizada para reduzir acidentes e proteger todos nós. Está todo mundo na rua, seja frota, seja pessoa física, seja andando, seja de carro, e a gente sabe como isso é perigoso para todos.
Cássio: E vai se desenvolvendo uma inteligência artificial aí por trás? Porque eu imagino o seguinte: no começo dessa jornada era muito difícil. Você tinha poucos dados, eu imagino. Você tinha mais a teoria, como você falou: não vai rápido, não freia em cima, não responde o WhatsApp e por aí vai. Ao longo do tempo, acho que você vai ganhando experiência com isso. Minha pergunta é: dá para coletar os dados dos acidentes e associar: esse cara aqui bateu dessa frota, dessa vez, porque estava rápido demais. Aquele outro porque estava desatendo. Dá para coletar os dados e aprimorar ainda mais essa prevenção?
Rodrigo: Sim, é exatamente isso que acontece. A gente vê aqui no caso da Cobli, a gente tem mais de 5 mil empresas clientes que a gente já acompanhou por milhões e milhões de quilômetros dirigidos aqui no Brasil e um pouco pela América Latina, e você vê que muitos desses comportamentos agressivos, você tem que entender quais são os que realmente mais causam acidentes. Dirigir rápido é perigoso? É. E muito perto do carro da frente, é perigoso? É. Qual deles é mais perigoso? Qual deles eu deveria combater primeiro? Quando você pensa em um país como o Brasil, com 60 milhões de veículos sendo dirigidos o tempo inteiro, tem muito comportamento errado acontecendo em todo lugar. Se a gente tentar resolver tudo junto, vai ser muito difícil. A gente provavelmente não vai conseguir fazer, então tem que se utilizar esses dados bem para você ir conseguindo focar e entender onde que eu realmente consigo fazer impacto. O que a gente vê é que realmente o que é mais impactante para a redução de acidentes é a questão de direção distraída, ainda mais quando é associada a, vamos dizer, uma direção cansada, a pessoa que já está dirigindo há bastante tempo ou até está cansada por outros motivos, não sei, está fazendo alguma outra coisa, cansou antes de começar a dirigir, ou estava em uma festa, fez alguma outra coisa antes. A gente tenta focar bastante nessa parte de direção distraída porque é o que mais impacta para a redução de acidentes e conforme você vai reduzindo a direção distraída os outros problemas começam a ficar mais importantes e você vai focando mais e mais neles para entender isso melhor. Acontece a mesma coisa com outros tipos de problema. O que a gente pode fazer para reduzir, por exemplo, consumo de combustível? Mesma coisa: se eu andar rápido gasta muito combustível, janela aberta gasta combustível. O que mais gasta? Como que a gente realmente consegue melhorar o nosso modo de condução para trazer um benefício grande? Porque tentar mudar tudo é muito difícil. Muitas pessoas dirigem já há 10, 20, 30, 50 anos e é difícil de ir mudando esses hábitos. Por isso é importante focar bem, até para a gente conseguir criar programas de treinamento que sejam claros para realmente a pessoa ter um (inint) [00:08:24] curto e ir conseguindo ir aprendendo, ter incentivos corretos e ir melhorando gradualmente esse modo de condução para causar menos acidentes ou consumo de combustível, no outro exemplo que eu dei.
Cássio: Agora, é difícil conscientizar, não é, Rodrigo? Porque todos esses dados que você deu trazem para isso: poxa, seria tudo isso muito evitável se as pessoas estivessem mais atentas a isso. Quando eu falo as pessoas, eu me incluo também. A gente se inclui nessa turma. Não é pedância. A gente também está nessa massa que recebe a crítica, mas é difícil conscientizar. Porque você acha que acontece só com os outros. Muita gente vai pensar isso. Tem uma história aqui que eu não sei se você conhece ou lembra ou reteve essa história, mas para mim isso me reteve muito. Em primeiro de maio de 94 morreu Ayrton Senna. Foi um domingo. Para quem não lembra, para quem não vivenciou, e não lembra, talvez, não era nascido, às vezes, depende da idade aí, mas pelo horário de Brasília a batida lá no GP de Ímola foi final da manhã. Horário de GP da Europa, 10, 11 da manhã começa aqui, então a batida foi lá pelas 11 e pouco da manhã. Era um domingo e muita gente, era um domingão, era feriado no dia primeiro, mas era aquele típico fim de semana de estrada cheia. Muita gente pegou a estrada para voltar para casa no fim do dia, já sabendo da morte do Senna. Não sei se você sabia que o número de acidentes naquele domingo foi o menor registrado em 94. A maior campanha disso. Por quê? As pessoas pensaram assim: se nosso melhor motorista morreu em acidente, eu também posso morrer. Me deu uma sensação de mortalidade naquele momento. Mas depois que o susto passou, os acidentes voltaram a acontecer. Minha pergunta é: por que é tão difícil mostrar para as pessoas que elas também são mortais? Tem algum tipo de ajuda que a tecnologia pode dar nesse sentido?
Rodrigo: Sim. Algumas coisas. Eu acho que a gente vê muito que existem comportamentos indevidos, vamos dizer assim, que a pessoa não sabe, e existem muitos que a pessoa sabe. Quando a pessoa pega o celular para responder ao WhatsApp enquanto ela está dirigindo, ela entende que isso não é o jeito mais seguro, vamos dizer assim, de dirigir, mas ela falava: vou pegar, vou fazer isso daqui, vai ficar tudo bem. E acaba acontecendo um negócio estatístico. A gente vê que a cada 20 mil incidentes, ou seja, de eu fazer alguma coisa um pouco errada, que eu vou realmente causar um acidente. A pessoa faz várias vezes errado antes de realmente ter um problema e ela vai quase ter um reforço positivo. Respondia mensagem, não aconteceu nada, respondi 10, não aconteceu nada, respondi mil, não aconteceu nada, e você vai se acostumando: “isso é uma coisa que eu consigo fazer”. Ou ir muito rápido, acelerar demais, muito perto do carro da frente, ainda mais na estrada, para tentar ver se ele vai para a direita, por exemplo. São todos comportamentos que a gente vai tendo muito desse reforço positivo, que vai construindo o hábito dentro da nossa cabeça. O que a gente tenta fazer com a tecnologia é fazer o oposto, falar: cara, como é que a gente consegue dar esse reforço negativo sempre que está acontecendo algum tipo de comportamento indevido para a pessoa já ir se acostumado a “olha, isso eu não posso fazer, senão esse negócio vai começar a me atrapalhar?”. Então a gente vê muito desses, tanto de curto prazo, vamos dizer assim, que a gente comentou, alerta sonoro, mensagem, ficar o negócio apitando, fazendo barulho, tentando realmente evitar que você faça esse comportamento, em geral consegue trazer bem rápido esse tipo de ganho, e depois você acaba complementando isso um pouco com as políticas mais estruturadas dentro das empresas. Quem dirige melhor vai ter algum tipo de benefício. Você vai poder pegar o carro mais novo, vai poder escolher o feriado que você vai querer folgar, o dia que você vai querer fazer a rota, a rota que você vai querer fazer e você vai tentando compilar. Tanto os incentivos de curto prazo quanto os incentivos de longo prazo para ir habituando a pessoa de que ela deveria dirigir melhor e trazer esse benefício para ela. A questão de acidentes, em geral, tem muito isso de que todo mundo entende que é ruim para a própria pessoa. Ninguém quer estar em um acidente, mas fica um pouco dessa de “eu posso fazer um pouco errado sempre e nunca vai acontecer nada”. Você tem um pouco desse reforço positivo, que a gente está falando no início. Por isso que né muito importante ter realmente, ainda mais nas empresas, que, de novo, que nem eu falei, no Brasil tem uns 50 milhões de veículos sendo dirigidos, só que 10 milhões deles são de empresas e as empresas dirigem muito mais. Quando você vê por quilômetros, as empresas estão dirigindo 30, 40% dos quilômetros e vão ter uma recorrência de acidentes maior, até por muitas vezes a gente ver que tem um comportamento mais agressivo ali de condução. É um espaço que a gente tem bastante oportunidade de conseguir reduzir bastante acidentes como um todo. O grande truque é esse: você criar realmente jeitos fáceis e implementáveis em escala, e a tecnologia permite isso. Não faz sentido ter um gestor de frota que fica olhando dos mil veículos que a empresa tem, é um a um o tempo inteiro tentando ligar para todos os motoristas para tentar trazer o ganho. A tecnologia consegue fazer de maneira automática e já ir dando feedback, já ir mostrando para o motorista quem faz bem ou mal, para consolidar a informação, dá feedback diferente para pessoas diferentes. Às vezes eu dirijo rápido demais e você dirige de maneira distraída demais e cada um tem que treinar na parte que é específica, e a tecnologia possibilita de a gente fazer isso daqui em escala para, realmente, conseguir ter esses ganhos de maneira mais fácil. Não é fácil, vamos dizer assim, mesmo assim, mas a gente consegue ver ganhos super expressivos. Você vê em casos, por exemplo, a gente estava dando o exemplo da câmera. Dois, três meses depois da implementação da câmera você já consegue ter redução desses incidentes, de fazer algum eventinho errado, por mais que ele não tenha levado a um acidente diretamente, em 30, 40%. Você consegue ter um ganho rápido que deveria correlacionar em longo prazo com a quantidade total de acidentes que ela tem. É difícil, mas a tecnologia já está aqui para a gente conseguir fazer, trazer esses ganhos para a sociedade rapidamente.
Cássio: Sabe o que eu curto, Rodrigo, na tua forma de pensar e de apresentar esse cenário no qual vocês trabalham? É que você coloca toda a responsabilidade pela solução nas empresas e na tecnologia. Você não citou a palavra governo até agora. Você não citou órgão público nenhum. Não estou aqui menosprezando a importância e o papel deles, mas é que é uma mudança de abordagem. No passado, tudo que se dizia era “poxa, o governo precisa fazer alguma coisa”. Talvez a gente tenha cansado de esperar e tenha a tecnologia viabilizado outras formas, não é? Nascem coisas. Não sei nem direito se a origem é governo da sociedade civil, mas tem uma área amarela. A gente já passou do mês de maio, agora em 2022, mas ano que vem tem de novo, depois tem de novo, então é legal falar, porque é um movimento que foi criado para chamar a atenção das pessoas para os acidentes de trânsito, que são um problema sério. Eu tenho um dado aqui, não sei se bate com o seu, mas em 2021 5 mil 331 mortes. Não sei se esses números são sempre consolidados da mesma forma, mas não importa. É por aí. Tem um comercial estrangeiro, não lembro se era inglês ou alemão que eu vi, não sei se você já viu, está no YouTube, que falava assim: quantas mortes são aceitáveis? Dava um número desse: 5 mil e 300. Pegava uma pessoa qualquer e falava assim: quantos você acha? Falava: “não, acho que 5 mil e 300 é muito, acho que 100 mortes por ano está bom”, “10 mortes por ano está bom”. Pegavam e traziam a família do cara inteira ali, tinham combinado, e falava: podem ser essas 50 pessoas aqui? O cara toma um choque. Quantas mortes são aceitáveis? O cara fala: nenhuma. Uma morte já é um prejuízo muito grande. É nesse contexto que vem o maio amarelo, para dizer: não dá, é uma vida desperdiçada essa. Muito diferente de uma doença. Não estou falando que uma doença seja boa, mas uma lógica por trás. Morte no trânsito não tem, é completamente evitável. Minha pergunta para você é: quais os principais desafios dos gestores de frota na hora de trabalhar com segurança da equipe? Só o maio amarelo, imagino que ele ajude, mas não resolva. Para o gestor, como é que funciona?
Rodrigo: Alguns pontos que eu acho que são legais de comentar da sua fala. Um: tem bem esse problema de conscientização. Quando você fala um número de mortos muito longe do que você conhece, às vezes parece que isso está ok. É que nem quando a gente fala: os acidentes do trânsito causam uma perda de PIB por causa de aumento de trânsito de 1 bilhão de reais. Ninguém consegue ligar muito como que esse 1 bilhão de reais bem para mim, mas o dinheiro está saindo da saúde, está saindo da educação, está saindo de algum lugar que poderia impactar você mais diretamente. Quanto mais deixar claro de como isso é importante, porque cada uma dessas mortes foi super importante para várias pessoas. Às vezes isso não ficou claro para você como indivíduo. Acho que todo esse trabalho de conscientização, de mostrar os casos para evitar que eles aconteçam novamente, é super importante. Quando você fala da questão do governo, no início, tem uma coisa importante que eu penso, que é: a gente tenta trabalhar na Cobli com o que a gente tem à mão para fazer. O máximo que o governo ajudar para melhorar, seja conscientização, sejam estradas melhores, sejam carros mais seguros, tudo que andar nessa linha é melhor. Mas a gente, como empresa, não consegue, vamos dizer assim, fazer o governo fazer esse tipo de coisa, por mais que a gente possa apoiar, fornecer dados, ajudar no conhecimento que a gente já tem para facilitar, então a gente fala: vamos focar no que a gente pode fazer. É muito claro que a gente pode fazer muita coisa. Que nem eu falei, só o exemplo de câmeras, por exemplo, possivelmente consegue reduzir quase 50% dos acidentes, então a gente tenta focar bem e falar: o que tem aqui à mão? O que a gente consegue utilizar a tecnologia que traga valor, que traga processos melhores, uma cultura de direção melhor para realmente trazer esses ganhos? Esse é um pouco da parte que a gente foca ali no problema como um todo. Quando você fala sobre como que isso acontece dentro das empresas, qual que é o papel do gestor de frota? Uma coisa que é importante é assim: muitas vezes, ele também tem que trabalhar por esse papel de conscientização dentro da empresa, porque a gente poderia estar trabalhando em reduzir acidentes, mas também poderia estar trabalhando em gastar menos combustível ou entregar mais rápido para os nossos clientes ou em outras coisas, e em um ponto micro a empresa também não consegue fazer tudo de uma vez só, então ela também precisa ter essa questão de foco, de como que eu realmente vou conseguir resolver os problemas que são mais importantes para mim. Ele também tem muito essa questão de falar: cara, como que eu trago visibilidade e quão impactante isso aqui é para eu realmente conseguir focar todo mundo e trazer esses ganhos? É muito legal de ver que hoje, para muitas das empresas, ainda mais para as empresas maiores, a gente vê que já tem muitas políticas que eles falam de acidente zero, que bem na linha do que você está falando. Nenhum acidente é aceitável, muito menos se for alguma questão do tipo comportamento indevido, que é um acidente evitável. A gente tem tudo que a gente poderia fazer para evitar, garantindo a manutenção adequada, tentando priorizar vias que sejam mais seguras e, de novo, focando muito ali no modo de condução. A gente tenta subsidiar bastante para mostrar realmente: cara, dá para ter zero, ou, dependendo muito do tamanho da sua empresa, dá para reduzir muito a quantidade que já ocorre. Como que a gente consegue fazer para isso e quais são os ganhos para todo mundo? Aqui, obviamente, tem ganhos financeiros atrelados: eu vou gastar menos com seguro, não vou pagar o (inint) [00:20:03], não vou ficar com um carro parado, ter que alugar outro carro e tudo mais, mas em quantificável é realmente a vida das pessoas que estão ali trabalhando. A gente tenta sempre ponderar bastante essas coisas para deixar claro e falar: isso daqui é extremamente importante, a gente tem que agir agora. A gente tem todas as ferramentas para fazer uma melhoria muito grande, vamos trabalhar e vamos para a frente.
Cássio: Maravilha. Para a gente fechar aqui, Rodrigo, pela sua experiência e pela sua observação, o que tem de tecnologia lá fora que dá para aproveitar aqui? O que pode funcionar tanto para a prevenção de acidente quanto para melhoria da logística, no que está sendo praticado em outros países?
Rodrigo: O que a gente vê hoje é que acontece mais uma penetração maior da tecnologia do que a tecnologia em si ser diferente. Por exemplo, no caso da Cobli, a gente começou a empresa há cinco, seis anos, já cresceu bastante, a gente levantou mais de 300 milhões de reais de lá para cá para conseguir investir tanto em tecnologia e conseguir trazer a melhor coisa possível para o Brasil, mas quando você compara, por exemplo, com os Estados Unidos, você vê que nos Estados Unidos 70% dos veículos já têm algum tipo de tecnologia (inint) [00:21:16] embarcada e dos novos veículos quase 50% já estão colocando câmeras para ter esse tipo de redução de acidentes, que é um dos focos principais desse produto de câmera. No Brasil, a gente vê uma penetração disso nas frotas muito menor. Os números são muito mais perto de 15 a 20% das frotas têm algum tipo de tecnologia IOT embarcada e o número de câmeras é desprezível. Eu chegaria a dizer que você pode arredondar isso para zero, talvez 1% só. A tecnologia já existe. Ela só não tem ainda prevalência. Não é que está todo mundo utilizando a tecnologia para realmente trazer o ganho, que é um cenário melhor. Se não tivesse nem a tecnologia, a gente não tinha nem o que fazer. A gente está em um lado bom, que já tem a tecnologia, a gente consegue implementar os ganhos agora, e para as empresas isso cria um cenário competitivo interessante, que tem coisas que já estão prontas, que eu já consigo colocar aqui para melhorar a minha logística, seja atender o meu cliente melhor, mais rápido, me comunicar melhor com ele, fazer rotas mais curtas, gastar menos combustível ou ter menos acidentes, que é o foco que a gente está falando aqui. Se a minha empresa fizer isso antes dos meus concorrentes, eu consigo ter um ganho, eu consigo sair na frente. Se eu for o último, eu vou acabar só empatando, porque um dia todo mundo vai utilizar esse tipo de tecnologia. É que nem já está acontecendo nos Estados Unidos, que eu comentei, mas a gente vê dados do Japão, da Europa. Acontece um movimento muito parecido. Acho que é um movimento superimportante agora das empresas de colocarem tecnologia de ponta e de realmente conseguir implementar isso daqui direito, porque tem muita gente que usa uma parte muito pequena ou tenta fazer muito processo ainda manual e acaba não conseguindo trazer os ganhos. Acho que é um cenário importante de a gente implementar a tecnologia bem para realmente incorporar esses ganhos para as empresas e fazer isso com uma vantagem competitiva para elas, que, no final do dia, o maior beneficiado é o consumidor final. Uma logística melhor quer dizer que tudo vai chegar para mim mais barato, mais rápido e na hora que eu combinei, com mais confiabilidade. É um ganho para a gente sociedade, como um todo, que inclui, obviamente, muito essa parte de acidentes. Para mim, o que eu vejo de grande diferença é muito essa questão da prevalência, quando você fala sobre a capacidade de criar sistemas complexos de inteligência artificial aqui no Brasil, a gente tem muito. A quantidade de desenvolvedores excelentes que a gente tem aqui no Brasil, até muita gente educada fora ou que aprende (inint) [00:23:36] comunica muito no mundo, como um todo, a gente consegue pegar essas melhores práticas de tecnologia e implementar aqui. O que está faltando é a gente realmente implementar. Acho que quando você vê história de tecnologia, isso sempre aconteceu. Os RPs, por exemplo, 50 anos atrás, os Estados Unidos implementaram muito antes do Brasil, ferramentas de marketing, de finanças, aconteceu a mesma coisa. Eu acho que o nosso papel agora é tentar ir diminuindo esse gap e agilizando a adoção disso no Brasil e trabalhando cada vez mais para a gente também ser um país de ponta no desenvolvimento dessas coisas. A Cobli tem muito esse papel que a gente trabalha para: (inint) [00:24:11] maior que o Brasil, Europa ou qualquer outro país? A gente pode aprender com eles a implementar aqui? Ótimo, vamos fazer. Tem coisa que a gente pode fazer na frente, que a gente pode sair primeiro e o Brasil pode ser o líder e criar novas tecnologias, trazer um ganho diferente que depois outros países vão copiar? É lógico que dá para fazer. A gente tenta trabalhar bastante nesse sentido de adaptar a tecnologia para cá, para o que faz sentido, mas também criar coisas de ponta muito baseadas no cenário brasileiro, no que a gente vê que aqui são problemas maiores. Você pode entrar no mérito roubo de carga é um problema maior percentualmente no Brasil do que nos Estados Unidos ou outras coisas, então tem situações específicas que a gente pode trabalhar aqui no Brasil para tentar estar na vanguarda da tecnologia.
Cássio: Rodrigo, quero te agradecer muito por esse papo tão bacana. É claro que a gente está falando de um problema muito sério da vida pessoal e da vida de muitas empresas. É muito legal ver empresas como a Cobli usando a tecnologia para resolver um problema que vai além do seu próprio negócio, um problema que afeta a sociedade, como a gente falou aqui mais de uma vez. Te agradeço muito por compartilhar esse conhecimento. As portas estão sempre abertas. Obrigado, viu, Rodrigo?
Rodrigo: Nada, Cássio. O prazer foi meu. É você ou qualquer pessoa da audiência que quiser conversar mais, mandar uma mensagem, eu estou super disponível para conversar. Acho que esse é um tema superimportante para a gente trabalhar juntos e continuar reduzindo acidentes aqui.
Cássio: Muito bem. Vamos chegando, então, ao final do Think Tech de hoje. Vamos terminar de um jeito mais leve aqui. A gente falou do Ayrton Senna, porque mesmo depois de quase 30 anos da morte dele ele continua sendo um ídolo aqui no Brasil.
Sara: Uma pesquisa foi feita em 2014 para levantar qual o melhor ídolo do esporte. Essa pesquisa foi feita em São Paulo exatamente 20 anos depois que o Ayrton Senna morreu e ele aparece como o maior ídolo do esporte mesmo entre as gerações mais novas, que nem sequer viram o Senna correr. Pelé veio em segundo lugar.
Cássio: Vou confessar: sou fã dos dois, mas tenho que admitir que tem um chaveiro no meu bolso que tem o capacete do Ayrton Senna, em casa tem prateleira de livros dele, camisa com o nome dele e muito mais. É isso aí. Think Tech de hoje fica por aqui. Até a próxima, hein?