Cássio Politi: O Think Tech de hoje está no ar. Meu nome é Cássio Politi e, junto com a Algar Tech, nós vamos embarcar nessa jornada de repensar possibilidades. No episódio de hoje, a gente faz uma imersão em e-commerce. E já que o tema é comércio virtual, deixa eu falar com a Sara, a nossa especialista virtual em negócios da Algar Tech. Fala, Sara, tudo bem por aí?
Sara: Tudo bem, sim, no meu mundo digital, e com você?
Cássio Politi: Tudo bem também. Sara, o papo hoje é sobre e-commerce. E por que e-commerce é relevante? Porque comprar online já virou hábito no Brasil.
Sara: Já virou hábito e isso vai crescer, viu? A Associação Brasileira de Comércio Eletrônico prevê crescimento no número de pedidos em 2023. No total, devem ser feitos 395 milhões de compras via e-commerce nesse ano.
Cássio Politi: Pois é, as compras vão ficando mais amplas. Antes a gente só comprava algumas coisas na internet, tipo livro, alguns eletrônicos e uma outra coisa a mais. Hoje, você compra tudo: comida, roupa, ferramenta, acessório para o carro e celular, e por aí vai.
Sara: Você tem razão, tanto é verdade que o ticket médio deve subir. Em 2022, o valor médio de cada compra era de 460 reais e deve subir para 470 reais em2023.
Cássio Politi: Legal, Sara. Então vamos para o bate-papo aqui. Para a conversa de hoje, eu tenho o prazer de receber aqui no podcast o Luiz Figueira, que é Diretor-Geral de Desenvolvimento de Plataforma e Ecossistema da Nuvemshop, que você conhece, é a maior plataforma de e-commerce da América Latina. Ela permite que você abra a sua loja lá e comece a vender imediatamente; atende mais de 100 mil lojas, tem parceria com milhares de empresas, e isso inclui Facebook e Instagram, vários marketplaces, lojas físicas, e por aí vai. Mas olha: diferentemente do marketplace, na Nuvemshop o empreendedor tem a autonomia dele, ele controla tudo o que acontece no negócio dele, por isso a gente está vendo a Nuvemshop fazer o estrago que está fazendo no mercado, no bom sentido. Luiz, muito bom te receber aqui no podcast, obrigado por aceitar o convite para essa conversa de hoje.
Luiz Figueira: Obrigado, Cássio. Primeiramente, quero agradecer você pela disponibilidade e espero poder contribuir com tantos temas que são de interesse não só de líderes de tecnologia, mas também líderes de negócios, empresas que estão, de fato, mirando em (inint) [00:02:55], de alguma forma, o seu negócio atual, ou expandir, através do e-commerce, através de um modelo de negócio digital. É um prazer estar aqui com vocês hoje.
Cássio Politi: O prazer é nosso, Luiz. Dentro disso do que você falou, eu já queria começar até pegando um gancho por aí. Você fala que as empresas buscaram ser disruptivas, as empresas sempre buscam o diferencial, sempre buscam, de alguma forma, se adaptar ao cliente. Só que a gente fala “o cliente” e dá a impressão de que tem um ser lá, que é o cliente, que tem uma forma de atuação padrão, mas não é isso. Quem é o cliente? São muitos clientes, são muitos comportamentos, centenas, talvez milhares, se é que dá para mapear quantos, exatamente, são, na sua peculiaridade. Como se acopla uma plataforma do tamanho de vocês, do tamanho da Nuvemshop, à necessidade disso que a gente está chamando de cliente?
Luiz Figueira: Seria interessante, primeiro, trazer um pouco mais de contexto e detalhe sobre a Nuvemshop para a gente ter uma dimensão da complexidade, que vai se conectar diretamente com a sua pergunta. Nós escrevemos uma história de mais de dez anos com a missão de potencializar e motivar todos os empreendedores que querem transformar negócios em histórias que transcendem, esse é o primeiro ponto. E hoje isso se traduz em mais de 100 mil lojistas ativos na América Latina, mais de 50% localizados no Brasil; mil colaboradores; milhões de empregos indiretos gerados; e um valor de mercado de aproximadamente 3.1 bilhões de dólares. Obviamente, isso é ainda dentro de um contexto em que a gente tem diversos pilares, diversas unidades de negócio, que a gente estabeleceu para poder ajudar todos esses 100 mil lojistas. A gente tem o nosso próprio meio de pagamento, o Nuvempago; adquiriu a Mandaê, uma empresa de logística, para ter o nosso próprio meio de envio; em o Ecommerce na Prática, que também foi fruto de uma aquisição, é a maior universidade, em termos de conteúdo e educação, de e-commerce do mundo; e também, agora, a nossa plataforma Nuvem Next, que é focada em empreendedores grandes, em grandes negócios, onde a gente investiu mais de 30 milhões para desenvolver produto e plataforma, para endereçar a um público que fatura de dez mil até 100 milhões de reais por mês. E não para por aí, a gente também tem um ecossistema de milhares de parceiros: agências, aplicativos, afiliados, que se conecta com parte da minha resposta, que é a seguinte: quando a gente pensa numa perspectiva de plataforma de e-commerce, a decisão que a gente tomou há alguns anos foi a de se tornar uma plataforma aberta. Qual é a melhor analogia quando você pensa em necessidade de consumidor e o relacionamento desse consumidor com a sua plataforma de e-commerce para o seu negócio de e-commerce? Se a gente trouxer a analogia do smartphone, é basicamente a mesma. No final do dia, o smartphone que a gente possui (o Iphone ou um Samsung com Android) é uma plataforma que tem várias funcionalidades que foram desenvolvidas dentro deles, que resolvem diversas necessidades do nosso dia a dia. Eu vou dar um exemplo: eu utilizo muito a câmera do meu Iphone, eu utilizo a mensageria do meu Iphone, até alguns recursos padrões que já tem no Iphone, mas a realidade de vários consumidores e de lojistas que a gente tem hoje na região é de que não é suficiente você ter tudo dentro de um mesmo produto, e é aí que vem a palavra-chave ecossistema nesse conceito de plataforma aberta, ou seja: no final do dia, eu não utilizo o Iphone só pelo o que ele tem de padrão, eu o utilizo pelo ecossistema que existe atrelado a ele (WhatsApp, aplicativos de banking, de notícias). Quando a gente traz isso para uma perspectiva de que hoje existe um perfil de consumidor que é um perfil híbrido, do ponto de vista de relacionamento com canais, em relação a necessidades de [00:06:43], entre outros, a gente consegue entender que não existe uma bala de prata, do ponto de vista de ter tudo na mesma plataforma, de ter todas as abordagens no mesmo negócio, e o desafio está em quê? Em garantir que você consegue se conectar com esse ecossistema gigantesco que existe – quando a gente entra em mais detalhes aqui, temos os canais de vendas, mídias sociais, ferramentas de marketing -, para poder se adequar ao perfil do seu cliente na ponta, que eu acho que é um ponto em que a gente pode entrar em mais detalhes de como mapear isso, de como entender e de como se aprofundar também, nessa jornada do seu cliente, do seu consumidor. Mas um ponto chave é que: mais do que nunca, hoje uma plataforma de e-commerce, um negócio digital, tem que estar muito aberto e se adaptar de forma muito rápida a esse ecossistema, porque não era que nem dez anos atrás, cinco anos atrás, que se ecossistema crescia de forma lenta e até linear. Hoje é muito rápido. A gente vê plataformas de mídias sociais diferente surgindo todos os dias, ou outras formas de você se relacionar, outros canais de venda, ou seja, é muito complexo, então você precisa ter esse aporto – a nível de plataforma, obviamente -, para conseguir essa flexibilidade. Isso junto, obviamente, a um trabalho de conhecer o perfil do seu consumidor na ponta: como ele se relaciona, que conteúdo que ele consome, enfim, diversos datapoints, tem diversos pontos de jornada que a gente consegue entender para começar a mapear, e aí se adaptar a esse ecossistema, ou se integrar a esse ecossistema, para entregar a melhor solução no final do dia para o cliente.
Cássio Politi: Perfeito. Então, a tecnologia exerce um papel fundamental, pelo que eu entendi. A tecnologia como meio, e não como fim. Você diria que a tecnologia é o core do que a Nuvemshop faz hoje?
Luiz Figueira: É core, com certeza. A gente é, de fato, uma empresa de tecnologia, então está no nosso DNA. A propriedade intelectual que a gente construiu, que é a plataforma de e-commerce e a abertura dela para esse ecossistema, é, de fato, o nosso motor de crescimento, porque boa parte do que a Nuvemshop cresceu até hoje foi por conta de focar em um público que é o empreendedor, o SMB, na ponta. A gente teve que escalar de uma forma muito automatizada, por assim dizer, e isso exige que você tenha tecnologia como o principal alicerce do seu crescimento. Agora, que a gente expande para negócios maiores, como a plataforma Next, a gente também coloca uma camada de serviço que é importante, seja para customizações, seja para dar um melhor nível de atendimento, ou para trazer soluções diferenciadas para esse segmento, que é um segmento diferente, por isso eu comentei sobre a complexidade. Você tem negócios que estão começando, que às vezes é uma pessoa que está vendendo no marketplace, ou está vendendo pelo WhatsApp, e ela quer dar um próximo passo, ela quer se conectar diretamente com o seu cliente, que é o que a gente chama de D2C (direct to consumer), que, no final do dia, é o relacionamento entre marca e consumidor. E às vezes ela não tem todas as ferramentas para fazer isso a partir de um marketplace, que é um canal super importante, a gente o fomenta dentro do contexto de plataforma de e-commerce e também nas mídias sociais. Então onde ela consegue canalizar tudo isso de fato e começar a criar, de fato, essa relação? Numa plataforma como a Nuvemshop. Isso é para um público menor, que é aquela pessoa que está começando a jornada, mas quando você parte para um negócio que já está em expansão, o negócio mais maduro tem outras necessidades, talvez é integrar com mais canais, talvez melhorar a abordagem do ponto de vista de como ele atrai e retém clientes. Isso exige que não só produto e tecnologia entrem como atores principais da jornada desse lojista, mas também que você tenha uma camada de serviço para poder orientá-lo em termos de estratégia de um negócio digital. Então, sim, tecnologia é um core, mas não deixa de ser o meio e o complemento, também, a um todo que está relacionado em diferentes esferas, tanto para esse público de lojistas menorzinhos, que estão começando, que estão dando um primeiro passo, até um lojista maior, que está faturando milhões por mês.
Cássio Politi: E qual é o grande desafio? Eu fico pensando aqui que a tecnologia é muito comoditizada hoje, a gente já teve uma fase de barreira, “putz, eu não sei como eu faço isso, mas a partir do momento em que eu descobrir como eu chego a esse ponto, eu vou ter uma vantagem competitiva”. Hoje não, hoje todo mundo tem mais ou menos o mesmo acesso à tecnologia – claro, estou falando a partir de um certo nível de empresa. Qual é grande desafio, então, como plataforma? A tecnologia representa um desafio ou, no fundo, entender melhor esse consumidor, assessorar melhor esse cliente que vai tentar vender melhor por meio de vocês? O que tira mais o seu sono ao longo de um ano?
Luiz Figueira: Tem duas dimensões que a gente precisa continuar investindo sempre, e acho que isso se aplica para quem desenvolve plataforma de e-commerce, ou para quem está na ponta, consumindo uma plataforma de e-commerce, ou até mesmo se relacionando a nível de consumidor. Tem o primeiro bloco, que é tecnologia de fato, e você bem comentou: todo mundo tem acesso à tecnologia. Isso é uma verdade, mas tem o como você utiliza essa tecnologia, que me parece ser um fator de sucesso. Em relação ao quê? Como eu desenvolvo em cima de uma determinada tecnologia, para ser mais adaptável, para estar antenado e reagir rápido às mudanças de mercado? O como você aplica a tecnologia no final do dia para desenvolver a plataforma como a nossa faz parte da fórmula de sucesso, para você garantir que tenha sempre uma plataforma que esteja próxima ou superior às demais do mercado. É o que você comentou: todo mundo tem acesso à tecnologia no final do dia. Como você utiliza, ou seja, a velocidade que você desenvolve, que você reage a mudança, que você escuta, ouve, de fato, o seu consumidor – que, nosso caso, é o lojista -, para se adaptar, acho que é aí onde mora o segredo, isso por um lado. Depois tem uma frente de serviço mesmo, que é complementar. Às vezes a gente comenta muito sobre tecnologia, e, de fato, ela é importante para a gente, é o nosso core, é o nosso DNA hoje em dia, mas quando você olha para uma outra vertical de serviço, e aí você vai para um segmento mais empresarial, mais enterprise, é difícil você só ter a tecnologia como a principal alavanca de crescimento. Você pode imaginar qualquer produto para um segmento enterprise, geralmente você vai precisar ter uma camada de serviço para poder crescer, ou para poder auxiliar melhor aquela empresa, porque ela é muito grande, ela tem complexidades, tem customizações. Então, sozinha, a tecnologia não consegue endereçar todos os casos de uso que aquela grande empresa vai ter, ela precisa colocar uma camada de serviço, que aqui a gente pode entender como serviços profissionais, de desenvolvimento, entre outros. Esses dois pilares me parecem que, de fato, eles são muito expressivos quando a gente fala de diferencial, ou de desafio, num contexto de desenvolver uma plataforma.
Cássio Politi: Luiz, você falou dessa customização. Eu imagino que a experiência personalizada hoje seja uma expectativa que a gente tenha. Claro, está um pouco distante do mundo de vocês, e do meu mundo também, pensar uma tecnologia de uma Netflix da vida, mas ela acostumou a gente muito mal, a gente começa a ter referências, na Netflix e no Youtube, de que tudo o que eu vou fazer ali está feito sob medida para mim, tem recomendações sob medida, e por aí vai. Como vocês fazem, então, para orquestrar esse ecossistema todo, fazendo com que você consiga, no fim do dia, trazer uma experiência personalizada para quem está dentro da plataforma?
Luiz Figueira: Aqui eu vou dividir em dois pontos principais. Tem o primeiro, que é a gente mirando o lojista, o lojista que está, de novo, desde a etapa de começar no e-commerce, até o lojista que é maior e está em expansão, e é um grande negócio e fatura milhões, como eu comentei anteriormente. Nessa vertical, o que a gente faz e aplica diariamente é entender as dores desse público, isso através de pesquisa, através de entrevista e catalogando as problemáticas que eles possuem na utilização da nossa plataforma. E a gente é muito diligente em fazer isso. Eu posso destacar que das diversas experiências que eu tive, essa é uma das que a gente faz de forma mais profunda, esse entendimento das dores dos lojistas em relação ao uso da plataforma. E essas dores vão de encontro a coisas que a gente desenvolve dentro de casa, que são as features padrões do nosso produto, até o uso do ecossistema. Por exemplo, vamos supor que surgiu uma solução de live commerce, que é uma tendência, que é expressiva em relação a resolver necessidades dos nossos lojistas, porque ou eles vão conseguir vender mais ou reter melhor os clientes deles, e a gente entende isso e integra na nossa plataforma. Essa é uma primeira abordagem, ou seja, entendimento de cliente é um dos desafios maiores que a gente, e outras empresas, possui em relação a evoluir a plataforma ou os seus produtos digitais. E essa é uma primeira forma com a qual a gente ataca isso para ajudar o lojista, ouvindo ele, entendendo essas problemáticas e enderençando isso ou dentro de casa, em features nativas do nosso produto, ou indo até o ecossistema, porque é mais rápido de você construir essas integrações do que desenvolver tudo dentro de casa. E esse é um ponto muito importante de uma estratégia de uma plataforma aberta, porque você tem que possuir a fundação, o core de fato, que vai sustentar as principais jornadas desse universo diferente de clientes que a gente possui, mas no final do dia é muito importante você ter a plataforma aberta para poder recepcionar qualquer solução que talvez você não tenha todo o conhecimento para desenvolver isso, tem que ser muito rápido. Então tem estruturas da Nuvemshop hoje, de produto, e estruturas comerciais de parcerias, que recebem essas demandas e, de fato, procuram no mercado as melhores soluções, isso sem falar nas soluções que vêm até a Nuvemshop também e querem se integrar conosco. Então tem essa primeira dimensão de lojista, que é super crítica quando a gente pensa em desafio, em customização, em personalização para esse segmento: lojista. Depois tem o consumidor, que, de fato, é para quem o lojista está vivendo todo dia, é o consumidor dele na ponta, e ele é uma parte vital da plataforma, da experiência da plataforma, porque é ele quem está consumindo, é você quem está indo lá colocando o produto no carrinho, fechando a sua compra. Aqui a gente também tem diversos exemplos em que, além de a gente ouvir e entender problemáticas dos nossos lojistas, a gente também entende e ouve problemáticas de consumidores que estão se relacionando com a nossa plataforma. Um exemplo bem pragmático disso é o lançamento que a gente fez do Nuvem Pay, que é uma solução de checkout, que aumentou em 24% a velocidade com que os clientes fecham os pedidos dentro de uma plataforma, porque já tem todos os dados de pagamento armazenados. Isso é algo que a gente fez mirando na experiência do consumidor, mas quando você vê no final do dia, tem um impacto substancial para o lojista, porque significa mais venda, eu estou fazendo mais aquisição para ele, melhorando a retenção para ele na ponta.
Cássio Politi: Você falou do consumidor como essa segunda dimensão, como você chamou. Eu acho que a gente vai cair muito em cima da jornada do consumidor. De novo, a gente pensa em jornada, eu adoro quando vejo o desenho da jornada do consumidor, mas eu fico meio perplexo também. Essa jornada é estática? A gente está falando de uma coisa que necessariamente parte do ponto A e vai para o ponto B, daquele jeito que está desenhado? É uma jornada estática ou não?
Luiz Figueira: Eu acho que depende muito do nível de abstração, porque quando a gente pensa em grandes blocos, do ponto de vista de gerar (inint) [00:18:41], gerar ciência para o consumidor de que você existe, fazer aquisição, depois fazer a retenção, é muito macro. Talvez seja mais estático na forma como você organiza isso, nesse nível de abstração. Entretanto, quando a gente vai quebrando isso para detalhes, a nossa visão é a de que ela é evolutiva, de fato. Alguns exemplos: hoje eu me relaciono com determinadas marcas diretamente pelo website da marca, pelo e-commerce da marca. Eu compro pelo e-commerce do meu dispositivo celular, ou do desktop. Mas eu já tive experiências em que primeiro foi um contato meu com a marca a partir do e-commerce e depois eu fui para a loja física, por exemplo, como um passo natural. Ou o contrário, você começa na loja física, ganha confiança em relação à variedade de produto, a atendimento, a serviço, e depois já cria um vínculo, em que você vai, talvez, continuar um relacionamento com aquela marca a partir do e-commerce, do website. Então, na minha visão, é dinâmico, de fato é evolutivo, e o ponto é: como você acompanha e está próximo do seu cliente para garantir que você está mapeando esses desvios de comportamento, essa evolução do comportamento do seu consumidor? Isso a gente faz com o quê? Com dados. A vantagem, mais do que em qualquer outro momento na história, é que o segmento de negócio digital e as ferramentas que você tem hoje, o ecossistema que você tem hoje, te permite te conectar diretamente com esse cliente e começar a ganhar dados em relação à jornada dele, seja do momento em que ele entrou no seu site e vai começar a procurar um produto, vai colocar ali na busca, ou vai começar a fazer filtros, até o momento em que ele fecha a compra, e depois, quando ele volta para comprar de novo, dependendo de como você o sensibiliza. Ou seja, a gente tem muitos dados hoje. Se a gente trabalhar com as ferramentas que estão à disposição, como a própria Nuvemshop e o ecossistema que tem ao redor dela, e conseguir garantir a extração, a captura e o mapeamento essa evolução, a gente vai ser muito mais assertivo na forma como a gente faz adaptações no nosso produto, plataforma e negócio, para atender melhor esse cliente e dar uma melhor experiência. Na minha visão, depende do nível de abstração, porque se você abstrai muito, você tem uma jornada em grandes blocos que são muito naturais para qualquer tipo de negócio (aquisição, retenção, etc.), mas quando você começa, de fato, a detalhar e se aprofundar, você começa a encontrar lugares onde isso vai mudar, onde tem um dinamismo muito maior na forma como você se comunica com o seu cliente, na forma como você o sensibiliza para ganhar mais lealdade. Esse é um pouco da visão, Cássio.
Cássio Politi: Você observa diferença entre os lojistas que estão com vocês, por exemplo? Tem uma correlação de tamanho do negócio para grau de desenvolvimento dessa análise do cliente? Deixa eu traduzir isso numa coisa mais fácil. O grandão acessa mais os dados, olha mais e entende mais a jornada do que o pequeno, ou não é uma relação do tamanho da empresa, e talvez um outro aspecto, um grau de familiaridade com dados e tudo mais? A pergunta é: tem correlação entre tamanho e grau de apuração do cliente?
Luiz Figueira: Parece-me que tem um ponto relacionado com a maturidade, a maturidade de quem está liderando o negócio como um todo. Obviamente, se a gente correlacionar maturidade com o tamanho de negócio, sim, é uma verdade que clientes mais maduros, com negócios maiores, sentem uma necessidade de explorar cada vez mais os dados, para que eles gerem entradas, feedbacks para fazer qualquer ajuste no fluxo que eles possuem hoje com os seus clientes, seja para adquirir mais clientes ou para reter melhor os clientes existentes. Isso por um lado. Mas por que eu comento de maturidade, não só correlacionada ao tamanho de negócio? Porque a gente vê lojistas que são menores, que mesmo que estejam começando no e-commerce, colocam muita energia em realmente se capacitar e fazer esse aprofundamento, não só nos dados que eles estão coletando nesse começo de jornada no e-commerce, por exemplo para entender onde o cliente dele está, se está só na mídia social – então ali vai ser o principal ponto por meio do qual ele vai se comunicar -; quanto tempo leva para um cliente dele, por exemplo, fechar uma determinada compra. Então, eu acho que depende muito do quanto de energia que está sendo investida e em você conseguir capturar e processar esses dados da jornada do seu cliente. Obviamente, negócios mais maduros que tenham uma correlação com negócios maiores e mais complexos tendem a fazer isso com uma maior diligência, com um maior aprofundamento, enquanto que negócios que estão apenas começando ainda têm uma jornada significativa, até para conseguir capturar mais dados e estabelecer uma presença no meio digital, que, de novo, não é só o website, o meio digital é a mídia social, marketplace e outros canais que estejam disponíveis. Então, parece-me que tem, sim, essa correlação no final do dia. Os maiores inclusive precisam se aprofundar, porque às vezes eles têm uma escassez de: “qual é o meu próximo movimento?”, “qual é a próxima tacada que eu vou dar que vai realmente mexer o ponteiro do meu negócio?”. Se ele não fizer esse aprofundamento, ele fica muito limitado, ele tem pouco espaço de manobra. Por isso eu comentei que, talvez para um negócio maior, a tecnologia e o produto são essenciais, mas aí entra uma camada de serviço de inteligência, que é muito importante, que é um protagonista em como ajudar esse grande negócio a expandir ainda mais, e você tem, realmente, que ter um aprofundamento maior.
Cássio Politi: E o pequeno tem uma barreira para chegar lá? Eu entendo que você fala de maturidade e tamanho, mas tem uma barreira cultural, do tipo: “eu não olho para os dados, eu não sei nem como faz para olhar”? A gente vê isso em outros mercados às vezes, existe um bloqueio de: “acho que dados são para os outros, para mim não, para mim acho que não se encaixam”. Esse perfil acontece, ele vai diminuindo, é um perfil permanente de lojista? O que você observa?
Luiz Figueira: O que a gente observa é que não é uma barreira cultural, mas é educacional, ou seja, existe um gap, a nível de educação, para quem está começando, que geralmente é substancial para a pessoa ter, ou não, sucesso. Por isso que eu comentei do Ecommerce na Prática, que hoje é a maior universidade de e-commerce do mundo, como um pilar importante quando você pensa, por exemplo, em escolher uma plataforma de e-commerce? Eu tenho alguém que vai aportar valor em relação a eu consumir conteúdo, eu aprender como eu deveria lidar com determinadas facetas do meu negócio, dentro de um contexto digital? Educação me parece um pilar muito significativo hoje quando você mira esse público de SMBs ou de entrepreneurs, pessoas que, de fato, estão começando no negócio digital, porque é muita informação. O desafio que eu enxergo hoje, para quem está começando, é como conectar todas essas pecinhas do Lego, que eu chamei aqui de ecossistema, porque é muita coisa que tem surgido, não só no aspecto de mídia social, onde geralmente a gente coloca muita ênfase, mas tem milhares de ferramentas de gestão, de marketing, de canais de vendas, de pagamentos, de logística. Ou seja, no final do dia, a forma como uma pessoa que está começando tem para conseguir orquestrar isso muito bem é se capacitando, é se educando; e, numa outra esfera, que também é importante ser considerada, é buscando assistência também. Por exemplo, dentro desse ecossistema que eu comentei como você, a gente tem agências hoje que prestam serviços, são especialistas no segmento de e-commerce e podem, também, auxiliar esse pequeno que está começando, sem necessariamente ter um dispendimento de investimento muito alto. Então, tem esse balanço entre capacitação, que é constante para qualquer negócio, do meu ponto de vista, é algo que não para, e a gente sabe que isso se aplica a várias dimensões da nossa vida, tanto profissional quanto pessoal; e, do outro lado, eu tenho uma camada de serviço também, que é: essa pessoa que está começando, tem coisas que eu acho que ela vai conseguir fazer super bem, mas tem outras que ela vai precisar pedir auxílio. Pedir auxílio aqui precisa da garantia de que você está num contexto em que está usando uma tecnologia, ou uma plataforma de e-commerce, e tenha esse ecossistema preparado para te auxiliar naquele momento, seja você um pequeno empreendedor, que está começando e dando os seus primeiros passos agora, até um negócio muito maior, com uma musculatura muito mais rígida, que aí precisa de um outro amparo para continuar expandindo o seu negócio.
Cássio Politi: Legal, Luiz. Quero te agradecer muito pelo papo. Acho muito interessante ouvir de vocês, da Nuvemshop, esse gigante, como vocês estão usando a tecnologia a serviço do negócio, a serviço dos negócios de quem usa a plataforma, o que é mais interessante ainda. Eu te agradeço muito pelo papo. Obrigado, Luiz.
Luiz Figueira: Imagina. Obrigado você, Cássio, e por sua audiência aqui. Espero ter contribuído e plantado uma semente para a gente começar a pensar cada vez mais esses desafios nesse ecossistema e conseguir se adaptar para prover experiências únicas para tantos consumidores e lojistas, que precisam para movimentar a economia e a gente ter marcos substanciais na região.
Cássio Politi: Muito bem. Vamos chegando ao final do Think Tech de hoje. Sara, a primeira vez que eu comprei alguma coisa pela internet foi há muito tempo, foi em 1999. Eu comprei um livro para dar de presente para uma pessoa e foi meio traumático, porque o livro só chegou depois do aniversário, então eu fiquei meio traumatizado. Confesso que eu demorei um tempo para voltar a comprar online, 20 poucos anos atrás.
Sara: O que mudou nesses 20 anos foi o prazo de entrega no Brasil. A maioria dos pedidos é entregue num período que varia de 12 horas a dez dias. Mas olha: preço do frete e prazo de entrega continuam sendo critérios importantes de escolha de um produto.
Cássio Politi: Sem dúvida, Sara. Eu diria que é um fator eliminatório. Você entra na loja virtual, vê o produto e fala: “bom, é esse”, mas aí você vai validar se você quer aquela compra ou não olhando o frete e prazo de entrega.
Sara: É bem isso.
Cássio Politi: É isso aí. Think Tech de hoje fica por aqui, até a próxima.