Cássio Politi: O Think Tech está no ar. Meu nome é Cássio Politi e junto com Algar Tech a gente vai embarcar nessa jornada de repensar possibilidades. No episódio de hoje a gente faz uma imersão em ensino à distância, em cursos que você faz pela internet. Por falar no aprendizado online, na cultura e no conhecimento dentro da internet, eu dou as boas-vindas mais uma vez aqui à Sara, à nossa especialista virtual em negócios aqui da Algar Tech. Olha, Sara, cursos online hoje entraram na rotina das pessoas, não é?
Sara: Oi, Cássio. Entraram, sim, e não apenas para quem faz cursos livres. Dados oficiais do IBEP mostram que os cursos online são os preferidos dos alunos também no ensino superior. Um levantamento de 2020 mostrou que 3 milhões e 700 mil pessoas ingressaram na universidade em 2020, 53% delas optaram por cursos à distância e 47% preferiram cursos presenciais.
Cássio Politi: É isso aí. Eu me enquadro nessa turma dos cursos livres. Não fiz curso online quando eu me formei na faculdade porque não tinha, mas hoje eu sou um grande entusiasta dos cursos online. Para o bate-papo de hoje eu tenho a satisfação de receber o Bruno Braga, que é diretor de tecnologia da Hotmart. Você conhece a Hotmart, você sabe que é uma empresa relevante, é uma plataforma de produtos digitais. Tem muita coisa lá. Tem curso, tem e-book, tem outros formatos, isso tudo ajuda determinado público a aprender mais sobre um tema, um tipo de conteúdo, só que a Hotmart não é quem cria os cursos. Ela é o ponto de encontro. Os cursos são dos criadores que comercializam e rentabilizam seu conhecimento. É um pouco do contexto da economia criativa, que é aquilo: quem tem conhecimento, compartilha esse conhecimento em algum lugar, lucrativamente, e esse lugar para compartilhar o conhecimento é a Hotmart. Bruno, muito bom ter você aqui. Obrigado por aceitar o convite para a gente bater esse papo hoje.
Bruno Braga: Cássio, eu que agradeço. Acho que vai ser muito proveitoso e a gente vai conseguir compartilhar ideias e conversar juntos sobre assuntos bem bacanas de tecnologia. Obrigado pelo convite.
Cássio Politi: Eu que agradeço. Acho que a tecnologia está no core, Bruno, do que vocês fazem, não é? Vocês usam a tecnologia como meio, não como fim, que é o propósito aqui do podcast, trazer a tecnologia sempre como meio. Vocês acabam sendo, como tentei explicar na abertura, meio para muita gente que não conseguiria criar a própria plataforma se não houvesse serviços como o de vocês. Só que vocês têm muita coisa criada dentro de casa. É isso que me chama a atenção. Vocês não são o tipo de empresa que vai lá, precisamos de um determinado recurso aqui, quem é a empresa no mercado que tem isso? Vai lá e compra. Pode até acontecer, mas não é a cultura de vocês. O próprio player de vocês não é um (inint) [00:03:29] da vida ou um YouTube, é um player que vocês criaram dentro de casa. Me parece que isso faz parte um pouco da cultura de tecnologia de vocês. Queria, primeiro, que você me confirmasse se é isso mesmo, se a minha impressão está certa. Segundo, qual é a vantagem de você internalizar ao invés de comprar ou trazer de fora esse desenvolvimento?
Bruno Braga: A gente se entende como empresa de tecnologia, então a gente investe muito nessa área, temos muitos produtos que a gente cria dentro de casa, componentes, que a gente monta, como se fosse um lego, para criar a plataforma que a gente permite que os nossos criadores de conteúdo publiquem cursos que os alunos assistam. Isso, para a gente, tem benefício muito grande de conseguir customizar da melhor forma possível para que a gente gere valor para as pessoas. Até a gente está fazendo um paralelo com o lego aí. A gente poderia ir ao mercado, como você comentou, e comprar uma caixinha, um produto de prateleira ou assinar um serviço que poderia compor a nossa plataforma, mas a gente entende que a gente fica um pouco preso e a gente não consegue fazer as customizações que a gente precisa. Quando a gente vai ao mercado e compra lá uma caixinha de lego, como a gente está falando, às vezes aquela caixinha de lego ali vai ter as instruções, vai ter tudo certinho, vai montar ali um avião bonito, um negócio legal, mas a gente encaixar aquilo na estratégia, em uma estratégia maior da empresa, é mais difícil, porque aí você quer customizar e as peças não se encaixam, não é exatamente daquele jeito. A gente é muito mais no modelo de comprar as peças individuais e montar o nosso avião ou o nosso carro, se a gente quer só atravessar a rua, que vai atravessar a rua ali, vai chegar do outro lado e vamos compondo ele da melhor forma possível com os outros recursos da plataforma.
Cássio Politi: Me dá um exemplo disso. Acho que deu para entender o conceito quando você usa a ideia de lego, avião, carro, ficou bem claro, mas não precisa ser um grande exemplo, um grande acontecimento. De que tipo de coisa a gente está falando na prática, na vida real?
Bruno Braga: Eu acho que esse exemplo que você trouxe, Cássio, do player é um exemplo legal, que todo mundo para assistir um curso, assistir um vídeo na internet toca ali e aquele vídeo é tocado em um player de vídeo. Ao invés de a gente colocar um player de mercado, a gente montou um interno nosso, a gente monta o processo de transformar o vídeo, as melhores resoluções aí para o aluno, legendar ele automaticamente, colocar recursos de anotação no meio de vídeo. Estou assistindo uma parte aqui que é legal, deixa eu pôr uma anotação para voltar depois. A gente vai compondo recursos ali na plataforma para entregar a melhor experiência para o aluno. Voltando no paralelo que a gente fez com o lego, a partir do momento em que a gente faz essa jornada de um carro que chega do outro lado, que é nosso objetivo, a gente começa a avançar em cima disso e falar assim: não, beleza, a gente já fez ele chegar do outro lado, agora a gente quer fazer uma otimização em cima disso para às vezes ter mais recurso ou gastar menos dinheiro. Aquele carrinho que ia lá a pilha, chegando do outro lado toda hora, todo dia, não, agora a gente vai pôr uma bateria. Agora a gente vai dar uma emagrecida nele, em peso. Agora a gente vai colocar mais recursos. A gente vai compondo isso para que a plataforma fique cada vez mais interessante para o nosso público de creators e de alunos.
Cássio Politi: Entendo perfeitamente o que você está dizendo, Bruno. Eu sou um consumidor voraz de curso online. Especialmente de áreas fora da minha. Tecnologia, principalmente. É muito claro o que você está dizendo. Você tem esses recursos, às vezes, de parar no meio do vídeo, fazer um teste ali ou anotação, como você falou, faz muita diferença. Agora, estou dando a minha visão. Se eu chegar para você e falar como eu uso, talvez eu não seja representativo do universo de vocês. Imagino que vocês tenham que entender bem o que o público está querendo. Qual que é o melhor jeito hoje de entender? Eu sei que vocês têm muitos dados. First-party data, que vocês têm em casa, deve ser muito útil. Mas qual que é o melhor jeito de entender? É pesquisar a base? É observar o usuário? Na tua opinião, de onde saem os melhores insights e direcionamentos?
Bruno Braga: O melhor jeito é estar próximo dos nossos clientes, dos nossos alunos, entender o feedback deles, fazer pesquisar de mercado. A gente tem realmente um time de data grande dentro da empresa. Tudo que a gente faz de uso da plataforma gera eventos, isso é muito rico para a gente analisar, ver onde que as pessoas estão usando mais, aonde que elas estão parando a jornada delas, aonde que a gente pode melhorar. Essa análise, tanto dos dados que a gente tem interno quanto do que a gente ouve do mercado, dos nossos clientes, ajuda muito a gente a melhorar a plataforma. A gente tem times específicos para fazer essas análises e montar o nosso road map de melhorias, que, inclusive, a gente costuma lançar muita coisa no Fire Festival, um grande evento que a gente faz anualmente, a gente fez agora, recente, em setembro, no Expo Minas, e muitas coisas a gente levou para lá, para lançar lá, para mostrar para a nossa comunidade avanços que a gente está tendo dentro da plataforma. Uma nova área de club de membros, onde as pessoas possam assistir com uma experiência melhor, teve NFT, teve um monte de recurso legal de tecnologia que a gente juntou com esse mundo de cursos e levou para a nossa audiência.
Cássio Politi: Pelo tamanho que vocês têm, Bruno, vocês já devem ter a preocupação razoável ou grande com segurança. Ainda mais agora, com a LGPD, todo mundo muito preocupado por questões legais ou mesmo questões éticas, preservar os dados de quem está na tua plataforma. Vocês têm muita gente lá. O que eu queria te perguntar é: internalizar, de algum jeito, impacta na segurança? Você tem um nível de segurança maior por ter essa cultura de desenvolver em casa ou é o contrário, às vezes você está ali trazendo soluções de fora, impacta mais na segurança? Como que é essa questão?
Bruno Braga: Eu diria que ajuda. A gente tem mais de 30 milhões de usuários na plataforma, então são muitos usuários, são muitos dados, e a gente consegue, da mesma forma que a gente monta o lego ali para colocar features para os clientes, que vão gerar valor para eles, a gente consegue conectar na parte que a gente chama de back-end, na parte interna da empresa, recursos de segurança para proteger esses dados da melhor forma possível, com as melhores práticas, para que a gente esteja sempre seguro. Por exemplo, dados pessoais. Recentemente a gente teve aí a LGPD, várias leis de privacidade aí no mundo, avançando muito, e a gente sempre muito preocupado com isso. Hoje, por exemplo, os nossos dados pessoais dos nossos clientes, dos nossos alunos, são todos criptografados. A gente não criptografa só a senha. A gente criptografa o nome, o e-mail, data de nascimento, se for o caso, CEP, endereço. Todos os dados têm uma criptografia e são criptografias diferentes para que a gente proteja isso e esteja cada vez mais seguro. Além dessa parte de tecnologia que a gente acaba conectando na plataforma para tornar aquilo seguro, a gente tem um time grande de segurança dentro da empresa, mais de 30 pessoas, que ficam ali o tempo todo pensando em novas formas de proteger o nosso maior ativo, que são os dados das pessoas, e de avançar também e descobrir problemas antes que alguém no mercado descubra. A gente tem aqueles (inint) [00:12:14] que a gente chama de (inint) [00:12:16] no mercado para ficar o tempo todo descobrindo, tentando ali encontrar formas, às vezes, de comprar um produto mais barato com um cupom diferente ou com alguma outra forma para a gente realmente corrigir o maior número de problemas possível e não deixar que isso seja explorado por uma pessoa mal-intencionada.
Cássio Politi: Claro. Você falou de time aí. Isso é um ponto que eu quero tocar com você. Porque você, quando assume essa função, acho que está tudo debaixo do seu guarda-chuva como diretor, você assume essa missão de desenvolver tudo em casa, você compra uma briga enorme, Bruno. Você está comprando uma briga que é montar esse time. O que mais se fala hoje no mercado é do apagão de profissionais de TI. Tem dados aí falando 200 mil vagas abertas, que você não consegue preencher porque não tem gente qualificada. Estão falando que daqui a 2, 3 anos, vão ter 400 mil e dá para acreditar, porque você vê isso acontecer no mundo inteiro e tem aquela coisa toda. Você começa a disputar o profissional daqui com empresas de fora que vêm com poder de contratação muito maior por conta do câmbio. Como é que você está sentindo isso? Está difícil contratar? Tem alguma manha para você conseguir manter esse time em pé? Como é que você está sentindo isso na pele?
Bruno Braga: Exato. Essa é uma dificuldade histórica e cada vez está maior ainda por causa dessas questões de pandemia, trabalhar de casa. Agora a gente concorre com o mundo inteiro. É sempre um desafio esse assunto, mas eu diria que a gente tem uma posição ainda privilegiada, principalmente dentro do Brasil, que a gente se posiciona como uma empresa de tecnologia, uma big tech dentro do Brasil, aonde as pessoas querem trabalhar na empresa. A gente faz muitos eventos com a comunidade, a gente mostra muita coisa que a gente está fazendo e as pessoas têm interesse de vir para cá para aprender mais também. A gente tem um mantra, que é: aprenda algo novo todo dia. Realmente acontece de chegar um funcionário novo, um desenvolvedor, alguém do time de devops e estar ali em uma jornada de aprendizado constante. Isso a gente consegue segurar muita gente nesse modelo de avanço grande de tecnologia e muita gente quer trabalhar aqui com a gente por causa disso. Eu diria que é um pouco diferente de uma startup ou de um unicórnio nos Estados Unidos, porque nos Estados Unidos tem uma concorrência grande ali com big techs que são Facebook, Google, Amazon etc. Depois tem uma concorrência grande com bancos que pagam muito. Depois chega as startups e unicórnios. Aqui a gente está se posicionando como uma big tech também dentro do cenário nacional e aí é mais fácil para a gente contratar aqui do que uma empresa de fora que está no mercado americano. Mas tem seus desafios, os desafios de concorrer também com as oportunidades que estão lá fora, que estão vindo aqui, contratando pessoas do Brasil. Tudo no seu tempo. A gente com a cultura forte, investindo muito em tecnologia, tem um potencial muito grande também.
Cássio Politi: Eu ouvi a opinião de uma pessoa, queria ouvir a sua. Uma pessoa que, inclusive, tem uma empresa lá no Recife, no porto digital, que é um super case de sucesso aí. Ele me falou uma coisa que eu nunca tinha ouvido, não sei, vou compartilhar com você e você me diz se é a mesma realidade que a sua ou não. Falou: olha, tem realmente empresa que vem ali com aqueles salários, 120 mil dólares por ano. Vou fazer uma conta rápida aqui, a gente está gravando finalzinho de setembro, início de outubro, a gente nunca sabe para onde vai o dólar quando a gente publicar o podcast. 120 mil dólares por ano, vou colocar aqui um câmbio, arredondar para 5. Daria 600 mil reais por ano. É um salário de 50 mil reais por mês. 600 mil por ano e 50 mil por mês em reais. É um salário muito acima da média de qualquer mercado. Por outro lado, ele está dizendo o seguinte: para a garotada, o cara solteiro, atrai isso, porque ele vai ter ali um ganho grande, em contrapartida ele não vai encontrar ninguém, ele vai estar em uma viagem meio solitária aqui, então ele vai se desenvolver menos e ele vai ter uma insegurança aqui de, putz, amanhã se a empresa falar não preciso mais de você, tchau, ou por qualquer coisa ele vai ter que procurar emprego. Isso para o mais novo interessa. Para o mais velho, aquele pessoal que está mais sênior, ele muitas vezes prefere ganhar um pouco menos, e ainda é um bom salário. Não são 50 mil, mas é um bom salário, e ele tem ali mais estabilidade, mais interação, ele tem às vezes benefícios, então ele está pensando nos filhos, na família, plano de saúde, essas coisas. Esse foi o relato de uma pessoa de uma startup grande lá no porto digital. Você também percebe isso ou a tua percepção é diferente?
Bruno Braga: Eu percebo e complemento com uma parte, que é cultura. A gente trabalhar aqui dentro do Brasil com brasileiro, próximo, no mesmo idioma, seguindo ali uma mesma linha que a pessoa está acostumada é uma coisa. A gente trabalhar junto com uma empresa que, muitas vezes, de fora, com uma outra cultura, seja americana, seja da Europa, é uma dificuldade maior não só na barreira do idioma, mas a cultura das pessoas, a forma de eles trabalharem. A gente conhece bem, porque a gente tem uma empresa que a gente comprou nos Estados Unidos, que é a PITBULL, e é bem diferente o modelo de trabalho. Muitos times ou muitas pessoas que às vezes a gente coloca para trabalhar junto com eles, ali no início tem uma barreira cultural grande, eles trabalham diferente, vão para um outro caminho, a gente tem que se adaptar daqui, eles têm que se adaptar do lado de lá. É uma barreira que dificulta essa evolução do profissional. Aqui no Brasil a gente, ok, tem um monte de dificuldade, tem moeda aí que realmente é um problema, mas para eles evoluírem na carreira, para tornar um sênior, um especialista, uma referência aonde ele quer chegar, é muito mais fácil ele conseguir isso aqui no Brasil, com muita gente ajudando, impulsionando ele, com a gente em uma empresa legal, trazendo tecnologia na veia, do que fazer isso em uma empresa com outra cultura, que, às vezes, ele vai estar sozinho, ele vai ser mais cobrado, daqui a pouco a empresa muda a rota, às vezes ele vai ser um dos primeiros ali a serem desligados também, nessa dificuldade do mercado. É um modelo bem diferente. É um modelo que, no início, vai ter um ganho grande, mas também tem algumas perdas. Essas perdas eu acho que quem tem uma experiência maior coloca muito na balança de evolução, de família, de benefício, que pesa também um pouco em favor de uma empresa como a Hotmart.
Cássio Politi: Você falou de comprar a PITBULL nos Estados Unidos. Vocês começaram em 2011. Estão indo de 11 para 12 anos de vida, e eu vejo que as empresas demoram muito para se internacionalizar. É só pegar o histórico de empresas de sucesso, startups que deram certo, estão dando certo, o passo da internacionalização vem em um outro estágio, em um estágio mais maduro da empresa, não vem logo de cara. Vocês fizeram em 2 anos a internacionalização. Em 2013 vocês já estavam por aí, pelo mundo afora, literalmente. No ponto de vista de tecnologia, como é que isso impacta? Que desafios você tem quando você vai para outro país? Que ganhos você tem também quando você vai para uma operação internacional?
Bruno Braga: Bacana. Realmente, a gente foi muito rápido para fora. A gente teve o benefício de ter um investidor que era um dos heads do Booking.com, então ele ajudou muito a gente nesse processo, então a gente lá, de cara, já abriu um escritório na Espanha, fomos fomentando o mercado lá também. Como a gente estava ajudando no Brasil a criar um mercado de um assunto novo, que é ser creator economy, uma economia de criadores de conteúdo digitais, a gente começou a fomentar isso em outros países também. Isso foi bem legal para a gente, ter começado isso lá atrás. Obviamente, tem os desafios, mas foi bem legal. Olhando do lado de tecnologia, um grande desafio que a gente viveu e, de certa forma, ainda vive, é com a questão da operação 24 por 7. Como a gente vende para 188 países, obviamente em alguns momentos, para alguns países, a gente está dormindo no Brasil quando é o horário comercial no outro país. A gente tem uma dificuldade pela questão do time zone, pelo fuso horário, de atender o mundo inteiro com profissionais do Brasil. Não dá para a gente trabalhar 24 horas por dia, não dá para a gente colocar as pessoas para trabalharem de madrugada, que já é difícil contratar no horário comercial, imagina de madrugada. A gente montou um modelo que a gente chamou de follow the sun, a gente fez bench com grandes big techs também que têm o mesmo desafio, como a Amazon, Google e etc, e entendemos como que eles funcionam a gente montou um modelo parecido de follow the sun, que é ter pessoas trabalhando em fuso horários diferentes também para que dentro desses fuso horários diferentes, quando a gente estiver dormindo no Brasil, tenha alguém, por exemplo, lá na Holanda, no nosso escritório da Holanda, com perfil técnico que consiga suportar a plataforma ali naquele horário e resolver problemas ali se for necessário. Com isso, a gente consegue cobrir o mundo de uma forma melhor, colocando time zones diferentes aí no nosso time. Esse é um dos desafios, mas tem vários. É a questão de internacionalização realmente traz aí uma complexidade para o business, ajuda por muitos lados, mas traz uma complexidade que a gente trata no dia a dia usando conceitos como esse do follow the sun.
Cássio Politi: Muito interessante. Ia justamente perguntar isso. Eu imaginei isso, vai contar que tem gente pelo mundo afora. Acho que outro desafio, vê se eu estou certo, é a própria moeda, não é? Um desafio para a TI mesmo, porque conversei outro dia, eu estava em um evento em setembro nos Estados Unidos e caí nessa conversa, por coincidência, com um americano, e ele falando de trazer uma ferramenta de inteligência artificial. E no Brasil, como está aquele papo? Estamos pensando em expandir para a América Latina, mas ainda não estudei nada. Falei: ó, vai dar uma olhada na questão da conversão, talvez tenha que ter o suporte de um banco de câmbio ou algum serviço do tipo, porque na tua cabeça vender é cobrar em dólar e ponto final, e o brasileiro não é muito assim, ainda mais agora, nesses últimos anos. Na verdade, historicamente, não é só nos últimos anos. Historicamente, o dólar sempre oscilou, tanto que você vai ao mercado financeiro, pouca gente opera dólar porque não tem a menor ideia do que vai acontecer com ele amanhã. O gringo não tinha nenhuma ideia disso, Bruno. Pô, mas como assim? Cara, vou te explicar: a gente não paga cafézinho em dólar no Brasil, a gente tem a moeda lá. Para você, como é que é? Porque você está do lado de cá. Você sabe bem qual é esse problema desde que você é criança, você sabe que isso existe. Como é que para vocês bate a questão da internacionalização quando a gente fala de moeda operada ou viabilizada por TI?
Bruno Braga: Cai muito em um carro chefe nosso aqui, em um dos produtos nossos, que é carro chefe, que chama Hot Pay. Dentro do Hot Pay, como você falou, no mercado é complexo a gente cobrar coisas em outras moedas, converter, pagar imposto de outros países. Às vezes a cobrança naquele país tem um modelo diferente. Vamos pegar o exemplo do Brasil. Aqui a gente tem boleto. Se pegar uma empresa de fora para fazer um pagamento no Brasil, às vezes eles não vão suportar boleto. Só que vai ter o problema de conversão, de vender mais, porque às vezes vai chegar, por exemplo, em um modelo que a gente vende curso, vai vender curso para uma pessoa que não tem cartão de crédito ou que o cartão de crédito não tem o limite para comprar aquele curso, então como é que você vai vender no Brasil sem ter boleto também como opção? Mas é a mesma coisa para fora. Você pegar o México, um modelo parecido aí é baloto. Cada país tem um modelo um pouquinho diferente que não é só cartão. Com isso, a gente tem um produto que chama Hot Pay, que ele é um produto feito para gerenciar pagamentos de produtos digitais com integração em vários países que se integra na cultura do país. A gente pode montar um curso no Brasil, vender para o Brasil em cartão, um cartão, dois cartões, três, boleto etc, mas, ao mesmo tempo, quando a gente for vender, o produtor daquele curso for vender no México, ele vai ter a facilidade do produto Hot Pay abstrair para ele a complexidade do mercado do México, porque vai suportar ali também vários pagamentos locais na moeda mexicana, no formato bancário mexicano e que facilite ele a não ter que lidar com essa complexidade. A gente usa a tecnologia para ajudar o nosso produtor de conteúdo a expandir aquela venda dele para o mundo inteiro e ter essas vendas realmente em 188 países, se ele quiser, e suportar melhor aquele business ali, fazer as conversões, dar a opção de ele sacar o dinheiro. Tudo isso a gente abstrai dentro da nossa plataforma em questão de moeda, em questão de cultura e integração com o business local daquele país.
Cássio Politi: Muito legal ouvir isso. Acho que, assim, você está descrevendo muito da cultura de vocês. Para a gente fechar, vou voltar no começo da conversa. A gente começou falando aqui de desenvolvimento em casa. Acho que vocês têm uma característica de continuidade, Bruno. Me parece, pelo menos é o que falam da Hotmart no mercado. O que foi criado lá atrás, sei lá, 10 anos atrás, não necessariamente foi jogado fora e substituído. Às vezes o código, eu estou falando, você tem alguma aplicação que foi criada ali, é muito comum, dá vontade em TI você parar e falar: vamos refazer a coisa toda aqui? Vai resolver uma série de problemas. Está bom, mas vai gerar outros. Essa cultura da continuidade, os sócios, os fundadores são devs. Ela é ainda presente na cultura de vocês ou conforme vocês foram crescendo precisou abrir mão disso?
Bruno Braga: Eu me arrisco dizer que deve ter código deles ainda de 11 anos atrás do JP e Matheus, que realmente eles são muito técnicos, trabalharam muito na plataforma lá no início, e o que a gente faz não é jogar nada fora. Obviamente, a gente moderniza as coisas, e nessa modernização, o que foi criado lá atrás, que às vezes ela um monolito quando surgiu a empresa, com o MVP da plataforma, a gente foi quebrando aquilo em conceitos de micro serviços para que a gente tenha a menor parte possível da aplicação, conseguir escalá-la melhor, mas a gente preservando o core aquilo ali. Na tecnologia a gente vai fazendo isso, a gente vai modernizando as coisas, mas não vai jogando fora. Nessa modernização, a gente, como uma empresa de produto, uma empresa de projeto, a gente tenta sempre evoluir aquele produto para que a gente gere mais valor em cima dele, a gente embarque mais tecnologia, tenha benefícios em cima daquilo, mas continue sempre na evolução. Eu acho que isso é um segredo bem legal de uma empresa de produto. Tem muita gente que gosta inclusive de trabalhar em empresa de produto, que ele vê evolução, é um projeto que nasce, tem um meio ali dele, daqui a pouco ele morre, tem que começar outro. É uma evolução constante e as pessoas sempre aprendendo em cima daquilo. Isso acho que é algo bem legal de empresas de produto como a Hotmart.
Cássio Politi: Muito legal. Bruno, quero te agradecer muito pelo papo. Muito interessante conversar com você. Muito gostoso conversar com você e trazer essa visão de uma empresa que acho que cruza o nosso caminho toda hora aí. Eu acho que quem nunca cruzou o caminho da Hotmart é porque não está estudando, não está consumindo conteúdo, e acho que muita pouca gente isso. Tudo que você deu números da base de vocês, que é gigante, não me surpreende que seja assim. Te agradeço muito pelo papo. Obrigado, viu, Bruno?
Bruno Braga: Eu que agradeço, Cássio. Foi bem legal. Estamos aí à disposição sempre que precisar e vamos que vamos. Na nossa nave aqui, nosso foguete continuar crescendo muito e ajudando aí a nossa comunidade a evoluir. Como a gente diz, viver das paixões. Quem gosta aí de lançar curso ou de aprender algo novo está no lugar certo.
Cássio Politi: Muito bem. Vamos chegando, então, ao final do Think Tech de hoje. Sara, a gente falou aí do apagão em TI da concorrência que vem para profissionais de tecnologia com ofertas de vaga no exterior e são salários bons, por exemplo, nos Estados Unidos, não é?
Sara: São salários competitivos, sem dúvida. Uma reportagem do jornal US News mostra que o salário de um desenvolvedor de tecnologia nos Estados Unidos varia bastante. Pode ir de 84 a 140 mil dólares por ano. Mas, na média, fica em 110 mil dólares anuais e vem aumentando a cada ano. Em 2010, por exemplo, eram 90 mil dólares anuais. Em 2016 eram 104 mil. Agora bateu nos 110 mil dólares por ano.
Cássio Politi: Deve continuar crescendo. É isso aí. Think Tech de hoje fica por aqui. Até a próxima.