Cassio Politi: O Think Tech está no ar, meu nome é Cassio Politi, e junto com a Algar Tech, nós vamos embarcar nessa jornada de repensar possibilidades. No episódio de hoje a gente faz uma imersão em diversidade nas empresas de uma forma ampla e prática. A gente conversa com duas gestoras, mas antes de apresentá-las, eu quero abrir o programa com uma mulher muito especial também aqui do Think Tech, que é a Sara, a nossa especialista virtual aqui na Algar Tech. Sara, diversidade é um tema presente no mercado, não apenas no Brasil, mas no mundo todo, não é?

Sara: Oi, Cassio. Diversidade é uma pauta presente em empresas do mundo inteiro sim, um estudo foi feito pela consultoria PWC com 3 mil pessoas em 40 países, 76% dos entrevistados dizem que a diversidade é um valor declarado ou uma área de prioridade para a organização onde trabalham, parece uma estatística positiva, mas tem um dado adverso nessa pesquisa, 33% das pessoas enxergam a diversidade como uma barreira no avanço da empresa. 

Cassio Politi:: Sara, esses dados indicam que a diversidade é um tema em desenvolvimento no mundo todo, muito interessante, obrigado por trazer esses dados, Sara. Para o bate papo de hoje, eu tenho a dupla satisfação de receber duas mulheres muito importantes no mercado e muito relevantes aqui para o nosso podcast, vou começar pela nossa convidada externa, que é a Marina Crespi, gerente de programação do canal TV Globo em Minas. Marina, muito bom ter você aqui, obrigado por aceitar o convite para esse bate papo. 

Marina Crespi: Obrigada vocês, gente, é um prazer estar aqui ao seu lado, ao lado do Tati, é um prazer, vai ser ótimo. 

Cassio Politi:: É isso aí, obrigado, nós agradecemos, vai ser ótimo sim. E junto com a Marina, a gente tem hoje a honra de receber a presidente da Algar Tech, a Tatiane Panato, ou simplesmente Tati, que vai completar esse papo aqui hoje junto com a Marina. Tati, que bom receber você aqui, obrigado por abrir um espaço na sua agenda para receber o Think Tech, ou participar dele, melhor dizendo. 

Tatiane Panato: Não, que alegria e que honra estar aqui nesse podcast, no Think Tech, eu tenho vista tantas edições, é a primeira que eu vou participar, com uma alegria enorme. E Marina, muitíssimo obrigada por ter aceitado nosso convite, é uma honra ter você aqui, eu tenho certeza que vai ser ótimo. 

Marina Crespi: Obrigada vocês, gente, adorei o convite. 

Cassio Politi:: Que bacana. Vamos lá então, a gente tem alguns temas para tratar aqui, deixa eu começar falando de diversidade. Hoje, 58% das empresas aqui no Brasil adotam algumas políticas relacionadas a gênero, então já dá para dizer que é maioria, embora não seja a totalidade, já temos aí seis em cada dez empresas com algum tipo de política relacionada a gênero, essa estatística leva em conta, claro, empresa de qualquer setor. Como é que vocês percebem essa realidade nas indústrias onde vocês duas estão inseridas? Na tecnologia pelo lado da Algar Tech, mídia pelo lado da Globo Minas.

Marina Crespi: Bom, eu acho que é um momento, Cassio e Tati, muito importante para a gente tratar desse tema, porque as nossas duas empresas, eu acredito, se eu estiver enganada a Tati me corrija, mas a gente tem que ter uma sintonia com a sociedade enorme, então a gente, a nossa sintonia com a sociedade precisa se refletir aqui dentro, no nosso trabalho, no nosso dia a dia. Então uma equipe diversa é o segredo para a gente ter sucesso, então a gente ter diversidade de gênero, diversidade de classe social, porque a gente vê o mundo, mas não vê com os olhos dessas pessoas que estão nesses lugares, a gente pode até conhecer essas realidades ou achar que conhece, porque eu acho que na maior parte das vezes talvez a gente acha que conhece porque a gente vê, mas quando você tem pessoas múltiplas, diversas, inseridas na equipe, na minha opinião é o maior ganho que a gente pode ter, porque eu acho que para tudo que a gente olha a gente tem sempre o viés da minha experiência de vida, de onde eu vim, de onde eu nasci, de onde eu vivi, e das outras pessoas também. Então pode ser que algo que não seja tão legal para mim é muito incrível para alguém que venha de um outro lugar, e juntar essas ideias e debater sobre elas eu acho que é o mais rico que a gente pode ter, dentro da comunicação é fundamental. 

Tatiane Panato: Eu adorei o que você falou, Marina, sobre o olhar, eu acho que diversidade é isso, é a gente se preocupar com cada olhar diferente, porque cada pessoa é única, e o respeito a diversidade é o respeito a individualidade e as escolhas de cada um. Então, eu costumo dizer aqui dentro da organização que é isso, quando a gente respeita e constrói um ambiente em que as pessoas se sintam a vontade, sintam que vem trabalhar e o trabalho ou o ambiente onde elas trabalham é um pouco a extensão da casa delas, que é onde elas se sentem seguras, o que eu gostaria é que as pessoas que trabalham aqui conosco, que elas se sintam seguras como elas se sentem na casa delas, para expressar suas opiniões e para darem o seu melhor, porque quando a pessoa se sente segura, se sente feliz, respeitada, ela vai ser o melhor profissional possível, e isso independente de qual guilda a gente fale, porque a diversidade a gente tem uma amplitude de diversidade enorme, como você falou, etnia, cultura, geração, gênero, então o importante é a gente entender isso e trabalhar dentro das organizações, eu normalmente, quando participo de alguma roda para trabalhar diversidade, eu sempre digo o seguinte, para cada um também, a diversidade é diferente, para cada organização, cada organização tem um ambiente diferente, e a primeira coisa que a organização precisa fazer é entender a diversidade que ela tem, porque senão a gente começa a gente começa a falar, e começa a estabelecer algumas coisas sem entender direito a base que a gente tem. Então, entender a base, entender a complexidade da sua diversidade é o primeiro passo que eu diria para qualquer organização. E a partir disso, a partir do entendimento, aí você começa a desenvolver isso. Estou dizendo isso para você só para dar um exemplo sobre a Algar Tech, a Algar Tech é uma empresa que no que diz respeito a gênero, tem uma diversidade já bastante relevante, porque 63% da empresa são mulheres, 58% são líderes, então quando a gente olha a gente já tem uma representatividade interessante no total, e a gente já tem uma representatividade interessante em camada de liderança. O que a gente tem que fazer ali? A gente tem que manter isso, porque a gente já tem uma equidade, mas quando a gente olhou para TI, por exemplo, TI a gente só tem 23% de mulheres na TI, e a gente está tentando entender por que, essa é a minha realidade, a realidade da Algar Tech, por que eu só 23%? E como é que eu faço para evoluir? Então eu acho que esse caminho de entender, mensurar, e em seguida tratar é muito importante para a gente garantir que a gente vai evoluir na diversidade dentro das organizações. 

Marina Crespi: E acho que tem uma coisa que a gente precisa levar muito em consideração, que é sempre ouvir, isso que você falou é super importante, a gente precisa ouvir, porque assim, não adiante a gente criar um ambiente, dizer assim: “Eu tenho homens, eu tenho mulheres, eu tenho pessoas de etnias indígenas, eu tenho negros”, mas você não ouve, aquilo tem que ser mais do que um número, e tem que ser inserido, e eu acho que quando a gente fala de inserir, a gente fala na gente também respeitar uns aos outros essa diversidade, porque eu nem sempre vou concordar e nem sempre tenho aquela experiência de uma outra pessoa da equipe, mas a gente precisa respeita. Então eu acho que também trazer a diversidade, com respeito, porque trazer a diversidade para ser um número, eu acho que isso acaba criando inclusive um ambiente hostil, porque fica claro que aquilo é uma manobra para ter um número, para ter uma estatística. Então eu acho que inserir é o mais importante, e é o mais desafiador, porque são nichos, você vem ali do seu mundo, então você tem as suas coisas ali muito nas suas caixinhas, quando chega alguém e te mostra algo muito diferente, a gente também tem que dizer: “Opa, espera aí, então vamos ouvir isso aqui”, eu acho que isso ser uma via de mão dupla é muito importante. 

Cassio Politi:: Deixa eu pegar um dado aqui, me aprofundar no que a Tati falou, que é muito curioso, 23% de mulheres em tecnologia, eu queria levantar para vocês o seguinte, tecnologia a gente sabe que tem uma dificuldade de colocar mais mulheres, dando um dado da USP, olha que curioso, Tati, um levantamento feito pela própria USP, dos estudantes, do universo de estudantes de tecnologia, tem 24% de mulheres agora em 2021, então vocês estão ali dentro da margem de erro, nessa proporção, porque claro, aumentou em relação a alguns anos, anda meio estável, eu vou deixar até o lindo na descrição do podcast para esse estudo, hora entra um pouquinho mais, hora um pouquinho menos, em torno de 90 mulheres por ano, mas está assim desde 2012, que as mulheres ficam nessa proporção. Então, o que eu queria perguntar é o seguinte, tecnologia, a gente já sabe que tem uma dificuldade, é um ambiente mais masculino normalmente, assim como outras carreiras tem um ambiente as vezes mais feminino. Mas para a diversidade, tem alguma área além da tecnologia que gere um desafio? Ou nas outras áreas o desafio, digamos, está mais na cultura, de você trazer mais diversidade? 

Marina Crespi: Eu acho que está na cultura, bastante, outras áreas também, mas a gente tem uma área aqui dentro do canal, dentro da emissora, da TV, a gente tem uma área que é uma área muito relacionada com a tecnologia, que é a área das pessoas que operam tudo que vai ao ar, então são as pessoas que colocam a emissora no ar, fazendo isso de uma forma operacional e juntando isso com a forma estratégica, a gente vê poucas pessoas ainda, poucas mulheres, por exemplo, nessa área. Uma outra área, que é a área de direção de TV, que é aquela área onde você comanda as câmeras que vão ao ar, é outra área que você vê poucas mulheres, hoje mais mulheres, mas poucas mulheres. Eu estou aqui há pouco mais de 20 anos, 22, entre emissoras afiliadas e a emissora própria, e eu já fui diretora de TV há alguns anos, e quando eu entrei, eu fui a primeira mulher a fazer isso na TV Globo toda. Então, é uma área que hoje tem mais mulheres, mas ainda é predominantemente masculina. E não sei se a Tati concorda, mas eu acho que tem um ponto que é anterior a nossa contratação, que é qualificação, eu acho que hoje, se a gente pensar há 30 anos, quando uma mulher dizia assim: “Eu vou estudar engenharia”, isso causava uma estranheza, engenharia, aquela frase, engenharia não é coisa de mulher, então eu acho que você também tinha uma outra cultura na época, que dificultava a qualificação para essas áreas predominantemente masculinas, que ficaram predominantemente masculinas, e o contrário também, por exemplo, um homem que estudasse moda, por exemplo, não, moda não é coisa de homem, esse tipo de frase que é absurda, hoje que dói nos nossos ouvidos, de… que bom que tem sido assim, mas eu acho que tem uma questão de qualificação. Então, especialmente para tecnologia, eu acho que para a gente ter mais mulheres nessa área, a gente vai levar um pouco mais de tempo, inclusive por esse motivo, porque há alguns anos já se tem essa liberdade: “Não, vou fazer engenharia, vou fazer tecnologia de computação, vou fazer áreas que me pareciam mais masculinas ou mais femininas, tenho a liberdade para fazer isso, então vou me qualificar e vou chegar lá”, então eu acho que passa por aí também. 

Tatiane Panato: Eu concordo absolutamente com você, Marina. Eu acho que tem a ver com qualificação, mas por trás da qualificação tem a questão cultural, que há muito tempo as mulheres são desenvolvidas e formadas pelas suas famílias, começa lá com o pai e com a mãe, para profissões que são profissões ou foram profissões caracterizadas como mais femininas no passado. Então, a gente vai demandar muito tempo ainda para conseguir ter uma evolução e ter uma participação feminina nesse tipo de profissão, a gente falou aqui sobre tecnologia, a gente falou sobre engenharia, talvez cientistas também, todas essas disciplinas mais voltadas para física, matemática, são disciplinas que os homens foram desenvolvidos com mais naturalidade, e as mulheres mais voltadas para disciplinas que as levavam a desenvolvimento de atividades caracterizadas como mais femininas no passado. E eu acho que isso, gente, até hoje em dia eu me policio muito para isso, porque eu acho que a gente tem, hoje, que olhar para nossas famílias e que engajar e desenvolver nossas crianças com esse objetivo, então eu tento, aqui em casa eu tenho uma filha de 12 anos, trabalhar isso bastante com ela, para começar a colocar no dia a dia dela coisas que não necessariamente são coisas que meninas tem facilidade, ou que ela vê outras meninas desenvolvendo. Então, por exemplo, robótica é algo que eu quero colocar minha filha para fazer, e se a gente for olhar, talvez não é a principal afinidade dela, minha filha é super artista, eu diria, ela gosta de música, ela gosta de várias outras coisas, mas é bom que a gente traga isso para o dia a dia delas, para ela entender que faz parte e que ela pode escolher o que ela quiser, eu acho que esse é o ponto, você pode ser o que você quiser, você tem que se identificar, porque você tem que gostar daquilo, mas teste, tente fazer uma coisa e outra para você entender, porque a gente tem um campo extremamente aberto para você. 

Marina Crespi: E mudar o ambiente é isso, Tati, não é mudar o ambiente… não adianta a gente buscar dentro das empresas diversidade, se na sociedade, ou nas universidade por exemplo, a gente não tem isso fomentado, se as universidades também não fomentam isso, e aí a gente passa lá, quem consegue a gente sabe que é uma estatística muito baixa, chegar a universidade no Brasil, é claro que a gente tem um problema muito maior social antes de tudo isso, mas que dentro das universidades isso também seja fomentado, também seja dito que assim, não tem o menor problema que a menina que está lá fazendo engenharia mecânica queira atuar em uma linha de produção, não tem problema nenhum. 

Cassio Politi: Eu não queria perder a oportunidade de falar um pouco de vocês, a gente está falando aqui do mercado como um todo, mas vocês ocupam essa posição, e mulheres que estão ouvindo talvez se inspirem em vocês como diretoras, gestoras, CEO na verdade, CEO e diretoras das empresas, o que é uma trajetória muito admirável de ambas. E vocês contrariam em alguns pontos os números, os cargos gerenciais no Brasil sempre oscilam alguma coisa, mas na média, nos últimos anos, 40% são ocupados por mulheres, o dado mais recente do IBGE é de 2021, fala em 37%, e a Marina desafia um pouco esse dado. E quando a gente fala de CEOs, Tati, esse dado é ainda mais dramático, porque segundo a BR Rating, só 3,5% das empresas brasileiras tem mulheres como CEO, então a Algar Tech está em um grupo muito pequeno, que tem uma presidente mulher. Então, eu queria perguntar para vocês duas, como é que vocês chegaram lá, e que barreira vocês enfrentaram ou sentiram, ainda que taciturnamente, houve para vocês, ainda que não declarada, não uma barreira imposta declaradamente para vocês, tenha havido pelo fato de serem mulheres?

Tatiane Panato: Cassio, essa pergunta é interessante porque… o que a gente fez, o que eu fiz para me desenvolver e chegar na minha posição atual? Quando eu olho para mim, eu não acho que eu fiz nada diferente do que a maioria das pessoas fez, nem os homens inclusive, eu trabalhei para isso, e trabalhei muito para… eu não diria por isso, porque eu nunca tive um plano de carreira desenvolvido, eu nunca desenvolvi um plano de carreira para ser CEO de uma organização, isso não era o meu plano, acho que isso foi uma consequência, e foi acontecendo a medida em que eu fui entregando aquilo que se esperava de mim e mais um pouco, eu sempre digo isso, porque eu sempre fui focada, desde estagiária, eu tenho 22, 23 anos de Grupo Algar, comecei no Grupo Algar como estagiária, e desde quando eu comecei eu sempre me preocupei em entregar mais do que a minha função exigia, talvez isso seja até uma questão da cabeça feminina, e eu vou falar sobre isso, porque as mulheres se sentem menos confiantes do que os homens para o exercício de algumas atividades, a gente sempre acha que a gente precisa ter isso e mais alguma coisa para ocupar uma determinada função, tem também uma pesquisa, acho que foi (inint) [00:19:11] que fez uma pesquisa sobre isso, e que diz o seguinte, as vezes eu tenho um homem e uma mulher participando de uma vaga, para a mesma vaga, o homem, ainda que ele não tenha todas as capacitações, ele se coloca pronto, e a mulher não se coloca pronta, falta um pouco mais de confiança nas mulheres. Então por que eu trouxe esse ponto? Porque eu, desde que comecei as minhas atividades, eu sempre desenvolvi além do que a minha função exigia, porque eu sempre tive muita sede de conhecimento e de desafios adicionais, então no meu entendimento, eu tinha que entregar aquilo para que eu fui contratada, mas eu queria entender o que estava acontecendo ao meu redor, me capacitar, para eu saber mais, para eu me desafiar mais, e aí as oportunidades foram surgindo com base nisso, porque eu fui me preparando informalmente, e aí tem uma outra frase que eu digo muito, que é, o que é sorte? É oportunidade mais competência. As vezes aparece uma oportunidade adicional para você, mas se você não tiver competência necessária, se você não tiver pronto para aquilo, você não vai conseguir oportunidade. Então, ao mesmo tempo em que no meu trabalho eu fui tentando me desenvolver dessa forma, eu também fui me preparando, eu fui me desenvolvendo no que diz respeito a formação, então desde que terminei minha faculdade, fiz três outros MBAs seguidos com o objetivo de ampliar meus conhecimentos em gestão, eu estudei línguas, eu sempre me preocupei em, na prática, entender o que a minha… eu sou da área financeira, meu background é todo em finanças, então eu sempre tentei entender tecnicamente as questões financeiras, mas entender as questões de negócio que traziam impacto nas questões financeiras também, e isso foi me dando robustez para que eu fosse me desenvolvendo ao longo do tempo. Então, de novo, não acho que isso seja diferente de um homem ou de uma mulher, ou para um homem ou para uma mulher, o que é diferente? Acho que é diferente a quantidade de tarefas a que uma mulher é submetida ao longo do desenvolvimento da sua carreira, quando ela exerce vários outros papéis. Então, eu fui mãe, eu já era diretora quando eu fui mãe, então olha só, antes de ser diretora, eu não tomei a decisão de ser mãe porque era muito difícil que eu equilibrasse todas as funções. Então, assim que eu me senti mais equilibrada, no sentido de conduzir tudo e entender que eu poderia trazer para a minha vida, um ser que seria muito especial, e eu conseguiria dar atenção a ele da forma como eu gostaria, é que eu, então, assumi a posição de mãe, ou decidi que queria ser mãe. E quando a minha filha nasceu, ela mudou a minha visão sobre prioridade, total, eu descobri o que era prioridade na minha vida com o nascimento da minha filha, mas quando isso aconteceu foi a melhor coisa da minha vida, mas a mais difícil, porque gente, não é fácil conciliar o papel de ser mãe, ser profissional, ser filha, ser esposa, então eu acho que o principal desafio das mulheres é conseguir equilibrar tudo isso, porque de uma forma ou de outra, é esperado que as mulheres sejam aquelas que cuidam de suas casas, isso é uma coisa tão básica, teoricamente não deveria ser assim, mas é assim, se espera que a mulher seja quem olhe para o todo e que gerencie a casa, e não o homem, isso é esperado, de novo, é cultural, a Marina trouxe isso aqui, então a gente quer ser a melhor gestora da casa também, e a melhor mãe também, e a melhor profissional. Então acho que o mais difícil, na carreira executiva das mulheres, é conseguir balancear todos esses papéis, e primeiro, não enlouquecer, em seguida, ser feliz com isso, porque a gente precisa ser feliz, e é por isso que é importante esse equilíbrio, e se a gente consegue fazer isso, o resto é consequência, você vai se desenvolvendo ao longo do tempo. 

Marina Crespi: Tati, concordo em tudo, plenamente. E vou trazer já esse seu gancho, eu acho que, no meu caso, assim como a Tati, também não cheguei… eu cheguei aqui como estagiária, então isso também há 22 anos, eu cheguei aqui como estagiária. 

Cassio Politi: Dois casos parecidos. 

Marina Crespi: É muito parecido. 

Tatiane Panato: Que coincidência. 

Marina Crespi: Muito espelhado, é, eu cheguei aqui como estagiária, e eu fui a primeira estagiária da redação da TV Globo Oeste Paulista em Bauru, então eu fui a primeira estagiária, era quando eles abriram o projeto de estágio, então eles também não sabiam lidar com estagiário, estagiário consequentemente chegou na maior emissora de televisão do Brasil, uma das maiores do mundo, então você chega ali no segundo, terceiro ano de faculdade e fala: “Nossa, isso aqui é incrível, uma baita oportunidade”, é também… sempre foi o que eu quis fazer, eu adoto esse trabalho com conteúdo, e já estive em várias áreas aqui dentro, também passei por várias áreas aqui dentro, e hoje, e acho que isso foi fundamental para onde eu estou hoje, você também conhecer todas as áreas dentro da empresa, isso é um baita privilégio. Então, a minha palavra para ter chegado até aqui é essa, é oportunidade, mas essas oportunidades só aparecem quando você tem essa qualificação para assumir as oportunidades, não é que as oportunidades apareceram e eu fui, encarei essa oportunidade sem a qualificação, é isso que a Tati falou, desde quando entrei como estagiária, eu fui me qualificando, e eu gosto da gestão de pessoas, eu adoro conteúdo, eu adoro a gestão de pessoas, então eu fui me qualificando para isso ao longo do tempo, e essas oportunidades foram aparecendo dentro dessa organização. 

Cassio Politi: Muito legal ouvir esses dois relatos, porque vocês são mulheres fortes, e quando vocês colocam essa experiência dizendo: “Olha, nunca sofri nada disso, mas eu entendo a diversidade como um ponto importante”, acho que o argumento de vocês ganha força, porque não é algo em defesa própria ou uma cura de algum trauma, não, é realmente uma visão de mundo, e globalmente isso está acontecendo, não é só aqui. Eu queria, agora, virar a página aqui, porque eu não quero perder a chance de falar um pouco de tecnologia com vocês, então queria propor um segundo tema para a gente fechar a conversa aqui. Que é a tecnologia aqui, Marina, a gente no podcast tem uma frase que nos guia, que tecnologia é meio, não é fim, e a gente está falando com duas gestoras experientes, tanto no mercado quanto nas próprias empresas, de tecnologias diferentes, ou uso diferentes da tecnologia nessas duas empresas, a Algar Tech usa de uma forma, a Globo usa de outra forma. Como é que vocês estão enxergando o impacto da tecnologia nos últimos anos nas empresas em que vocês atuam, mídia e a própria indústria de tecnologia em si? O que mudou e para onde a gente está indo, na visão de vocês?

Marina Crespi: Eu acho que são visões, minha e da Tati, diferentes nesse sentido, porque eu olho sempre muito… você falou, é meio, então eu olho sempre para a tecnologia atrelada ao conteúdo, esse é o meu olhar sempre aqui, e vocês tem visto, a Globo tem falado muito disso, da Globo se tornando uma empresa mídia tech, então mídia e tecnologia andando juntas, porque o mercado é outro, o momento não é nem… a sociedade é outra. Hoje, com o streaming, com o acesso à internet, com streaming, a gente tem que produzir conteúdo para todas as plataformas, e a tecnologia nos dá esse suporte, sem um bom suporte em tecnologia a gente não conseguiria construir coisas que a gente… tantas coisas que a gente construiu, a gente tem o Globo Play, que é um meio para a gente viabilizar o nosso conteúdo, e tantas outras plataformas. Agora, eu acho, Cassio, que a pergunta mais difícil que você pode fazer é para onde a gente está indo, porque eu acho que a gente tem um caminho, que é esse, de sintonia com a sociedade, de desenvolvimento de conteúdo, de tecnologia para atender essas demandas, mas em um momento frenético, a gente viu aí o streaming, a internet, ganharem uma força muito grande nesse período de pandemia, quem podia esperar? Acho que ninguém podia esperar que isso acontecesse, e isso aconteceu, as pessoas passaram praticamente dois anos confinadas em casa. Então, outras ferramentas que eram usadas, o streaming, que era muito mais usado por jovens, hoje é usado por todo mundo, por senhoras, por senhores mais idosos, todo mundo usa o streaming. Então assim, a TV Globo tem que estar com a sua programação em todas as plataformas, e isso para a gente tem sido tratado de uma forma muito natural, porque a gente, aqui, tem sempre essa visão de futuro, e isso já se desenhava para a gente há mais tempo, a pandemia agilizou e acentuou, mas isso já se desenhava aqui para a gente. Então, para a gente, é um processo que foi agilizado, mas não é um processo novo. Agora, o caminho de futuro, eu acho que é isso, a gente está vivendo um momento inédito profissionalmente, a gente não sabe o que amanhã vai acontecer para impactar nessa tecnologia, e o quanto a gente já vai ter de tecnologias mais avançadas, porque é fascinante o que a tecnologia pode fazer, é fascinante. Então, a gente não sabe quais meios a gente vai ter para colocar esse conteúdo daqui 30 anos, acho que a gente hoje não consegue imaginar, acho que há mais tempo a gente conseguia, a gente podia dizer assim: “Olha, televisão um dia vai ser a cores, a televisão um dia vai ser digital, mas hoje a gente vive um momento que a gente se planeja, a gente olha para o futuro, mas olha para ele e anda junto com ele, porque não é só olhar para ele, é andar junto com ele. 

Cassio Politi: Poxa, que papo bom, ficaria mais umas duas horas aqui com vocês, parece um jogo de tênis entre duas grandes tenistas, não sei, Martina Navrátilova, lembra? E Steffi Graf, ou Steff Graf e Monica Selis, parece um jogo desse, uma joga e a outra devolve a bola ainda mais redonda, e assim vai indo. Uma delícia conversar com vocês. Quero começar então agradecendo e me despedindo de você, Marina, muito obrigado por bater esse papo aqui, uma delícia conversar com você, obrigado viu, Marina. 

Marina Crespi: Gente, foi uma delícia. Tati, um prazer, uma honra, uma mulher tão forte, tão inteligente, é sempre tão gostoso conversar com gente inteligente, e eu estou aqui só com pessoas inteligentes batendo esse papo, então uma delícia, conta comigo quando precisarem, estou super a disposição, adorei, também ficaria mais duas horas, mas vamos marcar essas duas horas em outros podcasts, estou aqui para falar com vocês quando vocês precisarem. Muito obrigada, uma honra. 

Cassio Politi: Vamos sim, vamos marcar mais vezes. E Tati, obrigado por participar hoje, e obrigado por todo apoio ao projeto do Think Tech que começou aqui ano passado, e está indo de vento em poupa. Muito obrigado pela participação de hoje e pelo apoio ao projeto, Tati.

Tatiane Panato: Imagina, Cassio, eu que agradeço, uma honra também ter a Marina aqui com a gente, forte eu nada, Marina, forte você, quanta experiência aqui, quanta confiança em como se expressas, que eu acho que é algo que as mulheres se inspiram bastante. Então obrigada por estar aqui com a gente. E Cassio, eu adoro o Think Tech, eu escuto todos os podcasts, tenho aprendido bastante, e eu espero que as pessoas que agora vão escutar o nosso, que elas também se sintam inspiradas, engajadas a fazerem algumas alterações nas suas vidas, com base com o que a gente discutiu aqui, não é Marina? É um prazer quando a gente pode contribuir de alguma forma com outras pessoas. Então, que a gente faça outro sim, e Marina, quem sabe nós duas em conjunto novamente, falando sobre outras coisas. 

Marina Crespi: Vou adorar, vamos fazer um podcast fixo. 

Tatiane Panato: É isso aí. 

Marina Crespi: Vou adorar fazer essa dupla de tênis que o Cassio falou muito gentilmente. 

Tatiane Panato: É isso aí. Obrigada viu. 

Cassio Politi: Muito bem, vamos chegando então ao final do Think Tech de hoje. E um ponto que me chamou atenção foi que tanto a Tati Panato quanto a Marina, têm uma carreira muito baseada na força de vontade delas e naquilo que elas se prepararam e se capacitaram para fazer, e o cargo que elas ocupam hoje, os cargos que elas ocupam hoje são consequência disso, não é Sara?

Sara: Sim, Cassio. Eu também gostei do que elas contaram, tem experiência muito intensa nas suas empresas, e elas chamam a responsabilidade para elas, como você falou, são mulheres fortes, mesmo vivendo uma vida virtual, eu me senti bem representada por essas duas mulheres reais. 

Cassio Politi:: Que bom, Sara. É isso aí então, o Think Tech de hoje fica por aqui, até a próxima.