Cassio Politi: O Think Tech está no ar. Meu nome é Cassio Politi e, junto com a Algar Tech, nós vamos embarcar nesta jornada de repensar possibilidades. Nesta edição de estreia do podcast, nós vamos passar pelo conceito de digital para dentro. Você vai entender isso já na nossa entrevista do dia. Antes de apresentar o nosso convidado, eu quero apresentar minha companheira de podcast. Ela fala diretamente do ambiente digital. Eu apresento, então, a você a Sara, da Algar Tech. Ela é a especialista virtual em negócios. Ela entende muito desse mundo da tecnologia, até porque ela é fruto dele. Oi, Sara. É um prazer tê-la aqui.
Sara: Oi, Cassio. É um prazer participar do podcast para compartilhar conhecimento com o público da Algar Tech.
Cassio Politi: O prazer é meu em tê-la aqui, Sara. Essa interação de um cérebro humano como o meu e de um cérebro eletrônico como o seu, Sara, me anima muito. Mas não tem isso de conversa artificial com você, Sara. Você, como inteligência artificial, pode falar de vários assuntos que a gente vai abordar inclusive hoje no podcast, por exemplo, transformação digital.
Sara: É verdade, Cassio. Eu fico muito à vontade para falar de transformação digital, porque eu literalmente nasci nesse mundo.
Cassio Politi: É isso aí. Então vamos para a pauta do dia, aplicação da tecnologia para facilitar a vida do usuário na ponta. Na própria Algar Tech, isso acontece com os bots, que se baseiam em inteligência artificial. A gente vai falar hoje da tecnologia como um facilitador.
Sara: De fato. A botecnologia é usada não como um fim, mas como um meio pelas empresas. Na Algar Tech, por exemplo, todos os bots são baseados em inteligência artificial, como você disse. Mas veja que interessante — uma pesquisa publicada pela (inint) [00:02:20] mostrou que 72% dos diretores americanos querem usar inteligência artificial não apenas para usar, mas para dar vantagem competitiva para os seus negócios. Entendeu a ideia? É usar a tecnologia a favor do negócio, e não apenas para dizer que está usando. Esse é o espírito, tecnologia é meio e não fim.
Cassio Politi: Tecnologia é meio e não fim. Fique com essa frase na cabeça porque ela vai pautar a conversa com nosso convidado. Para a edição de hoje do Think Tech, eu tenho o prazer de receber o Leandro Marçal, que é CTO e COO do Banco PAN. Isso significa que ele cuida de tecnologia e de operações do Banco PAN. Ele tem 1 mil pessoas abaixo de si, o que significa, mais ou menos, um terço dos colaboradores do banco. Ele trabalha com toda a tecnologia em prol do banco. Lembra da história de que tecnologia é meio e não fim? É isso aí na prática no Banco PAN. Curiosamente, anos atrás, a tecnologia era uma área incipiente; hoje tecnologia é uma área core no Banco PAN. Leandro, é um grande prazer tê-lo aqui. Muito obrigado por aceitar o convite e participar aqui do Think Tech com a gente hoje.
Leandro Marçal: Obrigado. O convite foi muito legal. A gente trocou figurinhas, se conheceu, e estou muito feliz de estar aqui dividindo um pouco da nossa jornada e um pouco do que a gente acredita com vocês.
Cassio Politi: É uma honra tê-lo aqui. A gente sabe que o Banco PAN é um banco que nos últimos anos se modernizou demais. Hoje quem acessa qualquer atividade do banco, como apps, site, e conhece minimamente o Banco PAN, sabe que é um banco muito baseado em tecnologia. Vocês têm toda a operação baseada… especialmente no app. Você abre uma conta por ali, pede um cartão por ali. Qual é o papel da tecnologia hoje na operação do banco?
Leandro Marçal: Eu cheguei ao banco faz aproximadamente um ano. Eu estava há 13 anos em uma outra instituição financeira no mercado. Aprendi muito lá. Recebi um convite para vir tocar a tecnologia. O investimento em tecnologia tem crescido muito dentro do PAN. Para colocar mais ou menos números, em dezembro do ano passado a gente tinha mais ou menos 300 pessoas no time. Hoje a gente está falando de aproximadamente 650, com mais 70 vagas abertas. A gente está em um crescimento muito forte não só de pessoas, mas também do volume financeiro investido, porque a gente acredita muito que tecnologia é um driver estratégico para o banco. A gente acredita nisso não só porque é um quesito banco, acionista, estratégia, mas é o que os nossos clientes estão pedindo. A gente precisa cada vez mais usar a tecnologia para abstrair as complexidades da vida dos clientes e, na brincadeira do one click, clicar uma e resolver a vida do cliente, independentemente se está querendo contratar um cartão, como você disse, se está querendo contratar um empréstimo, ou se simplesmente está querendo um problema que ele tem junto com a gente. A gente encara a tecnologia no PAN como habilitadora de uma vida mais fácil, habilitadora de entrega de valor para nosso cliente. Lógico, se o cliente está feliz, a gente sabe que está muito feliz também, e é natural, um espiral muito positivo entre cliente e banco.
Cassio Politi: Tem aquele conceito da tecnologia para dentro ou para fora. No fundo, está falando da jornada do cliente. Como é esse conceito visto aí por vocês? A tecnologia não deveria ser um fim, é um meio.
Leandro Marçal: Sim. Isso é uma coisa que eu falo muito com a turma aqui. Você tocou em dois pontos. O primeiro é — não adianta nada a gente desenvolver uma megatecnologia avançada e muito complexa, etc., para resolver um problema que a gente consegue resolver com uma coisa simples ou com uma planilha Excel ou alguma coisa muito tranquila que não exige tecnologia de forma intensiva. A tecnologia é meio, na nossa opinião, para alcançar algum objetivo e entregar valor para o cliente, atingir um objetivo dentro da área de negócio, habilitar novos produtos na prateleira. Sempre vai ser meio. Quando você fala da tecnologia para dentro, minha jornada com operações começou há aproximadamente cinco meses. Quando eu conheci o dia a dia da operação do PAN… eu já tive a oportunidade de conhecer o dia a dia de outras operações de instituições financeiras. A gente, como companhias, empresas, e o PAN está contido no grupo, faz muito investimento no produto, muito investimento na venda. A gente agora está passando a fazer um investimento muito grande também nesse digital para dentro, que é uma coisa que eu repito com bastante frequência para a galera. Por que fazer o investimento do digital para dentro? Por que digitalizar nossas operações? Quando a gente olha para dentro, quando a gente está com uma operação digitalizada, a gente está diminuindo risco porque está tirando um monte de processo manual ou procedimentos operacionais, a gente está aumentando eficiência porque dá muito mais escala, a gente consegue fazer muito mais com um investimento menor e, no final do dia, a gente está atendendo melhor o cliente. Por que a gente está atendendo melhor o cliente? Quando o cara está feliz — a gente chama de caminho feliz quando não tem nenhum problema acontecendo com ele — é natural que ele vá acessar o app, fazer uma contratação, fazer um pagamento. E quando dá problema no pagamento da fatura? E quando ele tenta acessar o cartão e não consegue? E quando ele tem um problema para resolver no caminho triste? Quando tem um caminho triste, é muito normal que o cliente tenha que entrar em contato com a gente não só aqui no PAN, mas em todas as instituições. Se a gente conseguir fazer a jornada do digital para dentro, naquela brincadeira de abstrair a complexidade da vida do cliente, o ideal é colocar na mão dele para ele resolver o problema e não precisar ligar para a gente, não precisar de uma ação dentro do PAN ou dentro de qualquer outra empresa que vai exigir que alguém olhe, análise, faça algum pedido interno, passe a demanda de operação para a tecnologia do back office, aquela malha que existe dentro até mesmo de empresas menores. Quando eu brinco com o digital para dentro, é como se digitalizar para dentro para ter um atendimento muito melhor para fora quando tiver um problema, garantindo que a gente vai reduzir o risco e ter uma eficiência maior. Eu gosto muito do conceito de digital para dentro porque acredito muito nele. Eu tenho aprendido muito nessa jornada de operações o quanto a gente consegue, ao ser digital para dentro, melhorar a vida do cliente lá na ponta também.
Cassio Politi: Estou pensando aqui — isso quer dizer que o profissional de TI acaba se tornando também um professor de UX ou algo do gênero?
Leandro Marçal: Eu acredito bastante no conceito de times multifuncionais com seus especialistas. Quando eu olho para o digital para dentro, aqui a gente está fazendo exatamente isso, mapeando a jornada dentro do banco para resolver um problema, a gente está fazendo uma análise do que eu consigo jogar na mão do cliente; o que eu não consigo jogar na mão do cliente, a gente tem um time de UX aqui que faz um suporte fantástico, bota muito conhecimento na mesa — qual deveria ser a jornada do operador, qual deveria ser a jornada do back office, que tipo de informação ele precisa ter, que tipo de informação ele precisa ter poder de mudar, por exemplo, ou quais são as ações que ele poderia fazer para a gente conseguir matar o problema do cliente muito rápido, no sentido de resolver o problema de forma pontual para depois a gente abrir um backlog para a tecnologia resolver o problema de forma definitiva, porque normalmente os problemas estão em tecnologia, em alguma ação não esperada. Quando você fala do UX, do para dentro e para fora, é muito famoso o design UX para fora: “nossa, a telinha ficou legal, está muito diferente, usabilidade, acessibilidade, atendendo todos os públicos”. Mas, quando a gente olha para dentro, não é um movimento muito comum, e é o que a gente está fazendo aqui, colocando os times de UX, que estavam muito acostumados a pensar só no app, só na landing page, só no site, e assim por diante, para olhar para dentro de casa e falar: “como eu também faço nossos colaboradores terem uma experiência muito legal e resolutiva da forma mais rápida possível para nossos clientes?”. Isso muda o jogo, é muito legal.
Cassio Politi: Eu fico pensando — quando você faz uma imersão na vida do cliente, esse é um conceito de buyer personas ou de user personas… não sei se você sabe — hoje é muito comum falar de buyer e user personas —, mas isso nasceu com um colega seu, nasceu com o Alan Cooper, no livro The Inmates Are Running the Asylum — tradução livre: os loucos estão tomando conta do manicômio. Tem esse livro por aí ainda hoje, se der uma busca, mas é um livro que revolucionou a forma de buscar o jeito de olhar para o seu público. Como se faz isso, na visão do Alan Cooper, um cara de TI? Estudando justamente o comportamento do seu público. Ele fez isso de uma forma muito empírica no começo. Ele primeiro começou a fazer isso com os colegas de trabalho dele, depois acabou criando um método para fazer isso com seus usuários, quando ele estava desenvolvendo uma aplicação que seria até futuramente usada como uma das bases do Windows. Eu dei essa volta toda para contar que a coisa de personas, de que se fala muito hoje, nasceu mais ou menos como você está falando, tecnologia para dentro e para fora. Eu queria lhe perguntar — quando você faz essa imersão na jornada do seu cliente, você acaba descobrindo coisas novas que mudam o que você tinha como premissa no começo? Com que frequência isso acontece? Quanto muda o que você tinha em mente? Quanto você desvia do que você tinha em mente como ideia para ser executada?
Leandro Marçal: Vou contar um pouco do que aprendi da jornada do PAN. Para a gente chegar ao que tem hoje, por exemplo, de app disponível para os clientes, teve muita pesquisa, e a turma foi muito a campo. Os designers no PAN têm uma função muito estratégica também, pesquisa. É engraçado, até saiu uma matéria no Valor hoje, o Diogo, diretor do banco digital, citou. Isso que a gente tem hoje foi o vigésimo protótipo que a gente fez. A gente começou com um conceito mais minimalista, um conceito mais enxuto, e a gente começou a fazer as pesquisas, começou a ir a campo, viajou o Brasil inteiro, prototipou durante a viagem, voltou com as pessoas que deram as opiniões. O que é o Banco PAN no fim do dia? É o banco em que a gente foca nas classes C, D. É o nosso público. A gente quer trabalhar com esse público, trabalhar com o Brasil. A gente tem essa aspiração muito forte, é o que a gente busca. A gente viajou o Brasil inteiro para ver o que o brasileiro que está trabalhando um monte quer receber. A gente viu que não tinha nada de minimalista, e uma coisa um pouco mais acolhedora, mais quente, e não uma coisa frita, direta. A gente tentou montar essa versão atual, que mudou tudo depois de 20 protótipos… até mesmo as nossas cores de marca, o coral, que era uma cor muito forte e presente, até isso a gente diminuiu um pouco junto com o time de marketing. A gente foi entendendo um pouco da aceitação do nosso público e das personas que a gente quer atingir, frente ao que a gente estava imaginando. A gente faz muita pesquisa, é um papel muito relevante do nosso time de design. A gente não tem vergonha nenhuma de mudar. Isso é um item muito forte aqui. Se as pessoas com quem a gente quer conversar não estão querendo conversar na língua A, e eles querem conversar na língua B, a gente tem que se adaptar à língua B, porque são essas pessoas que a gente quer atender, conviver. Faz parte do aprendizado a mudança. A gente mudou muito, mudou bastante.
Cassio Politi: Está mais fácil hoje? A cultura de TI já está mais nessa direção? Não estou falando especificamente da sua equipe, dos seus colegas, e sim do mercado de uma forma geral. Está mais fácil o profissional de TI aceitar que uma pesquisa ou informações externas vão apontar para uma direção diferente do que ele tinha em mente? Ou ainda existe resistência na hora de dizer: “o que você tinha em mente vai ser diferente, agora a gente tem uma informação de pesquisa, de consultor, de alguém que aponta para outra direção”. Como está isso? Porque demanda humildade nessa hora. Como está hoje isso?
Leandro Marçal: Para mim, está mais fácil. Eu estou falando do mercado de uma forma geral, colegas de fora do banco, até de outras indústrias. Acho que tem indústrias que são mais suscetíveis a tentativa e erro, a mudanças de rotina. Indústria/porte de empresa influencia muito, na minha opinião. Mas eu vejo que é um caminho sem volta. Está todo mundo indo nessa direção. A gente não tem mais, entre aspas, os cabeças-duras que falam: “vai ser do meu jeito, não vou mudar nunca”. A gente tem vivido experiências que provam que a não adaptação ao que o consumidor, o público, o cliente esperam, e com o mercado tão aberto e concorrido, falando especificamente do mercado financeiro… a gente não tem por que não atender expectativas em fatos e dados, não tem por que não mudar. Se você não mudar, alguém vai mudar, capturar aquele público e atender melhor aquele cliente. No final do dia, eu colocaria a mudança, a adaptação e a transformação como quesitos de sobrevivência. Sim, o investimento em tecnologia é importante, mas passa também por uma cultura de adaptação, uma cultura de inovação e entendimento do que os clientes querem e precisam. As necessidades mudam ao longo do tempo, então a gente tem que mudar as soluções que a gente provê. Está todo mundo nessa jornada de transformação constante e de atendimento dos clientes da melhor forma possível.
Cassio Politi: Lembro que o Banco PAN tinha muitas lojas. Até por ser um banco focado em público de renda mais baixa, e se posicionou assim, você via no centro da cidade, em alguns bairros específicos, aquelas lojinhas do Banco PAN e atendimento físico captando clientes com muito sucesso. De que forma isso foi trabalhado, especialmente durante a pandemia? Obviamente, a operação física foi varrida durante a pandemia. Como isso foi trabalhado? Como a tecnologia ajudou nesse sentido durante a pandemia?
Leandro Marçal: Eu cheguei aqui na pandemia. Quando eu cheguei, a gente tinha nossas filiais, lojas ou agências — o nome que o público quiser —, e a turma estava toda em casa. Para garantir o protocolo de saúde da turma, em respeito à turma das filiais, eles estavam todos em casa, a gente estava pagando aluguel e estava com todas elas fechadas fisicamente. A gente não estava recebendo público. Ao longo da pandemia, a gente foi, baseado em dados, fazendo estudos, a gente de tecnologia deu uma provocada nisso, depois o time de operações também, porque tudo isso está na estrutura comercial hoje. A gente foi fazendo provocações com dados. A produção está indo bem, não teve queda, a gente está atendendo o público, a gente fez muita melhoria de atendimento durante a pandemia, seja em URA, seja em autoatendimento, em ferramentas para o cliente se servir, e a gente viu que os números estavam indo muito bem, tanto em produção — a gente continuou aumentando nossa carteira — quanto em atendimento. A gente deu uma olhada no custo: “essa galera está em casa, a gente não tem uma grande estimativa de volta ainda, a gente quer ter certeza de que está todo mundo vacinado”. A gente falou: “por que não trabalhar sempre no virtual?”. A gente fez essa provocação aqui dentro. Lógico, a gente fez contas, somos um banco, e viu que a conta fechou. Então faz sentido a gente continuar, porque de fato as filiais representavam um passivo muito grande, um investimento constante, e a gente tomou a decisão de encerrar as atividades presenciais, o que foi muito legal. A gente usou muitos dados, a gente de tecnologia fez provocações. Claro, a gente não faz nada sozinho. Junto com o time comercial, a gente comprovou que fazia sentido o movimento. Em aproximadamente 36 dias, a gente fez todos os trâmites, devolvemos todas as lojas, porque era tudo alugado, e a gente parou de ter um custo fixo no nosso orçamento e continuou evoluindo a produção de carteira e continuou evoluindo no atendimento. A gente continua fazendo investimentos. A gente teve a oportunidade de intensificar investimento em plataforma para dar uma flexibilidade maior ainda para a turma que estava nas filiais e também para aumentar a produção com mais dado estatístico e mais tecnologia. Ao mesmo tempo, a gente aumentou o investimento em atendimento no lado de tecnologia. A gente está revendo nossa estratégia de plataforma, está fazendo modernização para cloud. No final do dia, a conta fechou muito porque a gente continua crescendo carteira e continua melhorando o atendimento ao cliente mesmo sem ter as lojas físicas. Isso foi um case bem legal dentro do PAN. Mais uma vez, a tecnologia como meio para alcançar o objetivo de continuar aumentando a produção do banco e continuar atendendo melhor nossos clientes. A gente conseguiu, não necessariamente, fazer uma redução de custo porque a gente fez um reinvestimento, mas um reinvestimento mais inteligente, focado em tecnologia, habilitando novas capacidades para a turma de negócios e clientes.
Cassio Politi: Para a gente fechar aqui — tecnologia é basicamente pessoas, a habilidade está nas pessoas. Claro, é mais do que pessoas, a gente sabe disso. Mas a habilidade das pessoas é crítica. Com todo mundo que eu conversei na área de TI, existe uma preocupação generalizada, estão chamando de um novo apagão de profissionais, existe mais demanda por talentos do que oferta. Imagino que isso de alguma forma o preocupe ou o afete. Como você tem visto isso? Como você tem pensado ou equacionado esse desafio de muitas áreas e empresas baseadas em TI para reter os talentos que estão em casa e para adquirir talentos novos, atrair talentos novos, especificamente na área de TI?
Leandro Marçal: Como eu comentei, a gente mais que dobrou o tamanho do time de tecnologia este ano, e no começo não foi uma missão muito simples porque a gente não estava bem posicionado sobre o que era a tecnologia dentro do banco. A gente começou a construir uma jornada — não posso falar que a gente construiu porque a gente ainda está na jornada — de construir uma cultura de tecnologia dentro do PAN. Por onde isso passou? Passou por conseguir, sim, trazer algumas pessoas muito boas para formar nosso time. A gente trouxe uma turma de liderança bastante sênior que tem viabilizado muita transformação. Mas essa turma, junto com a turma que está presente com a gente, todo mundo… quando eu digo todo mundo, são até os analistas, os estagiários. Nós tivemos um trabalho de construção do que é a cultura de tecnologia do PAN. Todo mundo participou 100%. A gente fez uma dinâmica muito legal. A gente convidou bastante gente para falar com a gente aqui. A gente montou um case de treinamento baseado em guildas e trilhas de conhecimentos dentro de uma plataforma de treinamento dentro do banco. A gente está cada vez mais sendo um banco de engenheiros de software e não um banco de analistas funcionais, vou colocar assim. A gente está muito com tech na veia. A gente está se dando um desafio de ir falar mais com o mercado. Para se ter uma ideia, no ano passado a gente foi convidado para falar em dois eventos diferentes. Neste ano a gente já foi convidado para falar em 27 deles. Não é porque a gente está indo falar mais, mas é porque a gente consegue se comunicar e aprender com a comunidade de tecnologia. Criar esse ambiente de cultura tech faz com que essa retenção fique muito mais fácil. As pessoas não vão ficar aqui por conta de dinheiro ou qualquer coisa do tipo, porque a gente sabe que o mercado inteiro está muito agressivo e tem escassez de profissionais. A gente precisa criar, primeiro, um ambiente favorável de autodesenvolvimento para quem está aqui, para as pessoas terem a oportunidade de se desenvolver, de trabalhar, de aprender coisa nova, de ensinar coisa nova, de poder falar para o mercado, de ser uma agenda muito aberta que fechada. Quando isso começa a reverberar no mercado, a gente consegue se tornar mais atrativo também. A atratividade, na minha opinião, não começa na mesma linha da digitalização de dentro e de fora. A atratividade começa com a retenção. Ela começa em como criar um ambiente legal, um ambiente valorizado pelas pessoas que estão aqui. Aí, sim, eu consigo vender esse ambiente para fora. Não dá para vender um ambiente que não existe. A gente se tornou, na minha opinião, muito mais atrativo ao longo do ano. A gente começou contratando 20 pessoas no ano, e teve mês que a gente contratou 95 pessoas, em um mês só. A gente teve uma evolução bem legal. Mas é construir dentro e depois mostrar para fora, para contar o que a gente está fazendo. Uma coisa que a gente começou a fazer este ano e que não fazia — a gente lançou um bootcamp que deu bastante certo. A gente lançou 1 mil bolsas de estudo no mercado. Esse bootcamp está rolando, já foi o processo seletivo. Nossas metas de inscrições eram de mais ou menos 10 mil, o antigo target mais alto, era o máximo que a IGTI, nossa parceira, tinha alcançado, e a gente alcançou 20 mil inscrições. A gente lançou agora o PAN Academy, mais focado em 100 pessoas. A gente está indo em 100 pessoas porque vai ter uma carga dobrada de horas de estudo. A ideia que estou contando é que a gente está fazendo a formação de quem está aqui dentro nas tecnologias que a gente passa a desenvolver, porque a gente definiu uma nova stack de tecnologia. Isso está contido em modernização e atratividade. Mas a gente também está buscando formar pessoas no mercado, e a gente sabe que não vai absorver, por exemplo, essas 1 mil pessoas do bootcamp, a gente não tem 1 mil vagas hoje. Mas o mercado precisa de formação, e a gente consegue casar a formação de pessoas que não têm necessariamente formação ou uma carreira estabelecida e que vão conseguir um emprego legal… e, se estudarem e se esforçarem, vão ter uma agenda de desenvolvimento bem positivo, porque a gente sabe que tem muito espaço para crescer dentro do mercado de tecnologia, independentemente da indústria, e não só na indústria financeira ou qualquer outra indústria. A gente acredita nesse mix de formação dentro e ajudar na formação fora, e também trazer gente do mercado, visto o crescimento que a gente está passando.
Cassio Politi: Eu quero lhe agradecer muito por bater esse papo de forma tão aberta, tão didática. Uma delícia conversar com você. Volte mais vezes aqui. As portas estão abertas no podcast para você. Obrigado, Leandro.
Leandro Marçal: Cassio, mais uma vez, o prazer é todo meu. Estou à disposição, vamos manter contato. Essa agenda é uma agenda contínua. Estamos juntos. Obrigado.
Cassio Politi: Muito bem. Vamos chegando aqui ao fim do Think Tech de hoje. Mas, antes de me despedir de você, eu quero bater de novo um papo rápido com a Sara. Me conte uma coisa — é verdade aquela história de que você, a especialista virtual de negócios da Algar Tech, só absorve no seu cérebro eletrônico as informações muito friamente de um podcast como o de hoje?
Sara: No passado sempre disseram que máquinas não têm sentimento, mas eu vou me permitir questionar isso, porque eu senti um calorzinho no meu coração virtual quando Leandro falou do conceito de digital para dentro. Isso, para mim, tem a ver com ganhar cultura digital.
Cassio Politi: Está ok, você me convenceu. É só observar que os atendimentos virtuais estão cada vez mais humanizados, só que ao mesmo tempo a performance dos robôs vai impressionando cada vez mais. Em setembro de 2021, eu fui ao Content Marketing World, que é um evento que eu frequento nos Estados Unidos há dez anos, e conversei com o Paul Roetzer, que é um especialista em inteligência artificial aplicada ao marketing. Sabe o que ele me contou? Já existem robôs capazes de resumir livros inteiros em poucos minutos. E mais — esses robôs absorvem o conteúdo do livro como conhecimento e usam posteriormente essa informação para outra finalidade. Aí eu me lembrei de você, Sara, quando o Paul me contou desses robôs.
Sara: Deve ser algum primo digital distante. Vou treinar para isso.
Cassio Politi: Talvez, pode ser. É isso aí, então. Este foi o Think Tech de hoje. A gente se vê no próximo episódio. Até a próxima.