Cássio Politi: O Think Tech está no ar, meu nome é Cássio Politi e junto com Algar Tech a gente vai embarcar nessa jornada de repensar possibilidades. E no episódio de hoje, a gente faz uma imersão em mobilidade e também em carros híbridos. E, como de praxe, eu dou boas-vindas aqui à Sara, a nossa especialista virtual em negócios aqui na Algar Tech. Sara, a gente vai falar de mobilidade urbana e isso hoje envolve muito o uso de aplicativos como o 99, do nosso convidado de hoje. Aliás, tem um número grande de pessoas envolvidas quando a gente fala nesse tipo de atividade, tanto do lado dos motoristas, quanto do lado dos passageiros, não é Sara?

Sara: Oi Cássio. Pois é, o número de motoristas de aplicativo no Brasil é grande. Em 2021, o IPEA fez um levantamento e concluiu que existem 945 mil pessoas ganhando dinheiro com aplicativos como o 99. Além deles, tem mais de 320 mil motociclistas que fazem entregas. Isso sem considerar as mais de 50 mil pessoas que usam outros meios para a entrega de pedidos. Bicicleta, por exemplo.

Cássio Politi: É, a gente está falando aí de muito mais de 1 milhão de pessoas, não é pouco, não é? Para o bate-papo de hoje, eu tenho a imensa satisfação de receber o Thiago Hipólito, que é diretor sênior de inovação da 99. Eu acho que a 99 é uma empresa que dispensa apresentação. Se você uma dia precisou partir do ponto A para o ponto B, não com o seu próprio carro, nem com a sua bicicleta, nem a pé, você já buscou a 99 na lista de apps do seu celular. Thiago, muito bom ter você aqui, obrigado por aceitar o convite para essa conversa de hoje.

Thiago Hipólito: Eu que agradeço o convite Cássio e a oportunidade, vai ser muito legal bater um papo com vocês e contar um pouco aqui da nossa trajetória, o que a gente vem fazendo e falar um pouco de futuro, porque eu acho que a gente está em um momento bem propício para isso.

Cássio Politi: É essa a ideia mesmo, Thiago. É isso aí que a gente quer ouvir, porque eu acho que vocês são uma empresa legal para falar disso. Vocês são vistos como uma empresa de mobilidade, é verdade, mas eu pensando aqui com os meus botões aqui, eu vejo vocês também como uma empresa de tecnologia. Se tivesse ali em uma prova que cravar é tecnologia ou mobilidade, eu ia ficar bem em dúvida, talvez eu botasse um x nas duas. Por isso que eu acho que o tema é bem interessante, como você falou, de passado e futuro. E é isso Thiago, a tecnologia está usada, vem sendo usada pela 99 para fazer uma conexão interessante ali de app, motorista, passageiro. Imagino que seja uma parte da base, dos pilares de vocês, seja esse tripé.

Thiago Hipólito: Exatamente.

Cássio Politi: E a tecnologia evoluiu nesse últimos, talvez, dez anos, bastante. E é isso que eu queria te perguntar, como é que a tecnologia evoluiu? Como é que ela vem transformando esse dia a dia de empresa, motoristas, passageiros?

Thiago Hipólito: Muito legal e você já fez um muito bom resumo assim do que é que é o nosso negócio. Acho que o primeiro ponto para destacar aqui é, de fato, a tecnologia. A 99 nasceu como uma empresa de tecnologia e já tem no DNA a inovação. E a tecnologia, ela foi, na verdade, o habilitador para algo maior que a gente tinha como uma missão, e é a missão que a gente tem até hoje, olhando para a frente, que é de fato transformar a mobilidade urbana. A gente chegou no Brasil há dez anos, esse ano a gente faz dez anos de Brasil, inclusive, para criar um novo serviço e complementar o ecossistema de mobilidade que já existia. E aqui, a tecnologia, ela é fundamental, até pela característica do nosso negócio. A gente é um marketplace e a gente conecta passageiro e motorista. E aqui, o algoritmo que a gente tem para fazer essa combinação é algo fundamental. E esse marketplace nosso, essa combinação entre passageiro e motorista, é algo bastante complexo. Se a gente olhar para a característica dele, ele é funcional naquele exato momento, naquele exato lugar. Para fazer com que isso funcione, a gente tem dois grandes pilares: tecnologias, processos e pessoas. É assim que a gente olha para o nosso ecossistema e assim que as coisas se combinam, sempre com uma ótica de levar uma melhor experiência para os usuários.

Cássio Politi: Perfeito, é isso aí. Como é o ponto crítico, assim, da tecnologia para vocês? Porque, como você falou, ela é um habilitador, do inglês a gente adora o enabler. Qual que é o ponto, assim, crítico para vocês, Thiago? Do ponto de vista da tecnologia? Porque a tecnologia, é como a gente fala aqui no podcast, não é meio, não é fim. Ela tem que ser usada como meio e não como fim. Onde que está o desafio hoje? É a usabilidade? É entender o cliente, o que é que ele está buscando? Enfim, onde é que vocês investem mais energia, quando vocês pensam em desenvolvimento de tecnologia?

Thiago Hipólito: Quando a gente fala de tecnologia, tem duas coisas principais, que a gente coloca muito foco. A primeira delas é na parte mais, de fato, algorítmica. Como é que eu consigo ser mais eficiente, para levar o melhor nível de experiência para aquele motorista, entender as necessidades. Como é que eu olho de uma forma mais ampla para aquela realidade, em um momento específico do dia, por exemplo, em uma situação de pico. Final do dia, que as pessoas estão saindo do trabalho? Como é que eu direciono uma melhor, um melhor equilíbrio entre oferta e demanda? Mais motoristas para uma região específica? Isso a tecnologia ajuda muito a gente. A segunda perspectiva, que é fundamental para o nosso negócio, que tem uma característica online e offline, na parte online, que é essa parte de interação da pessoa, quando ela vai solicitar o carro. Todas as features, todas as funcionalidades que a gente tem, no momento da utilização, as informações são refletidas para o passageiro, é de fato a experiência do usuário. Eu acho que esse é um papel fundamental que a tecnologia, aqui, tem um habilitador muito importante. Como é que a jornada do meu usuário é melhor na utilização do meu serviço? Que tipo de informação é relevante? Quais coisas são importantes para eles? Quais são as funcionalidades que vão agregar valor? E eu fiz referência aqui ao online e ao offline porque na verdade o nosso negócio acontece na rua, na prática, ali na interação de pessoas dentro de um carro. E aqui também, nessa interação, alguns aspectos superimportantes que a tecnologia ajudou a gente muito. E para tangibilizar com um exemplo concreto, é segurança. A gente desenvolveu todo um ecossistema de segurança, no qual eu faço a validação prévia, via algoritmo, de quem é o motorista, o passageiro, essa combinação entre os dois. Então tem todo um ecossistema de segurança, em que a tecnologia também foi um habilitador, dentro dessa jornada. Então quando a gente olha para a tecnologia, fazendo um resumo aqui, a gente olha: um, para a eficiência, como é que eu torno esse algoritmo mais eficiente, essa conexão entre passageiro e motorista; e dois, como é que a tecnologia me habilita levar uma melhor experiência, dentro da utilização de da jornada dos dois usuários que eu tenho.

Cássio Politi: Thiago, você falou aí da demanda versus a oferta. E a gente, pensando assim, muito fácil de tangibilizar isso. A gente, quando vai pedir um carro na 99, a gente sabe que no passado tinha muito mais, essa é a impressão que dá. Você pedia lá um carro, putz, em dois minutos tinha alguém na tua porta. E hoje, a gente já tem uma expectativa diferente, você sabe que, dependendo da hora e da região pode demorar um pouco mais. Parece até que as pessoas vão aprendendo a conviver com isso também, não é?

Thiago Hipólito: Uhum.

Cássio Politi: Então duas perguntas em uma, aqui: tem aí um desequilíbrio? De oferta e demanda? Diferente, pelo menos, do que era recentemente. E se sim, como é que a tecnologia, ou como que vocês operacionalmente lidam com isso, lutam para equilibrar isso?

Thiago Hipólito: Legal. Eu vou usar essa sua pergunta para fazer uma reflexão e trazer um pouco de histórico, porque isso é muito legal. Falei, 99 completa dez anos de Brasil esse ano. E aqui, a gente cresceu, posso te falar muito sustentado ao longo dos anos. E lá, em 2019, 2020, principalmente 2020, o ecossistema nosso transformou por completo, justamente em função da pandemia. E aí o que aconteceu e trazendo um dado super concreto do nosso negócio, março, abril de 2020, quando a gente teve a parte mais crítica da pandemia e quando a gente tinha mais incertezas, o full lockdown, o nosso negócio caiu o volume, isso a indústria como um todo, 80, 90%. Só que no final de 2020, quando a gente olha o número absoluto de corridas, esse negócio já era maior do que o início de 2020. E qual que foi o comportamento que mudou, que foi bem impactante, a gente teve que fazer uma revisão geral da nossa estratégia, principalmente do ponto de vista de foco? A demanda cresceu mais do que a oferta. Traduzindo isso para o nosso dia a dia, a quantidade de passageiros solicitando as corridas é maior do que a quantidade de motoristas disponível eventualmente para atender, isso quando eu falo em uma crescente de negócio. Então desde 2019, desde 2020, especificamente, a gente começou com todo o pacote de iniciativas, de programas, combinando tecnologia de novo aqui, com coisas até de campanhas direcionais para os motoristas. Então, em 2020 a gente teve um foco muito grande em iniciativas, por exemplo, de proteção sanitária dos motoristas. E, em paralelo, iniciativas de ganhos adicionais para os motoristas, a gente criou um programa que chamava Programa Mais Ganhos. Para de fato tentar mitigar, de certa forma, todo o impacto que a gente tinha em função da pandemia, nos motoristas, então a gente em alguns momentos zerava taxa, a gente aumentou, de fato, a remuneração do motorista, esse foi um programa superimportante ao longo de 2020 e principalmente 2021. No final de 2021, a gente começou a revisar a nossa estratégia e olhar em uma perspectiva um pouco mais de futuro. E foi aí que surgiu a área que eu lidero aqui na 99 hoje, que é a nossa área de inovação. O nome dela é Driver (Lab) [00:10:11], justamente fazendo referência ao nosso parceiro, ao nosso motorista; e (Lab) [00:10:15] em um conceito aqui de inovação, de olhar para isso, olhar para o futuro, para essa situação que você acabou de descrever e (inint) [00:10:21] é que esse equilíbrio de marketplace, com foco no motorista, pensando em três grandes objetivos. O primeiro deles é como que eu garanto o melhor acesso aos carros para o motorista, como é que eu consigo habilitar novos motoristas, para se tornarem parceiros da 99. E aqui, o acesso ao carro ainda é hoje uma grande barreira. A gente criou algumas iniciativas, de facilitar esse acesso. O segundo grande pilar é como que eu olho para os custos do motorista, ou melhor, para a rentabilidade do motorista e crio iniciativas direcionadas para um, reduzir custo; ou dois, aumentar a rentabilidade dele enquanto motorista da 99. E três, é uma visão de mais futuro, que aqui a gente fala muito do carro elétrico. Mas é olhar para o futuro do nosso negócio, antecipar algumas tendências e ser de fato agente de transformação. Fazer com que o carro elétrico seja uma realidade no curto prazo também para os nossos motoristas. E aqui eu vou só dar um spoiler, mas eu acho superimportante fazer uma, antecipar aqui: por que do carro elétrico? Um dos motivos do carro elétrico é que o custo operacional do motorista, comparado com o carro tradicional, por toda a eficiência, chega até 80% de redução. Então apesar de ele ser um carro mais caro, por enquanto, de fato para o motorista, além de aspectos como experiência, usabilidade, segurança, o custo operacional dele chega a ser 80% menor quando comparado com o carro tradicional. Por isso, que a gente vê que é o futuro da nossa indústria ir nessa direção.

Cássio Politi: Deixe-me explorar um pouquinho então esses três pilares do Driver Lab, o que você trouxe, Thiago. Garantir acesso ao carro, iniciativa para melhorar a rentabilidade, na vida financeira do motorista e o carro elétrico. Eu queria dar um zoom aqui, pelo menos em dois deles que me chamam a atenção. Quando você fala em melhorar o acesso ao carro, do que é que você está falando? É, por exemplo, se eu quero, perdi o emprego, ou por opção, acho que é até injusto a gente atribuir só a última opção, você ir ser motorista. Por qualquer razão da minha vida eu decidi ir lá e prestar esse serviço como motorista da 99. Que acesso, que dificuldade é essa de acesso ao carro? É dificuldade de comprar o carro? É dificuldade de alugar o carro? É dificuldade de seguro? Qual é essa encrenca que você está resolvendo?

Thiago Hipólito: Acho que você já tocou nos pontos principais aqui. É justamente isso. Hoje, se a gente pega o nosso motorista, o acesso que ele tem à compra, ou mesmo ao aluguel, é um acesso bastante limitado, assim. Então, primeiro pela oferta de carros, hoje, para esse negócio, especificamente, que não supre toda a demanda que a gente tem. Mas também por todas as condições de aprovação. E aqui eu vou trazer o exemplo do seguro que você tocou. Eu acho que o seguro é um exemplo superimportante. Quando a gente olha, por exemplo, um seguro tradicional, para uma pessoa física e um seguro para um motorista de aplicativo, o motorista de aplicativo, ele é cobrado até duas, três vezes mais, exatamente pelo mesmo carro. E aqui a gente tem um papel transformador com a 99, como plataforma, de ser de fato o habilitador disso. Por exemplo, se eu conheço o perfil do motorista, sei como ele dirige, tem todo o histórico dele, eu posso fazer um compartilhamento de informações com a empresa de seguro, para que ela leve um valor mais adequado, com base no comportamento do motorista. Não só criando uma coisa que é padrão, é assim muito customizada, a gente tem esse poder. O segundo, é pelo próprio poder de barganha, hoje, que a 99 tem. Se a gente olha o tamanho, eu vou trazer um pouco, fazendo um parênteses aqui e mostrar, trazer alguns dados do tamanho da 99 no Brasil hoje. Motoristas, a gente tem 750 mil motoristas em uma base mensal. Passageiros, a gente tem 20 milhões de passageiros ativos, em uma base também mensal. E para você ter uma referência, em número de corridas, quando a gente fala uma média, um aproximado, a gente faz em torno de três milhões de corridas dia. Então aqui a gente conecta muita gente todo dia, com uma capilaridade bastante importante. A gente está presente em 1600 cidades no Brasil. E é esse o ecossistema que a gente está inserido. Então quando a gente olha, a gente olha o poder da 99, que ela tem nesse sentido, o poder de negociação, de influência nesse ecossistema como um agente de transformação é super importante. E aqui vale uma reflexão, esse é exatamente o conceito de uma economia compartilhada. Quando a gente soma esforços de diferentes jogadores, nessa cadeia e todos têm um benefício maior. Esse é o conceito e é isso que a gente faz. O nosso DNA, é isso que a gente vem buscando fazer cada vez mais.

Cássio Politi: Poxa, isso, eu não vou nem tocar no assunto aqui com profundidade, mas abre para muitas coisas ligadas à tecnologia, o open insurance está vindo aí. Que é justamente, é como o open banking, você é dono dos seus dados. Então, se eu sou motorista, eu posso escolher que os meus dados sejam enviados para uma, sei lá, Porto Seguro da vida, só para citar um nome qualquer aqui, sem nenhum tipo de propaganda. Mas vocês já vão em linha então com esse conceito dos dados abertos. Claro que deve ter limite legal para isso, limite até de prática de mercado, mas eu acho que já vai um pouco em linha com isso Thiago, de você usar os dados para facilitar a vida da seguradora também. Porque para ela interessa saber poxa, aquele é um motorista responsável, em dez anos de mercado ou de atividade bateu poucas vezes e tal, me interessa como seguradora dar um seguro vantajoso para aquela pessoa e diferenciar de uma outra que, em um ano, bateu o carro três vezes. Vai nessa linha também dos dados abertos, não é Thiago?

Thiago Hipólito: Vai e aqui acho que é muito legal essa reflexão. Porque claro, como premissa básica de tudo o que a gente faz aqui, a gente tem LGPD, tem as leis que respeitam a privacidade da pessoa que é dona desse dado. Mas tem muitas formas diferentes de a gente atuar isso, acho que essa que você tocou é uma delas. Mas mesmo a gente, com o acesso que a gente tem à informação, como é que a gente cria padrões? Gera referências? E traz informações adicionais, para ajudar, por exemplo, a seguradora em uma tomada de decisão mais massiva? E não só para um caso pontual, uma situação específica. Então aqui, muito usando também algoritmo, dados mais gerais, com análise, a gente consegue refinar e criar modelos específicos para isso. E aí eu vou fazer uma outra referência de algo, assim já puxando para o segundo pilar, se você me permite. Que é a parte de, por exemplo, melhorar a rentabilidade ou trazer acesso a outras coisas para os motoristas. Conecta um pouco o que a gente está falando, mas recentemente a gente fechou uma parceria com uma startup de consórcio, chama Mycon. E aí superlegal, porque a gente olhou de fato essa característica que eu estou te falando, a gente olhou para a característica do motorista, com esse agrupado de dados e criou um produto específico para a necessidade do motorista. Então, por exemplo, aqui ele, primeiro, tem a melhor taxa do mercado hoje; e segundo, até a contemplação dele, do consórcio, ele paga um negócio que a gente chamou de meia parcela. Um valor reduzido, porque a partir do momento em que ele é contemplado, aí sim ele vai comprar o carro e ele deixa, por exemplo, o carro que ele tinha alugado e passa a ter o carro dele. Então a gente está criando, olhando para os nossos dados, e aí quando eu me refiro a olhar dado e usar o dado como tomada de decisão, acho que esse é um bom exemplo, a gente customizou um produto de prateleira, para uma necessidade específica do mercado e esse produto vem sendo um sucesso, assim. A gente tinha um objetivo, que foi já, em dois meses já passou o objetivo que a gente tinha para o ano, com uma fase piloto, a gente já vendeu mais de 2 mil consórcios para os motoristas. E aqui também eu habilito, está fazendo referência ao que você falou, o acesso ao carro. É um produto que ele não teria, se a gente não tivesse entrado no ecossistema, para facilitar e (co-construir) [00:18:13] com uma startup, com uma outra startup, um negócio focado no nosso motorista.

Cássio Politi: Muito legal então, você pulou em dois dos pilares, dos objetivos na verdade, do Driver Lab, que é isso. Acesso aos carros e aí você passou pela rentabilidade, que obviamente melhora, porque poder de barganha de 99 chancelando uma operação é diferente do poder de barganha de uma pessoa física, sozinha. Por mais esperta que ela seja, por mais currículo que ela tenha, ela nunca vai ter o poder de barganha de uma empresa que opera essa movimentação. E o terceiro pilar que você trouxe é essa visão mais de futuro, do carro elétrico. Em que ponto que a gente está disso? Assim, outro dia eu peguei, aliás via 99, um motorista. E ele contando que estava migrando para um carro híbrido. Então aquela coisa, a gasolina custa tanto, o gás e tal. Mas o híbrido já deve ajudar e já estava fazendo essa conta de putz, quanto vai economizar de gasolina, tal. Então o híbrido me parece uma coisa já mais próxima da realidade, em determinados modelos. Mas a gente já tem no horizonte o carro elétrico. Eu fiz essa leve introdução para dizer isso, a gente está saindo do carro à gasolina mesmo, ali do jeito que sempre foi. E olhando lá na frente o carro elétrico. Então, tem uma linha do tempo aí. Em que ponto da linha do tempo a gente está, na tua visão? E o que é que falta para a gente chegar em um carro elétrico, que realmente compense você, o quanto você paga a mais nele você compensa com a economia de combustível? Ou até o carro elétrico que tem um preço competitivo? Como é que vocês estão vendo isso?

Thiago Hipólito: Não, esse é um dos grandes focos, um dos grandes pilares. E, de fato, a gente tem investido muito tempo ao longo desse ano. E aqui acho que vale eu dar um pouco de contexto, de onde surgiu, onde a gente está e para onde a gente está vendo aqui, vou fazer alguma até, trazer algumas referências aqui. (inint) [00:20:14] que eu queria trazer para vocês aqui, que eu acho que é superlegal, é trazendo a referência do maior mercado e do mercado mais maduro de carro elétrico, do mundo hoje, que é a China. E na China, a gente tem a nossa operação, a gente faz parte de uma subsidiária chinesa, a gente é subsidiária de uma empresa chinesa, do grupo Didi. E trazendo alguns números e tangibilizando, Didi hoje, China, a gente já tem 40% da nossa frota de carros, dos carros que estão conectados à nossa plataforma, elétricos. Isso significa quase 1 milhão e meio de carros elétricos rodando nas ruas todos os dias. E quando a gente olha para os novos carros que estão entrando na plataforma, acima de 95% já são carros elétricos. Então, quando a gente olha para a China, isso já é uma realidade lá, muito por conta dos benefícios. E os benefícios aqui tangibilizados, a questão do custo operacional é o principal atributo. E aí um dado que eu comentei, que eu vou reforçar aqui, quando a gente traz isso para a realidade do Brasil, o custo operacional do motorista, ele reduz em até 70%. Então mesmo hoje, 70, 80%, mesmo hoje, com um custo inicial do carro sendo um pouco mais alto, ainda assim, nessa realidade atual, já faz sentido para o motorista do ponto de vista financeiro. Mesmo com o carro com o valor de aluguel, vamos pensar no valor do aluguel, porque esse eu acho que é um modelo que funciona muito bem, que funcionou na China e a gente está trazendo para cá. Com um custo operacional do motorista hoje, ele já vai ter uma economia de uns 30% se ele fizer a migração para um carro alugado elétrico, em função dessa economia que ele, claro, isso aqui pode variar, em função do custo de combustível, tem toda essa flutuação também. Mas no dado macro, é por aí. Acho que a segunda referência aqui que é superlegal é como é que foi feita essa adoção, na China. E aqui, se a gente olha para a adoção de carros elétricos no mundo, ou principalmente esse caso que eu estou elaborando um pouco mais, ela é feita em duas perspectivas: carro de alto luxo, como a gente conhece, os Teslas e esse tipo de coisa; e carros massivos, de alta rotação, de massa mesmo. E aqui, o mercado de aplicativo, o público motorista de aplicativo, foi o principal impulsionador, o principal alavancador da China, justamente por esse cenário que eu acabei de colocar. Então quando a gente fala da adoção de carro, a adoção massiva de carros na China, passou necessariamente pelo público de motorista de aplicativo. Eles foram não só os primeiros, mas também como habilitador de toda a infraestrutura associada a isso. No Brasil, ainda, a infraestrutura, ela é muito incipiente. A gente começou a pensar no carro elétrico, até julho desse ano a gente bateu a marca de 100 mil carros vendidos, 100 mil carros elétricos vendidos no Brasil. E a infraestrutura, hoje, deve contar com 1500 postos de carregamento, o que não é suficiente para uma escalabilidade em massa. Só que trazendo para o nosso negócio, de novo, o que a gente fez? A gente tinha isso como uma dúvida. Então, a gente tinha a referência da China, mas no Brasil a gente não conhecia. E a gente criou um plano muito robusto, aqui, com passos muito bem definidos. O primeiro passo que a gente criou esse ano, que a gente tem muito orgulho até de falar sobre, é a Aliança Pela Mobilidade Elétrica, pela mobilidade sustentável. Aliança Pela Mobilidade Sustentável. Que é um conjunto de empresas que estão pensando esse futuro e com ações muito concretas (e diretas) [00:23:28]. A 99 lidera esse processo e aqui a gente traz empresas, desde fabricantes de carro, locadoras e também, por exemplo, bancos que vão ajudar a gente no financiamento e até fazer com que isso, no futuro, seja uma realidade. Quando a gente traz isso com algumas ações específicas, a primeira coisa que a gente fez, a gente comprou, como 99, dois carros elétricos e fez um teste de rua, um road test. Colocou os carros na rua para entender, de fato, qual que é o comportamento, como funciona isso no dia-a-dia do motorista? A gente coletou muitos dados e isso está habilitando a gente a criar conjuntos para os próximos passos. Então aqui, de fato, é um pensamento conjunto, de como a gente soma esforços com diferentes participantes dessa cadeia, para construir o futuro da mobilidade no Brasil. Acho que o segundo passo importante, hoje, a gente já tem mais de 50 carros, e aí no modelo que a gente fez junto com a Movida, para alugar para os motoristas o carro e ampliar esse teste, já começando em um uma adoção um pouco mais massiva. Então a gente vem construindo, com referências internacionais, traduzindo para a realidade brasileira, mas com objetivos muito claros e concretos de cada passo que a gente gostaria de dar, para poder ir evoluindo nisso. Algumas vezes eu escutei, quando eu conto um pouco dessa história, falo um pouco sobre isso, o movimento que a gente está fazendo com a aliança da mobilidade é, de fato, antecipar o futuro. E já trazendo uma discussão, que estava um pouco etérea, um pouco solta, para ações muito concretas e diretas, para fazer com que isso se torne uma realidade no curto prazo no Brasil.

Cássio Politi: Thiago, onde é que está a barreira para isso acontecer na mesma, no mesmo volume? Eu acho que você mencionou um ponto aí, que é a estrutura. Hoje, como é que está, pelo menos em São Paulo? A gente vai lá, de vez em quando entra em uma garagem ali de um prédio, geralmente um prédio com uma infraestrutura melhor, um prédio em um nível mais alto. Digo, quero dizer assim, metro quadrado mais caro mesmo, é isso que eu estou dizendo, seja residencial, seja um prédio comercial. Você vê lá, às vezes, duas, três vagas e “carregue o seu carro aqui”. Geralmente elas estão vazias, você ver um carro lá é até curioso, ver um carro plugado na tomada lá. Mas é muito pouco, então eu imagino que quem vá comprar um carro para trabalhar com ele, ou mesmo para fins pessoais, faz essa conta. Pô, o posto de gasolina tem um por esquina. Eu vou ter que ficar caçando essas tomadas aí. Eu estou falando tomada de um jeito avacalhado aqui de propósito, eu sei que. Então assim, na China como é que está? Porque eu imagino que, para ter esse salto lá, você tenha que ter resolvido essa questão lá. E uma pergunta bem simples assim, onde é que vão estar esses postos de carregamento do carro? É em posto de gasolina, é realmente o estacionamento da tua casa? Onde é que você prevê que isso vá acontecer?

Thiago Hipólito: Legal. Como parte da aliança, tem também as empresas de infraestrutura. Algumas empresas que têm isso como core business, como negócio principal a gente de fato instalar, ou eles instalarem toda essa infraestrutura. E aqui eu acho que é um benefício muito grande da aliança, então eu vou fazer duas referências aqui. A primeira delas, olhando para o nosso mercado de aplicativo de fato, os motoristas. Inicialmente, a gente acho que isso poderia ser uma barreira, um stopper para a gente escalar. Mas pela característica até do nosso negócio, dos motoristas, onde eles moram, o carro elétrico, ele pode ser carregado na tomada de casa. Então, usualmente, ele acaba carregando isso, foi um dos outputs, um dos resultados do nosso teste de prova. Ele carrega o carro durante a noite. Durante o dia, ele tem autonomia suficiente para dirigir, eventualmente com uma parada ali, uma recarga pontual, só para complementar o final da jornada dele. Então, ele ainda, claro, posso levar uma melhor experiência para ele, mas ele não é uma barreira para a adoção para motorista de aplicativo, dada essa característica. Segunda coisa, onde vão estar? Eu acho que essa é uma pergunta super relevante. E também é um dos grandes objetivos da aliança. Como é que, em conjunto, a gente define uma estratégia? Por exemplo, do lado nosso, aqui como plataforma, eu consigo gerar demanda para um local específico da cidade. Ou entender qual que é o comportamento desses motoristas, que têm os carros elétricos na nossa plataforma, para direcionar para essas empresas os melhores pontos de instalação. Dois grandes benefícios: por um lado, eu levo uma melhor experiência para o motorista, porque ele vai ter os pontos ali já em um círculo, em um circuito onde ele de fato está rodando; e do outro, eu maximizo até o próprio investimento das empresas que estão fazendo essas instalações. Então aqui é um esforço conjunto e a gente está olhando para esse ecossistema e definindo estratégias conjuntas de onde quebrar essa barreira inicial. Inicialmente a gente escolheu a cidade de São Paulo para isso. Então eu fiz a referência, a gente tem mais ou menos 1500 postos de instalações, carregadores de tomada como você falou. E está tudo bem, eu acho que é isso mesmo. E grande parte desses já está centralizada em São Paulo. Mas tem uma evolução bastante importante ainda, que parte desse planejamento da aliança. A gente está trabalhando em conjunto para, justamente, definir essa estratégia.

Cássio Politi: Legal. E não sei se você vai ter essa informação, que você não é o grande cara técnico aí, mas você está envolvido no tema, talvez você saiba responder. Essa economia, ok, você não põe mais combustível no carro, vai tudo para o elétrico. A tua conta de luz, de algum jeito, você vai ter que pagar isso, você vai ter que pagar essa energia. Me parece, não sei se está certa a minha sensação, mas hoje, como é muito pouca gente usando, não é uma questão ainda, tudo bem, eu tenho ali tomada para você abastecer o carro, com energia, nesse caso. Como que se paga aquela energia e quanto se paga em comparação com o tanque de gasolina? Eu sei que encher o meu carro, o tanque de gasolina, dá uns 200 reais, pouco mais que isso. Qual que é a mesma relação que a gente tem para a energia? E como que é feito esse pagamento?

Thiago Hipólito: Legal. Aqui, quando a gente, o dado que eu trago aqui, de fazer, dessa economia de até 80%. De novo aqui fazendo a ressalva, isso depende muito do preço do combustível, esse tipo de coisa, com essa flutuação. Mas a gente já considerou nessa conta o custo do carregamento, utilizando como base a tarifa que a gente tem nas casas das pessoas. Essa é a base. Então, quando a gente olha para essa diferença, para essa economia, o custo de carregar o carro na casa deles já está contemplado aí. Ok? O dado exato, depois a gente tem os estudos. Como eu falei, a gente fez testes, a gente colocou os carros na rua, a gente coleta essas informações dos motoristas e a gente até pode passar depois o detalhe, a gente pode elaborar um pouco mais sobre isso. Mas eu acho que o número aqui é de fato 80% de redução do custo total. E soma carregamento e manutenção. Acho que esse é um outro ponto, a gente acabou explorando pouco. O carro elétrico, ele também é muito mais eficiente do ponto de vista de manutenção e toda a parte mecânica. Então a quantidade de energia e aqui também como você falou, eu não sou um cara super técnico, mas o quanto ele consegue converter de energia gerada, para de fato o movimento, ele é muito mais eficiente nesse aspecto também. Isso gera menos desgastes e menos manutenção. Então esses são os dois grandes elementos dessa conta que a gente faz. 

Cássio Politi: Legal. Então eu estava fazendo uma conta aqui que, cada vez que eu for abastecer o meu carro elétrico, na tomada da minha casa, vai dar uns 50 reais. Se eu estou gastando 250 mais ou menos de gasolina, eu encho o tanque de energia com 50 reais, fazendo uma conta bem superficial, bem de padaria mesmo assim. Mas dá uma noção, legal. E para a gente fechar aqui Thiago, quanto tempo você acha que isso leva para virar realidade no Brasil? Considerando tudo isso, o poder aquisitivo das pessoas, o movimento que se tem, infraestrutura. Daqui a quanto tempo vai ser normal, assim, a hora em que eu chamar um carro na 99, vai chegar um carro elétrico e eu não vou me espantar com isso? Quanto tempo você imagina?

Thiago Hipólito: Legal. E aqui vai de novo os objetivos muito concretos que a gente está colocando como aliança. Então essa é uma pergunta superdifícil de responder. O que a gente fez? A gente mudou um pouco a abordagem. A gente falou, vamos definir objetivos. E a gente trabalha com esses objetivos como a nossa meta conjunta aqui. Então, para esse ano, a gente tem uma meta de ter 300 carros na plataforma, rodando Já esse ano, em São Paulo, como um primeiro início. E a segunda meta, que eu acho que é super relevante aqui, é para 2025. 2025, o nosso objetivo como aliança, como 99, é ter pelo menos 10 mil carros na rua. Então aqui, se a gente concentra isso, por exemplo, em algumas cidades grandes, já passa a ser muito mais natural, já passa a ser muito mais usual essa utilização. E também ter, em habilitar essa infraestrutura, com 10 mil pontos de carregamento públicos, que vão ser acessíveis por qualquer pessoa. Então como aliança, a gente colocou esses dois grandes objetivos, justamente para a gente direcionar os esforços de maneira conjunta, com um objetivo claro, em um tempo que é esse. Então, respondendo a sua pergunta do ponto de vista de tempo, até 2025 10 mil carros e 10 mil pontos de carregamento. Esse é o objetivo é para isso que a gente está trabalhando em conjunto.

Cássio Politi: Mas está bem respondido então, tem uma meta. É aquilo não é Thiago, isso aqui não é um compromisso seu dizendo “vai acontecer”, até porque não dá nem muito para confiar quando alguém vem com essas previsões. As pessoas erram muito, mas gostam de fazer a previsão para aparecer. Não, é o que você está vendo lá, a previsão. É uma meta, assim. Pode até ser que supere.

Thiago Hipólito: Perfeito, é o objetivo em conjunto que a gente definiu. E aqui a gente tem os planos concretos, cada passo, como que a gente vai evoluir até lá. E a gente vai ajustando à medida em que a gente vai entendendo melhor. E acho que é o que você falou, talvez pode ser que a gente supere esse número? Então a gente está trabalhando justamente nessa direção. E o fato de ter objetivos e metas concretas ajuda muito a coordenar os esforços, eu acho que isso é superimportante também.

Cássio Politi: Muito legal. Thiago, eu quero te agradecer muito pelo seu tempo, pela explicação tão didática. E tão otimista, porque poxa, a gente ir para uma nova era do carro elétrico é uma coisa bacana. Não sei se você curte automobilismo, eu sou alucinado por automobilismo, vivo isso. Ou eu estou trabalhando, ou estou brincando de automobilismo de algum jeito, ou no kart, ou em videogame, seja o que for. E tem a Fórmula E agora, que fez muito sucesso, mostrando que o carro elétrico é uma realidade. Os caras (inint) [00:33:56], o Lucas Di Grassi, que é um brasileiro que está, foi campeão já. O fato de ele ser campeão é um detalhe esportivo, ele é um grande entusiasta do carro elétrico, então é um cara que vai muito além da atuação nas pistas, tal. E traz uma abordagem muito parecida com a de vocês. Então a gente está vendo aí já um campeonato de corrida de carro, rodando o mundo. O ano que vem vai ter, 2023 vai ter etapa no Brasil, vai ser legal de acompanhar. E dá para ver que não é nenhum sonho, nenhuma viagem o que você está falando, é realidade e muita gente trabalhando em torno disso. Então, parabéns pela iniciativa e obrigado pelo papo viu, Thiago.

Thiago Hipólito: Eu que agradeço, Cássio. Foi muito legal o papo, fico à disposição para futuras oportunidades. Depois eu posso estar aqui e falar com vocês um pouco mais. (inint) [00:34:42] dados concretos, com os próximos passos de tudo o que gente está construindo. A gente começou essa área de inovação esse ano, tem muita coisa legal e tem muita coisa legal por vir também. Agradeço de novo pela abertura, pela simpatia, foi muito legal. 

Cássio Politi: Muito bem. Vamos chegando então ao final do Think Tech de hoje. E Sara, me chamou a atenção que o Thiago Hipólito, da 99, trouxe um dado interessante: 100 mil carros elétricos no Brasil hoje, em Sara?

Sara: Sim, o número de carros elétricos no Brasil cresce bem rápido, viu? Em julho de 2020, eram 33 mil carros circulando por aí. Em julho de 2021, já era quase o dobro: mais de 61 mil. A marca dos 100 mil foi alcançada em julho de 2022. Naquele mês, segundo o site Neocharge, o Brasil registrava 100.596 carros elétricos.

Cássio Politi: É, pela evolução, deve continuar crescendo e deve continuar crescendo de forma acelerada. É isso aí, o Think Tech de hoje fica por aqui. Até a próxima.