Cassio Politi: O Think Tech está no ar, meu nome é Cassio Politi, e junto com a Algar Tech, nós vamos embarcar nessa jornada de repensar possibilidades. No episódio de hoje, a gente fala aqui de barcos elétricos que empurram cargas pelos rios brasileiros. Deixa eu começar o podcast dando um alô para a nossa especialista virtual em negócios aqui da Algar Tech, a Sara, Sara é fruto de tecnologia, então imagino que ela goste desse assunto de energia elétrica substituindo o velho combustível. 

Sara: Oi, Cassio. Gosto sim desse assunto, eu já estou acionando aqui os Gigabytes da minha mente para pensar nos benefícios dos barcos elétricos. Eu consigo fazer um paralelo com carros movidos a energia elétrica, eu pesquisei e encontrei uma análise feita pelo site Luz Solar, foi usado como base um carro que roda em média 150 quilômetros por dia, se o carro consumir 12 quilômetros por litro, ele vai gastar mais ou menos mil e 700 reais de gasolina por mês, se fosse um carro elétrico, gastaria apenas 370 reais para rodar os mesmos 150 quilômetros, ou seja, 80% de economia. Agora, se fosse um carro usando energia solar, aí gastaria menos de cem reais por dia, nesse caso a economia seria de mais de 95%. 

Cassio Politi: É uma diferença muito grande, não é Sara? Resumindo, o dono do carro movido a gasolina vai gastar mil e 700 reais de combustível, e o dono do carro a energia solar menos de cem reais, é uma baita diferença. Com um detalhe, esse cálculo foi feito pelo site antes de todos esses aumentos enormes no combustível, a diferença provavelmente seria ainda maior se esse cálculo fosse atualizado para o preço da gasolina de hoje. Mas, o legal é que sua comparação tem tudo a ver com o tema de hoje. 

Sara: Exatamente, Cassio. Se a economia nos carros é enorme, é provável que nos barcos também seja. 

Cassio Politi: É isso que a gente vai descobrir agora. Para o bate papo de hoje, eu tenho a honra de receber aqui no podcast a Mariana Yoshioka, que é diretora executiva de tecnologia da Hidrovias, que é uma empresa bem legal de conhecer, é uma startup que já tem aí algum tempo no mercado, tem 12 anos de mercado, que se propõe a fazer a logística e soluções de logísticas integrada em larga escala. Com as minhas palavras aqui, usa a tecnologia para melhorar a vida das pessoas, e porque não do país também, por meio de uma logística bem pensada. Mariana, muito prazer receber você aqui, obrigado por aceitar o convite para a conversa de hoje. 

Mariana Yoshioka: Cassio, eu que te agradeço, é um prazer falar de hidrovias, então obrigado pelo espaço. 

Cassio Politi: A gente que agradece. Mas Mariana está muito formal, vou te chamar de Mari que é mais gostoso. 

Mariana Yoshioka: Todo mundo me chama de Mari só.

Cassio Politi: Então vamos nesse nome que é tão simpático, Mari, muito gostoso chamar alguém de Mari. Mas vamos lá então, queria começar explorando um projeto no qual vocês, Hidrovia, estão trabalhando, que é um projeto que chama atenção, porque vocês estão trabalhando com empurradores elétricos. Vamos começar assim, primeiro entender o que é um empurrador e depois qual é a diferença de ele ser elétrico. Vê se eu entendi bem, um empurrador, quando você vê as vezes, as vezes você vê documentário, alguém já foi para a Amazonia, por exemplo, consegue imaginar o transporte de cargo, mas o empurrador é uma embarcação que vai empurrando ali, o que seria parecido com uma balsa ali, que carrega madeira e outros materiais, dei uma explicação muito furreca aqui, por isso que eu tenho você aqui Mari, para melhorar o que é o empurrador e qual é o grande benefício de ele ser elétrico. 

Mariana Yoshioka: Legal, vamos lá. Então, só para falar rapidinho um parêntese o que é um empurrador e como é a nossa operação. O empurrador é um barco que empurra uma série, um conjunto de barcaças, e as barcaças nossas não são balsas, elas são como se fosse um caixote, onde (eu coloco) [00:04:48] a commodity dentro, eu junto uma série de barcaças e empurro isso. Então, para se ter uma ideia do tamanho disso, o nosso comboio, um barco empurra cerca de 50 mil toneladas, que é mais do que mil caminhões equivalentes. Hoje, a nossa logística é integrada, então eu tenho a composição de portos e de comboios, então eu tenho portos que recebem a carga vindo das áreas produtivas, então por caminhões, eu tombo isso e coloco em silos e armazéns, desses silos eu coloco nas minhas barcaças, eu formo o comboio e levo para o meu outro porto, que está pronto para sair do país via navios. E assim, para falar um pouco dessa história do barco elétrico, eu vou voltar um pouco atrás e contar um pouco da história da empresa, Cassio, se você me permitir, e como a inovação…

Cassio Politi: A vontade. 

Mariana Yoshioka: E como a inovação foi e é muito importante para o que a gente é hoje, e o barco elétrico está dentro desse contexto. Então, a Hidrovias, como você falou, é uma empresa que foi fundada em 2010, com a missão de lutar contra o déficit logístico do país, e apesar de tão nova, a empresa hoje atua em grande escala em corredores logísticos do norte do país e na bacia dos rios Paraguai e Paraná, e recentemente foi adicionado ao portifólio um tribunal de fertilizantes no porto de Santos, que a gente arrematou em um leilão. A gente oferece uma opção de transporte eficiente, inovador, sustentável, para o transporte das principais commodities brasileiras. Eu diria que a inovação está presente em todas as áreas da companhia, e desde a conceção da ideia da companhia. Então como você falou, ela foi fundada há 12 anos atrás, a gente brinca que ela era um power point, ela era uma ideia, um sonho, nenhum ativo, e a Hidrovias nasceu com a proposta de ser um player logístico multimodal integrado e independente, que fornece um serviço de logística democrática. E por que eu falo democrática? Porque é para quem quiser comprar o serviço. Então, normalmente, as trades hoje possuem seus próprios terminais, e com isso acaba limitando, ela acaba detendo a logística de escoamento de grãos em grande escala. E a Hidrovias, por ser independente, qualquer um pode transportar conosco, então desde as grandes trades, até o pequeno produtor, na fazenda, que queira oferecer seu produto já posto no porto de saída do país, agregando valor para o seu produto. Mas então, o negócio da companhia é o transporte de commodity, a logística de commodity, que é uma logística de grande escala. E o que os clientes buscam na logística de grande escala? Confiabilidade e baixo custo, e a Hidrovia sempre usou de tecnologia para atingir esses objetivos do cliente. Então, veja isso que eu falei, do meu comboio, que equivale a mais de mil caminhões, 50 mil toneladas, então é imperativo que eu garanta que essa carga vá chegar no local, no tempo estabelecido e em um custo baixíssimo, afinal de contas, a logística compõe o preço da commodity. Então, lá atrás, quando a gente não tinha nenhum ativo… por que eu falo que a empresa sempre procurou tecnologia de ponta para suas soluções? A nossa primeira operação foi a operação no sul do país, o transporte de minério, de Corumbá, da hidrovia Paraná Paraguai, Paraguai Paraná, para os portos da Argentina. Quando a gente estudou essa hidrovia, o comum por ali era utilizar barcos antigos, com mais de 50 anos de idade, e geralmente comprados do rio Mississipi, trazidos com uma pequena reforma, e já colocava ele para operar. A gente optou por ser o diferente, a gente contratou então uma das melhores projetistas navais do mundo, a Robert Allan, que desenvolveu um projeto tailor made para a gente, (com a melhor) [00:08:58] tecnologia que existia até então, e os nossos empurradores foram os primeiros empurradores (inint) [00:09:03] a operar naquela hidrovia, que já tinha muitos anos de operação corrente. E o que isso trouxe, toda essa aposta, esse investimento que a gente fez? Nos trouxe segurança, alta disponibilidade, uma eficiência muito maior do que players locais, e uma menor emissão de carbono do que os barcos antigos. E o empurrador elétrico surgiu aí nessa nossa busca por ganho de eficiência, pela melhoria contínua. A gente tem na empresa um programa de excelência operacional, que ele visa melhorar os nossos processos cada vez mais, sempre mirando em maior eficiência e maior segurança. E o consumo de combustível é um dos maiores vilões para mim, ele é um dos maiores custos da operação, e mirando eficiência energética, a gente apostou em algumas frentes nessa busca de otimização da eficiência energética, a gente buscou tecnologia para controle de combustível, tecnologia para otimização da rota que me gere um melhor consumo, então você imagina que existe uma via, um canal dentro do rio, e existe sempre a melhor rota, igual (na Formula 1) [00:10:24] que você vê os pilotos sempre fazer aquele caminho, é mais ou menos por aí, eu tenho um programa que fala para os capitães como eles devem fazer, onde eles tem que dar mais força, menos força, a gente investiu também em treinamentos e em combustíveis alternativos. 

Cassio Politi: Mas eu quero mergulhar um pouco em pontos que você trouxe aí, Mari. Primeiro na questão dos rios, é muito curioso, ter uma rota ali dentro do rio, o que é fácil de entender, porque o rio tem diferentes correntezas, pontos de correnteza entre uma margem e a outra, no leito dele, imagino de profundidade também, deve ter algumas variáveis ali. Mas por onde dá para navegar? Onde eu quero chegar assim, o quanto o Brasil aproveita ou o quanto ele desperdiça de transporte por rios, de logística por rios? Como é que está esse cenário hoje? Vocês estão usando mais do que a média? Menos do que a média? Tem o que melhorar ainda ou não?

Mariana Yoshioka: Tem muito que melhorar, Cassio, até esse foi um dos maiores incentivadores da nossa tese, foi exatamente a gente olhar a questão do aproveitamento da logística hidroviária no país, um país que é sabidamente muito conhecido pelos rios, pela riqueza dos rios. Então, quando lá atrás a gente viu esse case, a gente viu que o país transportava por hidrovias da ordem de 6 milhões de toneladas por hidrovias, e quando a gente olha o rio Mississipi, naquela época ele já transportava 700 milhões de toneladas, então veja o gap que a gente tem. Hoje, só a Hidrovias transporta, por um dos nossos modais, da ordem de 7 milhões de toneladas, apenas pelo rio Pará, pelo rio Tapajós ali no nosso arco norte. Então, a gente enxerga que sim, existe um potencial enorme, até se você for ver a questão desse aproveitamento maior dessa hidrovia aí do norte do país, você vê, em 2017, mais ou menos, a gente tinha aí da ordem de 20% de escoamento do Mato Grosso, pelo arco norte, hoje esse percentual bate na casa dos 50%, então hoje o arco norte já é responsável pelo escoamento maior do país, mais até do que o porto de Santos. 

Cassio Politi: Mari, a gente fala aqui no podcast de tecnologia como meio, e não como fim, eu acho que esse projeto de vocês, dos empurradores elétricos já nasce com mais ou menos essa mentalidade, ou com exatamente essa mentalidade, a tecnologia a serviço da empresa, a serviço das comunidades que se beneficiam dessa logística, que é muita gente, a serviço do país de certa forma, então eu queria mergulhar um pouco na tecnologia. Como é a tecnologia dentro desse empurrador? Fiquei muito curioso para entender como se armazena essa energia, como se gera, não sei se tem alguma forma especial de gerar energia, se você de alguma forma consegue usar energia, outras energias ali, sintéticas, por exemplo, usadas para abastecer, e principalmente, como ela se armazena isso, porque barco normalmente tem uma questão, você falou de Formula 1, e eu sou um alucinado por Formula 1, sempre tem uma questão de peso, claro que não tão sensível quanto em um carro de corrida, mas sempre tem uma questão do peso para você armazenar a energia, baterias são muito pesadas, você não pode colocar ali uma estrutura muito pesada. Então, feita essa minha especulação rápida aqui, como que é gerada e como é armazenada a energia dentro do barco?

Mariana Yoshioka: Então vamos lá, o conceito do barco híbrido, Cassio, ele não é tão diferente do carro, híbrido, que acho que é mais familiar para todo mundo, só que adaptado, óbvio, para uma potência muito maior, isso que você falou. Então, existem aí cuidados de segurança, equipamentos que tem que ser muito rigorosos, mas existe um banco de baterias, sim, ele ocupa bastante espaço, um banco de baterias que alimenta tanto os motores elétricos como sistemas auxiliares da embarcação. Esses motores, então, eles se acoplam em propulsores que movimentam o empurrador. A recarga da bateria que você perguntou, ela pode ser feita tanto por uma tomada, que a gente vai colocar nos nossos portos, como por geradores, porque a gente optou por manter uma flexibilidade dentro do barco e manter sim geradores internos para que eu garanta a confiabilidade das nossas embarcações. Então, a gente tem um banco de baterias, mas a gente deixou um espaço reservado para um segundo banco de baterias, que a gente vai colocar em alguns anos, a gente fez um cálculo, a gente entende que a bateria está vindo em uma exponencial, e a nossa ideia daqui a uns dois anos, colocar nesse mesmo local um banco de baterias muito mais poderoso do que hoje o que a gente tem, mas hoje a gente já vai com esse banco de baterias, a gente vai mais do que duplicar em um segundo momento, essa que é a intenção. 

Cassio Politi: E deixa eu entender um ponto aqui, um outro ponto que você mencionou, você disse que uma empresa foi contratada para desenvolver esse projeto, legal, a soma de expertises, pelo que eu entendi aí, e quais habilidades e conhecimentos foram empregados para poder desenvolver esse projeto? De todas as partes envolvidas, da empresa de consultoria, para deixar minha pergunta mais clara, do que vocês tinham que entender para poder fazer um projeto desse?

Mariana Yoshioka: Olha, Cassio, assim, eu acho que hoje, a tecnologia, ela, com essa onda exponencial, é impossível você querer acompanhar 100% com conhecimento, então quem disser que conhece tudo que tem de tecnologia mais atual, do hoje, é mentira, e amanhã já vai estar desatualizado. Isso não impede que o mundo evolua, e para mim aqui ficou muito claro isso, o que são os skills que eu acho que foram o que foi mais fundamental para nós? Para mim foi a vontade de fazer, a vontade de deixar um legado para o mundo, muita observação e curiosidade, até no início, a gente começou in house o projeto, porque quando a gente procurou alguns players aí, alguns players falavam: “Não, isso aí só para daqui alguns anos”, a gente falou: “Não é possível, vamos tentar”, a gente começou a analisar nossos sensores, a gente começou a colocar mais sensores, a gente falou: “Não, espera aí gente, aqui está parecendo que tem um caminho”, quando a gente voltou um ano depois, muitos players que haviam meio que recusado a gente no passado falaram: “Não, eu quero entrar com vocês, como assim?”, a gente falou: “Poxa vida, mas agora? Eu preciso de um player que desenvolva isso com a gente”. Então, tem essa questão da curiosidade e da vontade de fazer a diferença mesmo. Então, você vê, a gente tem muito orgulho do pioneirismo desse projeto na hidrovias, porque a gente sabe que a indústria naval é uma das mais antigas, com grandes desafios de tecnologia, e a gente tem orgulho de trazer esse pioneirismo para o Brasil, porque acho que uma coisa que é legal de falar, Cassio, é que esse é um projeto super brasileiro, então três empresas brasileiras estão no centro desse projeto, a Hidrovias, o Estaleiro Belov ali na Bahia, eu estou inclusive indo para lá hoje, acabando esse podcast eu vou correr ali para o aeroporto, e a Web na motorização, a gente está correndo para ter a marca dos dois primeiros empurradores de manobra interior elétrico do mundo, e eles vão operar em águas amazônicas, isso já é muito bonito por si só, e para deixar muito claro isso para o mundo, até os nomes a gente escolheu a dedo, então todos os barcos da nossa operação do arco norte, que trabalham ali no rio Tapajós, eles levam nomes de peixes da região, e os nomes desses dois barcos elétricos nossos vão ser Puraquê e Enguia, então puraquê é um peixe típico elétrico da região ali da Amazonia, a enguia tem em todo lugar do mundo, mas ele também se encontra lá, até isso a… a gente acha esse projeto bonito do começo ao fim. E isso acho que é importante, Cassio, porque eu vejo que hoje as pessoas, os colaboradores, eles querem mais do que o salário, eles querem um propósito, eles querem deixar uma marca no mundo, eles querem deixar a possibilidade… eles querem ter a possibilidade de deixar um legado no mundo, e melhorar o mundo, contribuir para que ele melhores, e a hidrovias se propõe a isso, e a gente tem aí uma área de tecnologia que simplesmente organiza, mas a tecnologia na hidrovias é muito democrática. Então assim, ela atinge todos os públicos, ela é composta por diferentes pessoas da empresa inteira, porque a gente acredita que a tecnologia só vai ser atingida ao máximo se ela for democrática. Então existe uma comissão de tecnologia interna que decide quais são os projetos que a gente vai fazer, então não é um diretor, não é alguém falando: “Olha, faça isso”, é uma comissão interna, composta de pessoas de diferentes áreas, que decide, então hoje a gente tem uma série de projetos, assim como o elétrico, que estão no forno, e alguns até já saíram do papel, talvez não tenha o apelo de ser o primeiro do mundo, mas são projetos muito importantes também para o desenvolvimento da indústria, e fazer esse protagonismo para o país. 

Cassio Politi: Você falou de energia solar muito rapidamente, e eu fiquei pensando aqui, Mari, a gente vê que as casas não conseguem ainda gerar energia suficiente para o consumo da casa, todo mundo que colocou ali, ou a maioria das pessoas que colocaram ali energia solar, painéis de energia em casa, acabam ganhando um desconto na conta, porque joga aquela energia na rede e tem o retorno em forma de desconto, conheço gente que está em um sítio, por exemplo, coloca energia solar lá, mas acaba fazendo algum racionamento de energia ali, tomando algum cuidado, porque não sabe se a noite ainda vai ter energia suficiente armazenada, então é uma tecnologia em evolução. Agora, você está falando em navegar na Amazonia, então por um lado você tem sol em abundância ali durante o dia, por outro lado, a força que um barco desse faz para empurrar (inint) [00:22:06] toneladas é muito grande, imagino que demande muita energia. Então, minha pergunta para você é, falta muito para a gente ter um barco ali com navegação infinita, tipo, o sol que ele pega ele usa, de dia, armazena para usar de noite, e não para nunca de navegar, se ele quiser ele passa o resto da vida navegando só com aquela energia solar, isso ainda é ficção ou dá para imaginar que um dia possa acontecer?

Mariana Yoshioka: É totalmente viável, e fazendo até um paralelo com essa questão das casas, tem muito a ver com armazenagem mesmo dessa energia, porque o sol está aí um período do dia e você consome na sua casa o dia inteiro. Então, a armazenagem e a estocagem dessa energia, ela, hoje, para as casas aí, para a grande maioria, ela ainda não está viável, ela ocupa muito espaço, ela é cara, então a evolução dessa questão da armazenagem da energia vai dar essa virada para que as casas sejam autônomas. Agora, a gente tem uma série de estudos aí, tanto nos nossos terminais como nos nossos… você fala dos barcos, a gente tem os nossos navios de capotagem, os bauxiteiros, a gente chegou a estudar painéis solares nos nossos bauxiteiros, e a gente vê que com a evolução dessa tecnologia, os painéis hoje estão ficando cada vez mais otimizados, mais econômicos em termos de espaço, e as baterias também. Isso que eu falei, a gente está esperando uma segunda fase para um avanço da tecnologia, que é o esperado, que é o que vem acontecendo, para que a gente coloque um segundo banco com uma reserva de energia quase que o dobro da atual. Então, existe aí um encontro do ponto ótimo da curva dessa tecnologia com o nosso uso, e que não está muito distante não, a tecnologia, a gente tende a pensar ela sempre em uma linha reta, o ser humano é muito linear, você pensa na aceleração de forma linear, mas a tecnologia vem exponencial, (inint) [00:24:28] que a gente tem dificuldade de entender. Então, eu diria que sim, está muito próximo. 

Cassio Politi: O futuro não é linear, não é Mari? Lá no passado, quando a gente assistia desenho animado, via os Jetsons, e a gente via eles bolando carro voador, e a gente está caminhando para o carro autônomo, continua no chão, só que sem motorista, eles imaginavam carro voador, eles imaginavam os robôs ali, e não pensaram na Alexa, então eu adoro pensar nessas coisas, o futuro não é linear. Aliás, por falar em futuro, eu queria fechar te perguntando isso, você falou dessa tecnologia 100% brasileiro, projeto 100% brasileiro na verdade, com uma tecnologia que está chegando com tudo, em vários setores, navegação por rios é um deles. E o que vem depois? O que a gente pode prever que vem pela frente por parte da hidrovia mesmo? Vocês vão exportar essa tecnologia? Vocês vão ampliar essa tecnologia para outros setores ou outras regiões? Enfim, qual é o plano no longo prazo? Porque a gente está, felizmente, falando hoje de plano de curto prazo, coisas que vocês vão colocar ali para navegar literalmente já. E depois, o que vem?

Mariana Yoshioka: Olha Cassio, assim, eu acredito que as ideias e aquilo que a gente… as conquistas, elas não ficam guardadas em um lugar só, elas estão disponíveis no mundo, então essa questão da globalização, essa questão da internet, não existe isso, e a Hidrovias tem essa plena consciência. O que a gente quer sim, é não fazer da Hidrovias a coisa mais tecnológica e o resto não, a gente quer, de verdade, contribuir para deixar um legado para o mundo mesmo, essa é a nossa missão, então a gente acredita que a gente tem o dever de transformar o setor, impactar positivamente as comunidades que rodeiam as nossas operações, e contribuir para a economia do país e o abastecimento do planeta até, a gente pensa muito alto. E a Hidrovias tem plena consciência da responsabilidade e do legado que a gente quer deixar para os diferentes stakeholders. Então, a Hidrovias é uma empresa jovem, movida por pessoas jovens, ou não tão jovens como eu, mas com o pensamento jovem, eu quero acreditar nisso, e assim, a gente quer contribuir para pesquisa e desenvolvimento dessa indústria, que é tão fundamental para o abastecimento do mundo, mas por que não migrar essa tecnologia para as demais? E falar um pouco localmente antes, os nossos projetos, eles tocam algumas regiões carentes de infraestrutura, e a gente sabe que a gente tem a responsabilidade de contribuir para eliminar essa carência. Então, muito apelo a diversidade, a disseminação de conhecimento, a gente quer que os nossos projetos contribuam para as comunidades locais. Então, seja empregando gente local, promovendo empreendedorismo tecnológico, centros de capacitação, qualificação e inovação, e principalmente assim, escutando a comunidade, o que a comunidade tem para sugerir a gente em um estímulo de inovação aberta, democrática, dando o protagonismo e oportunidade para essas comunidades que… para elas fazerem parte ativa desse processo de disrupção tecnológica que a gente pretende contribuir. E se você for ver, em termos de histórico, aquilo que eu falei, o projeto da Hidrovias já impactou positivamente a economia do país e o abastecimento do planeta. Então, a gente quer contribuir também puxando esse pioneirismo na parte tecnológica, então falar um pouco dos nossos projetos que a nossa área de tecnologia está encabeçando, eles não ficam restritos só a nossa empresa. Então, a gente tem o projeto de inteligência artificial baseado em ciências de dados e machine learning, que é exatamente essa questão de fazer assistência para os comandantes, para eles conseguirem fazer uma operação mais econômica, mais eficiente, mais segura, antes de mais nada. A gente tem os nossos projetos de supercomboio, então de utilização das nossas frotas, para que a gente consiga transportar mais, com menos consumo de combustível, a gente está em fase de finalização de simulador de manobras, que é uma réplica fiel, é impressionante, dá até um pouco de tontura quando você está dentro, ele é uma réplica fiel de um tamanho real da nossa cabine de comando, e ele é para treinar não só as nossas tripulações, mas também a população, para ser uma porta de entrada, de repente uma oportunidade para eles, de terem essa carreira como possibilidade, a gente  tem a questão do projeto fotovoltaico, que ele por si só, todas essas análises que a gente faz, ela vai ser aproveitada em outras indústrias também, manutenção assistida por realidade virtual, também é outra que a gente está muito forte para implantar ainda esse ano, porque eu tenho regiões muito remotas, e eu preciso ter um super especialista por área, ou então ficar andando de avião o tempo inteiro. A manutenção assistida por realidade virtual é muito realidade já na Europa, aqui no país não é, então a gente quer puxar isso, a partir do momento que você puxa essa tecnologia, daqui a pouco isso está em todas as indústrias.

Cassio Politi: Muito legal, Mari, que papo bom, que papo gostoso, porque sai um pouco do nosso mundo aqui, quando a gente fala de navegação por rios, mas sai do nosso mundo até a página cinco, o conhecimento técnico apenas não está aqui ao nosso redor, porque vocês estão transportando commodity, e a commodity está na nossa mesa, está aqui, talvez, em um elemento do nosso computador aqui para permitir essa gravação. Então, o impacto é na economia do país todo, que você faz, e dar um impulso para outras indústrias, para que elas seguem o mesmo caminho, por exemplo no mundo da logística, que é o seu mundo. Então, Mari, eu te agradeço muito por esse bate papo, foi muito legal conhecer esse projeto, parabéns pela iniciativa, para vocês da Hidrovia, e as portas estão abertas para vocês. Obrigado viu, Mari. 

Mariana Yoshioka: Obrigada, Cassio, pelo espaço. 

Cassio Politi: Muito bem, vamos chegando então ao final do Think Tech de hoje. E eu fico pensando aqui, Sara, o Brasil tem muitos rios, eu gostaria de ver mais iniciativas como essa da Hidrovias. 

Sara: Seria bom sim, para você ter uma ideia, o Brasil tem 42 mil quilômetros de rios navegáveis em várias regiões, seria ótimo vermos mais tecnologia aplicada para aproveitar essa condição natural do nosso país. 

Cassio Politi: Seria fantástico, Sara. Tomara que isso aconteça. É isso aí, o Think Tech de hoje fica por aqui, e até a próxima.