Cassio Politi: O Think Tech está no ar, meu nome é Cassio Politi, e junto com a Algar Tech, nós vamos embarcar nessa jornada de repensar possibilidades. No episódio de hoje eu vou fazer aqui com você uma imersão em tecnologia de energia renovável, como a energia eólica. De cara, eu quero dar boas-vindas digitais para minha companheira virtual de podcast, é a Sara, nossa especialista virtual em negócios da Algar Tech. Sara, você talvez não sinta o vento bater no seu rosto, mas a energia que vem de uma usina eólica faz muito bem para você também, não é Sara?
Sara: Oi Cassio, sem dúvida. A energia que vem de uma usina eólica é muito bem vinda, porque é energia renovável, não agride o meio ambiente e é considerada a energia mais barata que existe.
Cassio Politi: Aí que está Sara. O Brasil é considerado o país mais propício para gerar esse tipo de energia, porque a gente tem vento bom de sobra, especialmente no Nordeste, só que hoje só 11% da nossa energia é gerada por partes eólicos.
Sara: É verdade. A boa notícia é que esse cenário vai mudando aos poucos, a estimativa do Operador Nacional do Sistema Elétrico, mais conhecido como ONS, é de que em 2025 esse percentual suba de 11 para 13,6%. Isso acontece porque os parques eólicos continuam sendo construídos, em 2021 por exemplo, de cada dez novas usinas construídas no Brasil, sete eram eólicas.
Cassio Politi: É bom ouvir isso Sara, daqui há três anos a gente salta de 11% para 13,6% de toda a energia sendo produzida a partir do vento, como você disse. Vamos, então, torcer para esse ritmo acelerar depois. Para o bate papo de hoje, eu tenho a satisfação de receber o Roberto Oikawa, que é diretor de tecnologia da Casa dos Ventos. Eu estou falando aqui de uma das maiores empresas de energia renovável do Brasil, a Casa dos Ventos começou como uma desenvolvedora, hoje é comercializadora e geradora de energia. Só para você ter uma ideia, ela responde por 30% da energia eólica gerada no Brasil, não é pouca coisa, e a gente está falando de um tema muito importante, muito sério, que é energia renovável, principalmente a energia eólica. Roberto, que prazer receber você aqui, obrigado por aceitar o convite para esse bate papo.
Roberto Oikawa: Cassio, o prazer é todo meu, é uma grande satisfação estar conversando com você e consegui explicar um pouco mais sobre o que a gente faz aqui na Casa dos Ventos e como a gente está transformando a matriz elétrica aqui do Brasil, limpando essa matriz e proporcionando aqui para o Brasil um futuro mais sustentável em termos de energia.
Cassio Politi: Você já começa tocando em um ponto importante, matriz sustentável, porque a energia eólica, pelo pouco que eu pesquisei aqui, é a segunda maior responsável pela produção de energia no Brasil, fica atrás das hidrelétricas, e a maior concentração está no Nordeste, que gera quase 90% de quase toda a energia eólica do Brasil, segundo a ABEEólica. É justamente lá no Nordeste onde venta mais, e aqui começa nosso papo sobre tecnologia, porque você tem que escolher o lugar onde você vai colocar as turbinas eólicas, ou os aerogeradores. E por que isso tem a ver com tecnologia? Porque você tem que descobrir onde está o vento, e não é empinando pipa ou colocando uma biruta lá e falar: “Olha, perto daquela pedra ali está ventando mais”, não é assim que você descobre onde está o vento, não é assim que você define onde vai ficar uma usina, tem uma tecnologia sofisticada por trás dessa escolha, não é Roberto?
Roberto Oikawa: Tem sim Cassio, tem muita tecnologia, tem muita engenharia, e aqui na Casa dos Ventos teve uma visão empreendedora muito sagaz do nosso fundador, do Mário Araripe, porque a gente começou com essa campanha de medição, que foi a maior campanha de medição de vento do mundo, 14 anos atrás, e é por isso que hoje a gente está nesse patamar de geração e de comercialização de energia. Então sim, teve muita tecnologia e engenharia por trás, porque é o que você falou, a gente precisa saber os lugares mais propícios para se construir um parte eólico, se a gente for ver hoje, a gente hoje está construindo o que vai ser o maior complexo eólico do mundo, é um grande motivo de orgulho aqui para o Brasil, e a gente está falando de investimentos da ordem de 6 bilhões de reais, então você precisa ter muita certeza de onde você vai construir esse parque, onde você vai fazer esse investimento, porque simplesmente você não pode errar. E como começa tudo isso? Começa com uma análise de dados muito profunda, primeiro com imagens de satélite, e depois com a instalação dos nossos próprios pontos de medição, porque a imagem de satélite te dá uma resolução limitada, só que efetivamente você tem que chegar no lugar onde você suspeita que realmente tem uma fonte de vento propícia para a geração, e você tem que instalar torres de medição ali. E a gente aqui é bastante conservador, porque a gente mede o vento na região por pelo menos cinco anos, o regulatório pede no mínimo três, mas a gente preza por qualidade, aqui a gente mede por cinco anos, e para você ter uma ideia, essas torres de medição, hoje a gente tem 300 torres de medição pelo Brasil medindo vento. Para você ter uma ideia da grandiosidade dessas torres, elas tem 140 metros de altura, o COPAN, para quem é paulista, o COPAN aqui tem 115 metros de altura, e a gente tem 300 dessas torres medindo vento pelo Brasil. Uma vez que você mede o vento por cinco anos na região, aí entra um trabalho de analytics, de inteligência artificial para saber exatamente quanto de energia vai ser possível gerar naquela região, uma vez que a conta fecha, aí sim começa um trabalho de montagem do projeto, de construção do parte eólico. E o lado bonito dessa história é que o seguinte, diferente de, por exemplo, uma hidrelétrica, um parque eólico, você não precisa desalojar as pessoas que moram naquela região, então a partir do momento que a gente chega com as nossas torres de medição, a gente faz contratos com os proprietários das terras, ali a gente está falando de terras no interior do Nordeste, do interior do Rio Grande do Norte, interior da Bahia, então muitas vezes são comunidades simples, carentes, que moram ali, a gente chega ali, faz contratos com eles, a gente deixa uma remuneração para eles, para a gente ter o direito de instalar essas torres. Então, o que acaba acontecendo, é um efeito cíclico positivo, porque você acaba transformando a realidade do lugar, primeiro com a torre de medição, e depois, se efetivamente se construir um parque eólico ali, os proprietários do terreno ainda recebem uma renda adicional pelo fato de a gente estar instalando os aerogeradores lá, e a vida deles continua. Então isso gera um efeito cascata ali na comunidade muito positivo, porque aquela pessoa já está com uma renda extra, pelo fato de ter uma renda extra, ela consegue já consumir mais, isso propícia o vizinho a abrir uma lojinha, abrir um estabelecimento. Enfim, é um lado muito bonito esse da energia renovável, que a gente não está falando só da sustentabilidade do meio ambiente, mas a gente está falando da sustentabilidade também humana ali, das condições de vida das pessoas da região, fora os empregos diretos e indiretos que a gente gera.
Cassio Politi: E não polui, aquela torre não está poluindo nada, não é Roberto? Perdoa minha ignorância, mas você não está gerando nenhuma poluição e nenhum impacto ambiental, está?
Roberto Oikawa: Nenhum, a gente tem… são só medidores que a gente mede chuva, vento, direção do vento, humidade, enfim.
Cassio Politi: Aliás, eu fiz uma conta rápida aqui, claro que com o auxílio do Google, mas para quem não é de São Paulo e não conhece o COPAN, o edifício famoso, 140 metros dá um prédio de uns 55 andares, para quem não for de São Paulo, então é uma torre bem alta, bem grande, bem imponente. E pegando esse aspecto ainda da tecnologia, quero explorar já já essa coisa do impacto na sociedade, o impacto positivo na sociedade, mas eu vou um pouco mais a fundo ainda nessa coisa da tecnologia, porque aqui a gente fala muito da tecnologia como meio e não como fim, essa é a razão de existir desse podcast. E vê que interessante, a tecnologia de geração de energia conversa com a tecnologia que não parece ter muita ligação com isso, que é meteorologia, então você falou aqui, você pega imagem de satélite, lá de cima, e tenta localizar onde venta mais em uma região, aí que eu queria entender com você, porque entra um aspecto muito importante que você já mencionou rapidamente, que é a infraestrutura do próprio país. A gente conhece a previsão do tempo, o cidadão comum, como eu, que não está muito ligado nesses assuntos, por não trabalhar com isso, você conhece o serviço de meteorologia como algo assim, você quer saber se vai chover no fim de semana, para saber se eu posso viajar ou posso ir para a praia, mas isso é a camada mais superficial, é a pontinha da pontinha do iceberg, tem um business muito grande por trás disso, meteorologia provê informação para agronegócio, para engenharia civil, para aviação, para aeroportos e por aí vai. O problema, Roberto, é que a quantidade de equipamentos captando informação no solo, em satélite, corrente marítima, aqui no Brasil, é muito inferior a outros países, por exemplo Estados Unidos, provavelmente Israel e outros países ricos. Então a minha pergunta aqui é, vocês acabam tendo uma previsão de vento muito menos apurada no Brasil do que teriam se fossem fazer o mesmo trabalho, por exemplo, nos Estados Unidos?
Roberto Oikawa: Olha Cassio, o que você falou, você tem toda razão, existe uma disparidade muito grande aqui em termos de medição climatológica no Brasil comparado com países de primeiro mundo, e muitas vezes a gente reclama aqui da meteorologia no Brasil, mas não é porque existem incompetência na análise dos dados, mas é porque os dados são mais escassos. Então a partir do momento que a gente consiga ter uma malha de medição mais densa, a nossa assertividade, a assertividade dos nossos meteorologistas também vai se apurar. O que a gente faz aqui na casa dos ventos, a gente toma para sim a responsabilidade por essa medição, é por isso que a gente é bastante conservador, a gente instala as nossas próprias torres de medição nos lugares onde a gente detecta um potencial eólico alto, a gente mede por cinco anos, e a gente instala essas torres em uma proximidade, entre elas, muito menor, as torres mais próximas uma da outra do que o regulatório exige, porque a gente sabe que isso que vai dar para a gente dados de maior qualidade para a gente rodar os nossos sistemas internos de analytics e machine learning, e consegue ver se realmente aquele vento é um vento propício para a geração eólica, e qual é o comportamento daquele vento, não só ao longo dos meses, mas ao longo do dia também, porque a gente está falando de uma fonte intermitente, não basta só a gente saber que existe o vento ali, mas a gente tem que saber detalhes sobre ele, a gente tem que saber que horas que ele sopra, por quanto tempo, qual é a velocidade dele, porque uma turbina eólica, um aerogerador, para você ter uma ideia, ele tem 165 metros de altura, 165 metros de altura, de novo, para quem é de São Paulo… eu sou paulista, para quem é de São Paulo, é a altura do Edifício Itália, para você mover aquelas pás você precisa de muita força do vento. Então, sim, o que você falou tem toda razão, a gente aqui no Brasil carece de mais pontos de medição, a partir do momento que a gente consiga ter uma rede maior de medidores espalhados pelo Brasil, a assertividade da meteorologia no Brasil vai melhorar bastante, e o que acaba acontecendo é que muitas empresas que dependem de uma assertividade maior, meteorológica, elas acabam tendo que se resolver por si, assim como a gente está se resolvendo por si instalando os nossos próprios sensores.
Cassio Politi: Vocês estão no mercado há bastante tempo, você falou 14 anos, não é Roberto?
Roberto Oikawa: Sim.
Cassio Politi: Eu imagino que dez anos atrás, por exemplo, você não tinha tecnologias que hoje são quase commodities, você citou aí, machine learning, e é isso que eu queria te perguntar, como é a diferença de análise de dados hoje para dez anos atrás? O que dá para fazer hoje, com inteligência artificial, machine learning, uma faz parte da outra, que você não conseguia fazer com humanos lendo os dados, por exemplo, dez ou 14 anos atrás? O que mudou com a chegada dessas tecnologias, com aplicação mais fácil delas? Claro que elas estão aí, inteligência artificial está aí desde a década de 50, não quero cometer esse erro conceitual, mas a chegada no sentido de você ter aplicação fácil para elas. Então, o que mudou, agora, com você aplicando esses conceitos? O que dava para fazer que não dava, por exemplo, dez anos atrás?
Roberto Oikawa: Olha Cassio, dá para a gente ser muito mais rápido e muito mais assertivo nas análises, eu vou dar para você dois exemplos. Imagina o seguinte, a gente detectou que uma região tem um potencial eólico, instalamos as torres, começamos a receber a telemetria dessas torres, todas as características do vento, e a gente quer fazer um cálculo de… ok, se a gente construir um parque eólico nessa região, quanto de energia efetivamente vai conseguir ser produzida nesse parque eólico? Isso envolve uma série de cálculos, envolve as características do vento, envolve as características do aerogerador, envolve as características do terreno. É uma série de simulações que são feitas, para no final falar assim: “Olha, um investimento aqui vai ser de X bilhões de reais, a venda da energia vai trazer uma receita de X bilhões de reais”, a conta fecha ou a conta não fecha. Para você chegar nesse cálculo de quanta energia vai ser gerada no parque eólico, antigamente a gente levava 14 dias de cálculo, de tempo ali, de análise de dados, de botar os sistemas para rodar, de fazer as simulações. Com as tecnologias que a gente tem hoje, de cloud, de IA, a gente faz esse cálculo em um dia, então a gente reduziu de 14 para um dia, e esse cálculo sai com uma margem de erro muito menor. Então, você pensa o seguinte, quando a gente fala da nossa linha de desenvolvimento, o que é essa linha de negócio de desenvolvimento? É basicamente você compilar um projeto de um parque eólico e vender para alguma utility, para alguma geradora, porque a geradora vai lá, pega esse projeto, é ready to build, e constrói um parque, passa a gerar energia. Você reduzir de 14 dias para um dia, isso é timing de negócio, é a rapidez com que a gente entrega uma informação para o nosso cliente. Tem um outro aspecto, que é por exemplo, é o range, o wide, é o quanto de informação a gente consegue analisar ao mesmo tempo, para você ter uma ideia, cada aerogerador, e aqui a gente está falando que esse maior parque eólico que a gente está construindo, ele vai ter 240 aerogeradores, cada aerogerador tem 700 pontos de medição, ele tem 700 sensores lá dentro passando para a gente quais são as condições vitais dele, e essas informações, a gente analisa eles real time, a gente tem aqui nosso centro de operação, a gente analisa real time como está a saúde de cada um desses aerogeradores, você não consegue ter seres humanos fazendo essa análise de 700 pontos de medição vezes 240 aerogeradores. Então o que a gente tem? A gente tem a nossa IA que faz isso, e que alerta para a gente situações de que realmente um ser humano precisa fazer uma intervenção. Mas não é só aí que entra a IA não, ela entra também olhando para a previsão do vento, ela entra olhando para a previsão do vento, porque imagina o seguinte, se a gente começa a detectar que um aerogerador está apresentando sinais de que ele vai precisar de uma manutenção, quando que a gente vai fazer nossa manutenção? Quando o vento estiver mais fraco. Então a gente precisa olhar para o futuro, ver quando que vai ser essa janela, ver se dos sinais que a gente está olhando do aerogerador, ele permite que a gente chegue com ele até aquela janela, e ali sim a gente agenda a manutenção daquele aerogerador. Então você percebe que tem muita conta, muita simulação, muita predição por trás, que traz a resposta quase pronta para o ser humano fazer a intervenção, então o ser humano entra realmente para fazer a intervenção, mas toda análise já foi feita por trás por uma IA.
Cassio Politi: Perfeito. Eu queria falar um pouco então, Roberto, daquele ponto que você mencionou, tecnologia, de novo, é meio, não é fim, é assim que a gente enxerga, isso tem muitas aplicações, e uma delas é essa que você falou, já que as comunidades no entorno de um parque eólico acabam se beneficiando disso também, vira um benefício geral para todo mundo, e é aquela aplicação prática, a gente até já conversou em outra ocasião sobre isso, não em podcast, mas entre nós, de que é muito fácil visualizar isso que você disse. Você tem ali um parque eólico no Nordeste, se você pega e faz uma viagem, as vezes de lazer mesmo, para o Nordeste, muita gente já viu isso, você tem ali o parque eólico e em volta você tem uma comunidade mais pobre, você já viu isso muitas vezes em documentário na TV também, e você consegue melhorar a vida daquelas pessoas no entorno. Existe uma… claro, a vontade de vocês fazerem isso, está claro que a Casa dos Ventos gosta dessa ideia, gosta de ver isso acontecer, o que eu queria te perguntar é, existe também a boa vontade do poder público? Vocês encontram caminho livre de todos os lados para isso ou existem entraves? Assim, as vezes tem que passar por muitas instâncias de poder público, muitas instâncias de… não estou falando aqui de nenhum assunto obscuro, não estou falando de corrupção, nada disso, estou falando de instâncias, tem que passar por uma prefeitura, tem que passar por um estado, tem que passar por outro. Tem muitas barreiras para que você consiga essa ajuda para as pessoas e para essas comunidades ou esse é um caminho geralmente favorável, tranquila de você conseguir realizar e executar no Brasil?
Roberto Oikawa: Olha Cassio, felizmente, a gente tem um histórico de parceria e de cooperação com os agentes públicos regionais, seja nas áreas onde a gente instala as torres, seja nas áreas onde a gente constrói os parques eólicos, fantástica. Por quê? Eu estou falando aqui do Estado, o estado como ente público.
Cassio Politi: Uma instituição.
Roberto Oikawa: Como instituição, eles já perceberam que a iniciativa privada consegue resolver vários problemas que não necessariamente o Estado está conseguindo resolver. Então a gente encontra, sim, uma abertura muito boa, a gente consegue ter essa parceria muito maior, uma vez que a gente demonstre que o que está sendo feito é realmente algo sólido, é realmente algo que vai trazer benefício. Então por exemplo, tem caso de escolas, a gente vai lá, a gente constrói escola na região, a gente entra com a construção da escola, mas a administração da escola, a preservação da escola, o care pela escola, continua sendo do estado, da prefeitura, da comunidade, porque a gente também não quer tomar para si a responsabilidade completa sobre aquilo, todo mundo tem o seu quinhão de accountability, é importante todo mundo ter essa responsabilidade, mas sim, respondendo diretamente a sua pergunta, isso é um lado muito bom, muito positivo, a gente consegue ter essa parceria muito boa com os entes públicos.
Cassio Politi: É bom ouvir isso Roberto, porque me dá a sensação de que houve um tempo em que havia muita desconfiança, justamente isso que você falou, as empresas… acho que elas já convenceram de que… por que não ela dar a contribuição dela? Qual é a desconfiança que recai sobre isso, eu quero ajudar, não tomar para mim o papel do Estado, mas o que tem eu ajudar? E a ajuda é bem-vinda, a ajuda… aquela comunidade se beneficia realmente dessas ações, e a gente vê isso acontecer efetivamente em muitos casos. E um outro benefício que a gente vê da energia eólica é que é a energia mais barata do mundo, é difícil você conseguir pensar em outra energia que consiga competir com essa, onde está o desafio agora Roberto? É aumentar a participação desse tipo de energia na vida do brasileiro? Esse é um desafio que vocês enfrentam agora?
Roberto Oikawa: Cassio, é isso mesmo, a energia eólica, hoje, aqui no Brasil, é a energia mais barata que existe, isso é um fato. E a gente brinca que Deus é brasileiro, deve ser mesmo, os ventos aqui no Brasil são os melhores do mundo para se gerar energia eólica, então a energia eólica do Brasil é efetivamente a mais barata do mundo. Onde estão os desafios da energia eólica? Tem dois, um que é um desafio mais estrutural, e o outro que é o desafio mais de consumo. Deixa eu falar um pouco do estrutural primeiro, o Brasil tem uma característica muito bonita, aliás tem várias características muito bonitas, uma delas é que existe uma complementaridade das fontes de energia renováveis no Brasil, e o que eu quero dizer com isso? As fontes hídricas, eólicas, solar, elas se complementam ao longo do dia e ao longo do ano. Então por exemplo, quando se chove mais no Brasil, que é na época de verão, venta-se menos, quando se chove pouco no Brasil, que é no inverno, venta-se mais, ao longo do dia, quando está o sol apinho, venta-se menos, durante a noite, quando o sol já se pôs, venta-se mais. Então o Brasil tem uma característica de um efeito portifólio que a gente chama, que o Brasil consegue criar uma complementaridade e aumentar ainda mais a participação das renováveis na matriz elétrica, reduzindo fontes de energia poluentes, então esse é um desafio no lado estrutural que a gente vem investindo, vem querendo fazer a conscientização. O outro desafio está do lado do consumo, porque a gente está passando por um momento de abertura de mercado, então hoje, vamos supor, eu, você, como pessoas físicas, a gente não consegue escolher a energia que abastece a nossa residência, a gente é obrigado a comprar energia da distribuidora, assim como pequenas e médias empresas, elas também não conseguem escolher essa energia, só grandes empresas, que tem um elevado consumo de energia tem essa opção hoje, e o que existe é um cronograma de abertura do mercado para que cada vez esse consumo seja reduzido, essas camadas sejam reduzidas e cada vez mais empresas tenham esse poder de escolha para a compra de energia, não vai mudar o fio que chega na casa, o fio vai ser o mesmo, o que muda é o contrato de compra de energia que está por trás daquele elétron que está chegando na indústria ou na residência. Então, existe aqui um movimento justamente de como a gente oferece essa energia limpa e renovável para cada vez mais empresas, e existe hoje no mundo uma tendência, que é do SG, da sustentabilidade, que as empresas, as pessoas estão percebendo que realmente esse é um caminho positivo, e não é só um caminho positivo por conta do meio ambiente, de você ter consciência tranquila, mas o interessante é que é um caminho positivo inclusive financeiramente, porque a energia renovável é mais barata do que a convencional, então é um movimento de ganha ganha para todo mundo. Esse é o desafio que a gente tem hoje, a gente tem, lá no futuro, um universo de empresas que vão estar possibilitadas de escolher a energia que vai abastecer elas, e para a gente conseguir servir essas empresas só tem um caminho, que é a digitalização, então o que a gente está investindo aqui é justamente criar esses canais digitais para conseguir, para permitir que cada vez mais empresas consigam ter acesso a essa energia limpa e renovável que a gente produz.
Cassio Politi: Mais ou menos como seria, talvez, a TV à cabo, a internet, você escolhe o seu provedor, não é? A que distância você acha que a gente está disso Roberto?
Roberto Oikawa: A gente tem um cronograma, um horizonte que vai até 2024, por enquanto, ele só está chegando ainda a médias empresas, e existe uma discussão regulatória sobre o futuro desse cronograma, como que essa abertura vai se dar para cada vez consumidores menores. Então a gente ainda está um pouquinho distante aqui, eu e você, a gente ainda vai ter que esperar um pouco mais para conseguir escolher a energia que abastece a nossa casa, mas é um futuro que chega a ser quase que inexorável, a gente vai chegar lá, e a hora que a gente chegar lá, nós vamos poder, pelo celular, escolher: “Olha, eu quero que minha casa seja abastecida aqui com eólica, com solar, quero que seja a eólica, mas tem que ser da Casa dos Ventos, porque eu sei que por trás tem muita ação social que eles fazem”, ou não, “Eu quero me desdobrar, não importa de onde ela está vindo”. Agora, o mais interessante, é que provavelmente, quando a gente chegar nesse ponto, não vai ser eu e não vai ser você que vai escolher, vai ser alguma inteligência artificial dentro das nossas casas, que ela vai estar conversando com a nossa geladeira, com o nosso forno elétrico, com o nosso ferro de passar, ela vai ter o perfil inteiro de consumo da nossa residência, e ela vai falar: “Para esse perfil aqui, aquela empresa ali é a mais adequada para fornecer a energia para essa residência”. Então, é para esse futuro que a gente está se preparando, isso no fim só consegue ser viabilizado com tecnologia, então é o que você falou, tecnologia é um meio que melhora a vida das pessoas, lá daqui alguns anos a gente vai ter a nossa casa aqui tomando algumas decisões pela gente, entre elas a energia que está abastecendo a casa.
Cassio Politi: Pois é, o que parece ficção hoje vai ser o trivial daqui algum tempo, e as pessoas já enxergam isso com naturalidade, chocava mais você pensar nessa revolução tecnológica, hoje é mais natural, quando é que você ia imaginar você conversar com a Alexa? E hoje qualquer um conversa com a Alexa, eu dei um para a minha sogra outro dia, então é a coisa mais natural do mundo. É isso, que papo gostoso com você, e que bom saber que as coisas caminham nesse sentido, por isso que é bom fazer podcast sobre tecnologia, porque nos dá sempre uma sensação de que o mundo vai melhorando em diversas frentes, em diversos sentidos, e inclusive na energia, como você trouxe hoje aqui Roberto. Quero te agradecer muito pelo papo, as portas estão sempre abertas para você, obrigado viu Roberto.
Roberto Oikawa: Cassio, eu que agradeço, foi uma ótima conversa, super prazerosa, fico feliz que tenha agregado, você está de parabéns pelo podcast, eu já ouvi as versões anteriores, eu gostei muito, está com uma excelente qualidade, uma excelente curadoria.
Cassio Politi: Obrigado.
Roberto Oikawa: E eu fico a disposição para futuras iniciativas, um forte abraço para você e para todo mundo que está ouvindo a gente.
Cassio Politi: Muito bem, vamos chegando ao final do Think Tech de hoje. Sara, eu fico pensando aqui, a ente fala no podcast muito sobre tecnologia, as turbinas eólicas são herdeiras dos velhos moinhos de vento, a diferença é que o moinho usava o vento, ou a água até, para continuar girando infinitamente, e fazer algum tipo de trabalho mecânico com isso. Mas o moinho, se você pensar bem nessa… é um tipo de tecnologia que foi criada, em algum momento, lá atrás na história, não é?
Sara: Sem dúvida, é uma tecnologia sim, há registro dos primeiros moinhos no século V depois de Cristo, na região onde hoje fica o Irã, os moinhos de vento eram usados para a produção de farinha, com o tempo eles foram ganhando outras aplicações, como bombear água e diferentes formatos, e foram se espalhando para outras regiões. Na Europa, por exemplo, o moinho mais antigo de que se tem notícia está localizado na Inglaterra e é datado do ano de 1185. A tecnologia evoluiu, e encontraram uma forma de gerar energia a partir dos velhos moinhos, o mundo agradece por isso.
Cassio Politi: Sara, você resgatou do seu imenso repertório digital uma informação do século V, ou seja, mais de mil e 500 anos atrás, as pessoas já usavam tecnologia como meio e não como fim. Então, não foi na era digital que a gente criou esse conceito, o que a gente fez foi apenas colocar esse conceito dentro de um podcast. Até a próxima.