Cassio Politi: O Think Tech está no ar. Meu nome é Cassio Politi. Junto com a Algar Tech, nós vamos embarcar nessa jornada de repensar possibilidades. No episódio de hoje, nós vamos fazer uma imersão no uso de tecnologia por uma empresa de saneamento para melhorar a jornada digital dos seus clientes. Antes de apresentar o nosso convidado, eu quero bater um com a minha amiga, a minha companheira virtual de podcast. Estou falando da Sara, que é a especialista virtual da Algar Tech. Ela entende muito desse mundo de tecnologia e, junto com ela, a gente vai no Think Tech trocar ideias sobre vários temas. Fale, Sara. Está tudo bem aí no seu mundo virtual?
Sara: Oi, Cassio, tudo bem. E com você?
Cassio Politi: Tudo bem por aqui também. Sara, hoje a gente vai falar de NPS. Será que a gente pode acionar aí o seu supercérebro eletrônico e o seu vasto repertório digital para explicar o que é NPS?
Sara: Claro, com prazer. NPS é uma métrica usada por muitas empresas para medir a satisfação e o nível de fidelidade dos clientes. O mais interessante é que é uma medida simples obtida a partir de um questionário que os clientes respondem. Em uma escala de zero a dez, eles dizem o quanto estão dispostos a recomendar a empresa. Os que marcam nove ou dez são considerados promotores. Os que marcam de zero a seis são detratores. No final, você faz a seguinte conta: percentual de promotores menos o percentual de detratores, aí você obtém o NPS.
Cassio Politi: Então essa conta pode dar de menos 100 até 100, certo?
Sara: É isso mesmo, o NPS pode ir de menos 100 até 100. Um detalhe — NPS é a sigla de Net Promoter Score.
Cassio Politi: Obrigado, Sara. Cá entre nós, apresentar um podcast com uma inteligência artificial ao seu lado é uma grande moleza. Agora chegou a hora do bate-papo entre seres humanos. Para este bate-papo, eu tenho a imensa satisfação de receber aqui o Eder Campos, que é diretor de clientes e inovação da Iguá Saneamento. A Iguá é uma das maiores empresas privadas de saneamento do Brasil. Eder, é uma grande honra tê-lo aqui. Obrigado por aceitar o convite para este bate-papo.
Eder Campos: Agradeço, Cassio. Olá a todos os ouvintes. É muito legal poder bater este papo sobre um tema tão importante, ou seja, inovar, transformar a vida das organizações. A Iguá tem esse dever e propósito grande de ser a melhor empresa de saneamento para o Brasil. A gente acredita muito no nosso espírito de promover uma transformação nesse setor. Estamos muito felizes de ter recentemente ganhado o bloco dois do Rio de Janeiro. Em fevereiro estamos assumindo as operações no Rio de Janeiro, bloco dois, transformando o dia a dia desse setor tão importante. Eu brinco, se é possível no saneamento, é possível em qualquer indústria, é o nosso grande mote de transformar.
Cassio Politi: Parabéns pela conquista. A gente está aqui para contar uma história. Claro, a gente usa a tecnologia sempre como nosso pano de fundo, a tecnologia como uma forma de viabilizar as iniciativas de uma empresa. A gente vai contar uma história. Eu sei que a história tem a ver com SaaS como um grande diferencial que vocês trouxeram para o setor de saneamento. Mas eu não vou tentar me arriscar a tentar contar a história no seu lugar, tendo você aqui. Eu vou deixar isso com você. Como a história começa? De que ponto a gente parte nessa história, que tem como mote o desafio de o cliente perceber a entrega de serviço da Iguá? Como começa hoje a nossa história aqui?
Eder Campos: O saneamento é uma indústria tradicionalmente invisível. Ninguém lembra até faltar água ou ver um esgoto extravasando. É uma política pública invisível, é um serviço público por natureza que pode ser prestado por uma empresa pública ou privada. O que importa não é ser público ou privado, é ser eficiente. Esse é o desafio da indústria, só que esse desafio é visto muitas vezes como desafio de investimento. Sem sombra de dúvida, tem que ter investimento, temos que ter rede de água para levar água, temos que ter rede de esgoto para coletar esgoto, e as devidas indústrias de tratamento, seja para tratar bem a água que a gente vai oferecer e servir à população, seja tratar o esgoto e devolver essa água para o rio ou para o mar, no contexto de fechar o ciclo da água. Só que não é uma indústria de engenharia. A engenharia é uma parte importante da indústria, mas ela é uma indústria de prestação de serviço. Isso é o grande diferencial que nasce com a Iguá. Quando nasce em 2017, a Iguá entende e aponta: “nós precisamos mudar a forma como o setor é percebido, a forma como o setor opera”. Por quê? O que nos trouxe até aqui tem um grande gap. A gente olha para o Brasil e sabe que o saneamento é indústria que precisa ser mais valorizada. Para valorizar essa indústria, a gente precisa que ela seja percebida. Como você bem colocou, queremos que a água seja valorizada como serviço. Mas, para fazer isso, o primeiro passo é perceber o cliente. A gente fala: “precisamos perceber o cliente”. Como a gente vai construir essa história? Essa é a história da Iguá que eu quero dividir com vocês hoje.
Cassio Politi: O desafio, então, de perceber o cliente começa dentro de casa. É um desafio, pelo que entendo, de CX, de customer experience. Está certo?
Eder Campos: Sem sombra de dúvida, tem tudo a ver com experiência do cliente. O primeiro desafio, na verdade, é ter essa referência. Nosso desafio lá atrás era mostrar para nossos colabores, para nossas lideranças, a importância disso. Muitas vezes eles não tinham essa visibilidade. A primeira inovação que a gente traz para o setor não tem nada a ver com uma tecnologia, tem a ver com olhar para o setor, para o que as outras indústrias já estão fazendo, e trazer uma boa prática para o setor de saneamento, que foi um dos pioneiros, que é usar o sistema do Net Promoter Score, NPS, uma métrica tradicional de ponta. A pergunta definitiva que tem tudo a ver com CX — como mensurar a reputação da empresa? Nós trouxemos isso para o saneamento. Até aquele momento, o caminho de ter essa percepção do cliente era por meio de pesquisas anuais que iam de casa em casa, aquele modelo bem tradicional, fazendo uma série de perguntas. Isso não dava a visão verdadeira daquela reputação. Para fazer isso, a gente usa um pouco da nossa competência para falar o seguinte — como a gente traz isso? Preciso ter aqui um Software as a Service. Escolhemos um parceiro para nos ajudar na época, está conosco até hoje, exatamente para fazer a mensuração, ou seja, disparar para nossa base de clientes essa pergunta, coletar essa resposta e fazer o fechamento de loop e, de novo, criar essa cultura ali dentro. A opinião do cliente é valor. A cada opinião eu aprendo um pouco. Eu não preciso esperar o ciclo anual para perceber esse cliente, gerar um relatório, colocar na gaveta. Eu tenho que fazer cada resposta ser insight, ser forma de atuar, de resolver problemas, de pedir desculpas, de humanizar e de mudar essa percepção do cliente.
Cassio Politi: Como funciona exatamente isso? A gente sabe como funciona NPS, o ponto de vista do cliente, quando você usa qualquer serviço… para quem não sabe o que é NPS, é aquilo — em uma escala de zero a dez, qual é a probabilidade de você recomendar essa empresa? Dando nove ou dez, você é promotor — veja se estou certo —, se você der sete ou oito, você é neutro, seis para baixo, você é detrator. É isso, não é?
Eder Campos: Exatamente.
Cassio Politi: Você pega o nove e o dez, quantos você teve, e subtrai até o seis e aí você tem o líquido, quanto você tem de saldo dessa conta.
Eder Campos: A nota do NPS é percentual de promotores menos o percentual de detratores, é uma escala que vai variar de 100 a menos 100.
Cassio Politi: Pode ser negativa.
Eder Campos: Isso é só uma nota. Mais importante que a nota é a metodologia e a cultura de que a opinião do cliente tem que ser valorizada, de que a gente tem que entender e atuar em cima dela.
Cassio Politi: Quando você contrata um software, um serviço, sei lá, disparo de e-mail marketing… às vezes você vai lá no aplicativo do cinema, você recebe esse tipo de pesquisa, é muito comum ver isso e estamos habituados. No caso do serviço de saneamento, em que momento você coleta isso? Como é feita a coleta? É mais ou menos a mesma coisa? É no aplicativo? É no momento da interface do uso de algum serviço seu? Onde exatamente você aplica isso? Como é feita a coleta de dados?
Eder Campos: É muito legal essa pergunta. Tem duas partes dessa resposta. A primeira é como foi lá atrás. A gente basicamente tem dois momentos de contato com o cliente — quando ele vai ao balcão ou nos liga, o NPS transacional, e o NPS relacional, que a gente dispara de tempos em tempos para toda a base que tiver um cadastro adequado. No começo dessa história se usou essa ferramenta… de novo, a gente contratou uma ferramenta que era plug and play, bem fácil, e usamos a nossa base de cadastro, fazendo muita coisa manual. A gente tinha todo dia que tirar a base de clientes de um sistema, carregar no outro, dispara, recebe a resposta por ele, tem um grupo que fica fazendo a gestão desse fechamento de lucro, ou seja, as tratativas de cada opinião, dando retorno aos clientes que vão nos responder. A gente viveu isso. Mais recentemente, neste momento, a gente está indo para um modelo com um pouco mais de integração. Agora, depois de três anos, é que a gente tem maturidade para mudar o outro sistema e criar um CRM do saneamento. O saneamento, diferente de indústrias de varejo, não tem essa visão do cliente 360. Isso é um capítulo mais recente da nossa história.
Cassio Politi: Partindo agora para essa jornada digital que vocês criam — pelo que entendo, a tecnologia está entrando aí, vocês estão tornando uma jornada mais digital. Como isso impacta em outras experiências? Para onde você amplia essa experiência? Eu estou imaginando aqui que o NPS deve ser só uma semente que você planta ali. Até onde isso vai dentro da jornada? NPS é uma semente, você não fica só com o resultado na mão: “o cliente está satisfeito, está insatisfeito, beleza”. O que você faz com esse número a partir dali? Como você usa isso no resto da jornada?
Eder Campos: O NPS é nossa estrela-guia, ou seja, ela é a métrica que a gente fica olhando para direcionar, é lá que a gente chegar, a gente quer ter promotores. A gente sabe que esse caminho não é fácil, não é simples. A gente vem aumentando dez pontos a cada ciclo anual. A gente vem conseguindo bons resultados. Mas ela é a estrela que nos guia. A pergunta é: o que fazer? Você tem um ótimo ponto, a gente entende quais são as outras sementes que a gente tem que plantar. A gente tem que entender e perceber esse cliente na nossa jornada. Tem elementos dessa jornada em que as opiniões desses clientes são importantes, e tem elementos em que a gente não precisa olhar para a resposta do cliente, a gente só tem que melhorar nosso dia a dia. Eu vou dar um exemplo. Voltando à nossa história bem no início, 2018, 2019… a indústria do saneamento tem tipicamente lojas de atendimentos. Se você fechar o olho e pensar nessas lojas, você vai se referenciar no setor público, vai já pensar naquelas lojas de atendimento para serviço público, porque você vai lá para resolver algum problema com sua conta de água. O que tradicionalmente a gente viu, olhando os números de atendimento? As pessoas vão e tiram segunda via. Esse é o serviço mais solicitado na loja de atendimento. Faz sentido uma pessoa ir para tirar segunda via? Não. Mas, se ela vai à loja e tira segunda via, por que ela não paga na loja? E quase nenhuma cidade tem pagamento na loja. A gente também foi pioneiro em fazer uma coisa muito simples, olhar isso e resolver o problema, e a gente testou lá e fomos pioneiros em ter, por exemplo, cartão de crédito e débito que pode ser recebido na loja. Mas a gente pensou além — a gente quer que ele nem vá à loja para resolver. Isso é uma coisa talvez um pouco mais conhecida, outros sistemas já têm aí, tirar segunda vida pelo site. Tem alguns que até querem tirar segunda vida pelo aplicativo. Aqui eu quero dizer já que a tecnologia muitas vezes tem esse caráter: “eu quero ter meu aplicativo”. Eu acho que o mundo não deveria funcionar assim. O que a gente vê dos aplicativos de empresas de saneamento, geralmente são aplicativos que as pessoas avaliam mal, têm uma experiência ruim e muitas vezes deletam. Por quê? Porque não há nada para fazer, vai só tirar segunda via. Nossa construção primeiro declarou: “não vamos ser aplicativo”. A gente fez um esforço de ter uma solução web com o nosso Digi Iguá, em que o cliente pode tirar segunda via e pode pagar, uma outra coisa que a gente também fez. Não faz sentido poder tirar a segunda vida digitalmente e não poder pagar com seu cartão de crédito na nossa plataforma. Eu queria destacar como isso mostra nosso compromisso. Muitas vezes é mais caro para a gente receber por cartão de crédito do que receber por algum convênio bancário. A gente tem alguns convênios às vezes mais baratos do que cartão de crédito. Mas nosso compromisso é com o cliente, é com a menor fricção, é com o menor esforço e com a maior comodidade e facilidade. A gente acredita nesse caminho. E, mais do que falar, a gente está de fato investindo nessa experiência. Isso foi a primeira questão que a gente faz, olhou, viu que muita gente tirava segunda via, dar um jeito de eles não precisarem tirar segunda via e poderem tirar digitalmente e, se vier à loja, ele poder pagar. Se ele tirar digitalmente, também pode pagar. Aqui tem um sonho grande que a gente está construindo agora, exatamente ter o aplicativo, mas é uma jornada que a gente tem que fazer com muita descoberta, criar um aplicativo que seja relevante na vida do cliente.
Cassio Politi: É uma jornada com a tecnologia como enabler. Eu fico pensando aqui — você falou da decisão de acabar com o app porque não trazia uma experiência boa, a decisão até de arcar com uma taxa maior, ele também agrada mais ao usuário. Tudo isso remete de volta ao NPS? Tudo isso é o tempo todo pensando no NPS como pano de fundo? Tem essa preocupação permanente? Ou não tem essa conexão direta?
Eder Campos: O NPS é nossa estrela-guia. A gente faz as coisas exatamente pensando em como a gente pode mudar a nossa reputação com nossos clientes, como a gente consegue fazer com que esse cliente e a comunidade atendida percebam diferente o serviço de saneamento. Esse valor que a gente espera ter para os clientes em torno do nosso serviço não vai vir somente do atendimento da conta de água, tem uma série de fatores. A gente precisa de fato criar uma jornada diferente. Na verdade, aqui a gente não chegou nem a ter o app. A gente não descontinuou um app existente, a gente simplesmente falou que não fazia sentido naquele momento investir o app. Como você bem colocou, a tecnologia não é um fim, é um meio. A gente tem que entender e a jornada do cliente e falar: “todo mundo quer ter um app? Legal, mas o app tem que ser relevante, tem que prover de fato uma experiência que vá além de simplesmente tirar a segunda vida”. Estruturamos essa ideia orientados pelo nosso NPS e sabendo que o dia a dia é primordial, então a gente precisa garantir um dia a dia do atendimento do cliente, um dia a dia do relacionamento do cliente. Temos que fazer todas as questões operacionais, questões de engenharia, serviços em dia, investimento nessa jornada para que ele perceba essa empresa de modo diferente. Esse é o nosso desafio.
Cassio Politi: Eu vou lhe dar um dado para encorajá-los nessa decisão ou pelo menos aliviar: “tomamos a decisão certa”. Eu estava conversando com o gestor de uma empresa que faz app. Na verdade, eles fazem controle de ponto de RH, não tem nada a ver com vocês. Mas o fato é que eles trabalham com todo tipo de empresa, que por sua vez trabalha com todo tipo de colaborador. Eles estimam que 30 milhões de brasileiros, talvez 20% da força de trabalhadores brasileiros, têm celulares que não comportam mais um app. Veja a bucha de que vocês se livraram. É uma conta com um certo embasamento, porque eles vivem isso no dia a dia. Mais ou menos 20% das pessoas têm celulares um tanto precários que não comportam mais um app. São celulares baratos, não tão bons assim. Vocês iam ter essa bucha. Não é só o cara não querer ter mais um app. Ele talvez queira ter, e o celular não comporta mais um app ali dentro, ou, então, ele não tem um plano de dados suficientemente bom para acessar a internet e acessar o app. Vocês se livraram de uma bucha.
Eder Campos: Foi exatamente pensando nessas tendências que a gente não começou pelo app. A gente entende que a solução digital pode ser uma solução simples que pode ser web e, como a gente quer ter um dia, também app. De novo, essas duas coisas convivem. O cliente é que vai escolher o canal mais fácil para si. Nossa aposta no app, que vai começar agora, é uma aposta de nicho, entender quais são os perfis de clientes para os quais vai fazer sentido ter esse aplicativo para ter uma conexão mais verdadeira com a empresa de saneamento, com seu serviço de água, e a gente consiga apoiá-lo em um caminho maior. Essas coisas estão 100% conectadas.
Cassio Politi: Resumindo a história, vocês usaram a tecnologia para colocar o cliente em uma jornada digital. Vocês usaram o NPS para nortear o resultado de vocês. Minha pergunta é — que resultado vocês obtiveram com isso?
Eder Campos: O resultado não pode ser diferente. Nosso NPS vem melhorando. A gente fica muito feliz em ver a evolução de mais de 20 pontos do nosso NPS nos últimos dois anos. A gente vem conseguindo consistentemente fazer uma reputação melhor. Eu queria até dividir mais uma história rápida com você e os ouvintes sobre como a gente trabalha isso e como a tecnologia é um detalhe, mas a essência é ver o processo e entender o seu modelo de negócio. Grande parte da mudança dessa percepção de cultura de perceber o cliente passa pelo atendente, que é o elo de milhares de atendimentos que a gente faz todos os meses. Precisamos fazer esse atendente perceber o cliente, criar conexão. Nós criamos um programa que é uma folha de papel, falando: “vamos fazer histórias de encantamento”. Então a gente estimulou nossos atendentes a fazer uma ou duas histórias de encantamento por mês, e eles têm uma autonomia para fazer uma coisa que vai além do básico. Ele pode dar um brinde, mandar uma carta, pode fazer uma coisa que cria uma conexão verdadeira com a história daquele cliente que ele atendeu. Uma folha de papel. Lançamos a ideia, começamos a estimular os atendentes a criar essas conexões pontuais. Se esse atendente, com uma história pontual, cria uma conexão verdadeira, ele muda sua atitude, o que vai impactar todos os outros atendimentos que ele faz. É o espírito que está por trás do programa de encantamento, que começou em 2019. Fizemos já milhares de histórias até hoje. Já tivemos histórias premiadas, histórias de destaque no CX Prêmio. Fomos finalistas em 2019, finalistas e campeões em 2020. A gente continua vendo essas histórias. Onde está a tecnologia por trás disso? Tudo começa com um pedaço de papel, tudo começa em papel. A gente fomentava os atendentes a escrever as histórias, criou um formulário em Word, e eles escreviam. À medida que a coisa foi evoluindo, a gente falou: “como a gente escala isso? Vamos criar um sistema”. Criamos um sistema, contratamos um sistema para que as histórias pudessem ser lançadas e a gente poder votar, escolher as melhores histórias, dar feedback para os clientes. Uma vez mais, a tecnologia é meio. A gente não pensa que a tecnologia vai fazer história de encantamento. Quem faz história de encantamento são os atendentes, são pessoas. Inovação para pessoas, feita por pessoas. É uma inovação muito simples que muda o espírito, e mudou muito a nossa cultura. Essas histórias hoje vão ganhando capítulos novos. A gente está com algumas histórias virando vídeo, histórias nossas de conexão humana, mostram exatamente o espírito de fazer diferente no saneamento. Estamos mudando a percepção das pessoas em relação ao saneamento. São histórias de conexão humana verdadeiras. A gente resolve e encanta. Por que não?
Cassio Politi: Faz todo o sentido. Parabéns pelos prêmios. Uma pergunta importantíssima, já que a gente contou uma história — você teve vários aprendizados. Mas, se você tivesse que destacar um grande aprendizado que você teve com essa jornada, qual seria?
Eder Campos: Um grande aprendizado, ter a coragem de fazer mesmo sem saber qual vai ser o caminho. A gente sempre sonhou, o sonho é grande, o propósito é grande, e a gente tem coragem para caminhar mesmo sabendo que o caminho é desconhecido porque a gente está na fronteira. Muitas vezes eu vejo algumas lideranças nossas, alguns diretores de operação, quando a gente leva ou traz alguém de fora, perguntando: “a gente não tem ninguém para ver como funciona no saneamento. A gente olha para as outras empresas, ninguém está fazendo”. Geralmente a resposta de que gosto muito é assim: “isso é o desafio de estar na fronteira”. É o nosso propósito, a gente está se inspirando cada vez mais em outras indústrias e trazendo uma nova fronteira para o saneamento. Exige coragem caminhar nesse universo desconhecido. A gente precisa ter essa coragem porque inovação é muito disso. A gente não deve simplesmente querer a tecnologia. A gente tem que perceber o cliente, e a tecnologia vai nos ajudar a escalar. Isso é um ponto fundamental. A gente demorou três anos para tomar uma decisão, como eu comentei aqui, de ter um CRM, de ter uma solução mais parruda, um sistema que muda nosso atendimento ao cliente. É uma decisão ousada, mas que a gente entende que estamos maduros para isso, os processos são conhecidos, e tem tudo a ver com nosso compromisso de estar na fronteira. A gente está sendo pioneiro em trazer um CRM para o saneamento, um sistema que é globalmente usado em outras indústrias, mas no saneamento ninguém tinha preocupação de ter essa visão 360 do cliente. Agora a gente entra em uma nova fase de ter a omnicanalidade, ter um sistema único. A gente tinha atendentes atendendo clientes no WhatsApp em uma tela, fazendo o sistema em outra, e a gente vai ter tudo em uma tela só, com muito mais sinergia para que esse atendimento seja fluído. A gente está investindo bastante em nossa estratégia de crescimento, trazendo agora sistemas mais parrudos, porque a gente entende que o momento está maduro, e isso tem tudo a ver com nosso compromisso.
Cassio Politi: A história é muito bacana, vai inspirar empresas que não têm NPS em seu DNA, ou a cultura de NPS no seu DNA, a partir para esse caminho, ou às vezes uma cultura digital em seu DNA. O que eu vou dizer pode soar esquisito, mas às vezes elas não precisam disso, podem operar por N razões de um jeito mais analógico. Se quiserem ficar na zona de conforto, elas podem fazer isso. Não sei se é exatamente o caso da sua indústria, não sou especialista. Mas sei que em algumas indústrias isso ainda é possível, e algumas optam por dar um passo à frente. Imagino que essa história que você acabou de contar vai inspirar as empresas a fazer isso, mostrando o que é o mote do Think Tech, nosso podcast, que é repensar possibilidades. Vocês fizeram isso, repensaram possibilidades. Além de parabenizá-lo, quero lhe agradecer muito por compartilhar essa história inspiradora. Obrigado por participar hoje com a gente.
Eder Campos: Agradeço. Acho que toda indústria tem que se transformar. Se é possível no saneamento, tem que ser possível em todas as indústrias. Por quê? Porque o saneamento é um monopólio natural. A gente muitas vezes tem essa visão. O cliente não tem opção, tem uma empresa única de água em sua cidade. Mas nós precisamos repensar isso. Por mais que o cliente só tenha o nosso serviço, eu não posso me acomodar, porque esse cliente se referencia nas outras indústrias, então essa competição é da experiência do cliente, da atenção do cliente. É o jogo que toda empresa tem que jogar. A transformação digital, que anda de braço dado com a percepção do cliente, não pode ser uma opção; ela é de fato uma via que todo mundo tem que entender, e o podcast tem um papel muito legal de poder despertar isso em todas as empresas. Parabéns.
Cassio Politi: Muito bem. Vamos chegando, então, ao final do Think Tech de hoje. Mas, antes de me despedir, eu fiquei curioso para saber uma coisa — Sara, você vive apenas no mundo virtual. Você é feliz porque não paga conta de água, não é?
Sara: Posso até não ter que pagar conta d’água, mas estou atenta aos problemas de escassez de água doce no mundo. Você sabia que, de acordo com a Universidade de Ohio, apenas 4% da água disponível no mundo é doce? Os outros 96% são água salgada.
Cassio Politi: Pois é. Em 2021, o problema de estiagem do Brasil, e em várias partes do mundo, assustou a gente. Você olha para países ricos e vê que existem soluções sempre muito baseadas em tecnologia. Por exemplo, no início dos anos 2000, Israel, que fica em uma região árida, construiu cinco usinas de dessalinização, ou seja, tira o sal da água, bebe aquela água do mar, então não falta água por nada, água salgada vira água doce. Não é uma solução fácil para nós, humanos.
Sara: Ainda segundo a Universidade de Ohio, a dessalinização é uma solução eficiente, mas tem dois problemas. O primeiro é o custo, é caro construir uma usina dessas. O segundo é o consumo de energia. Uma planta consome 200 milhões de kilowatts/hora para tirar o sal da água. É por isso que a solução é tecnologia. Eu tenho a fé digital de um ser humano de que vou encontrar uma solução tecnológica para a água, e não vai demorar.
Cassio Politi: Boa, Sara, legal. Eu também tenho essa fé que você tem. É isso aí. Enquanto isso, você fica sem tomar banho porque não precisa, e eu tento tomar meus banhos rápidos para dar minha contribuição, e as empresas de saneamento buscam se modernizar, como fez a Iguá, ou seja, cada um faz o seu papel. Este foi o Think Tech de hoje. A gente se vê no episódio que vem. Até a próxima.