Cássio: O Think Tech está no ar. Meu nome é Cássio Politi, e junto com a Algar Tech, nós vamos embarcar nessa jornada de repensar possibilidades. No episódio de hoje a gente faz uma imersão em energias limpas. Quem é fruto da energia, da melhor qualidade do mundo, é a Sara, nossa especialista virtual em negócios. Tudo bem com você, Sara?

Sara: Tudo bem, sim, Cássio. E com você?

Cássio: Tudo bem também. Sara, hoje a gente vai falar, como eu já mencionei, de energia limpa, que é pauta em diversos países.

Sara: Exatamente. Existe uma preocupação mundial com a produção de energia limpa. Em 2019, por exemplo, o mundo emitiu mais de 36 bilhões de toneladas de gases associados à emissão de carbono. Muitas empresas e governos estão empenhados em reduzir essa emissão por uma questão ambiental, reduzir gases que colaboram para o efeito estufa é o principal objetivo, isso explica porque a ONU promove conferências, com frequência, para debater esse tema.

Cássio: Esse tipo de evento, como conferências, tende a ser realizado com cada vez mais frequência, viu. Para o bate papo de hoje, eu tenho a satisfação de receber o Fernando Vasconcelos, que é o gerente executivo de marketing da Auren Energia. Olha, talvez esse nome ainda não seja muito familiar para você porque é muito recente, mas de onde veio esse nome você certamente conhece. Uma empresa que tem apenas dois meses de vida, mas é fruto da integração dos ativos de energia do Banco Votorantim e da CPP Investments, e incorporou também (a Cesp) [00:02:00], que já fazia parte do grupo Votorantim, por isso nasce como uma das maiores plataformas de energia renovável do Brasil, e nasce também já listada na bolsa de valores do Brasil, a B3, justamente por ter assumido os papéis da Cesp. Fernando, grande prazer receber você aqui. Obrigado por aceitar o convite para esse papo, Fernando.

Fernando: Prazer é meu, Cássio. Obrigado por me receber.

Cássio: Legal. Vamos lá, então. Vamos falar de um tema que eu acho que é muito pertinente, que é transição energética. Deixa eu tentar traduzir com as minhas palavras isso aqui, e aí você melhora, porque você é o especialista do assunto, Fernando. O Brasil tem abundância das principais fontes sustentáveis, não é? Citar algumas aqui, tem sol (pra caramba) [00:02:46] em várias regiões, tem vento (pra caramba no) [00:02:48] Nordeste, por exemplo, tem rio, tem correntes boas para fazer energia hidrelétrica, aliás, tem até matéria orgânica para geração de biomassa e biogás, mas a gente não aproveita essa capacidade toda, não é? Porque ainda é um investimento alto, envolve certos riscos. Daí vem minha primeira pergunta. Em que ponto a gente está dessa transição, do cenário atual para o cenário de emissão zero de carbono, por exemplo? 

Fernando: Bom, Cássio, primeiro obrigado pela introdução aí. Eu estou na Auren Energia aqui há pouco mais de seis meses, sempre fui uma pessoa do segmento de marketing e interessado em tecnologia, em como a tecnologia vai nos permitir viver melhor (no futuro) [00:03:36], então eu acho que o tema da transição energética é um tema que ainda se fala pouco no Brasil, está se falando muito no setor, então ao redor das empresas da energia, do mercado de energia, se fala muito, mas isso ainda não é dia a dia das pessoas. Então quando a gente fala de transição energética, aí o Brasil tem um papel fundamental no processo de transição energética do mundo, a gente olha basicamente para uma meta, que os países colocaram para eles mesmos, de reduzir emissão de carbono, que é, na verdade, os gases do efeito estufa, e o carbono é talvez o principal, e é onde as empresas entenderam como fazer, como medir (a poluição) [00:04:37], e aí acordou-se que os países iam trabalhar em prol do Net Zero, trabalhar em prol da redução, de zerar a emissão de carbono até 2050. E o processo de transição energética, no final das contas, ele é esse processo, então esse movimento Net Zero, a eletrificação dos processos, então boa parte do que é hoje, do que emite dos combustíveis fósseis, dos combustíveis que emitem muito, que oneram muito a camada de ozônio, precisam ser substituídos, ou precisam ser trocados, para energia limpa. Então, para você ter uma ideia, hoje, o setor de energia, de geração de energia, então transporte, construção, a própria indústria, ele é responsável por 75% das emissões dos gases do efeito estufa, então para atingir Net Zero, o mundo precisa investir em energia limpa, o mundo precisa investir em energia sustentável, o Brasil, hoje, já tem uma grande participação de energia renovável, principalmente, a matriz energética do Brasil, hoje, já é composta boa parte por energia limpa, então o Brasil, hoje, de certa forma, já está caminhando para geração de energia de fonte renovável, então 65%, mais ou menos, da geração de energia, hoje, do Brasil, é uma geração hídrica, das hidrelétricas, eólicos são um pouco menos de 10%, gás natural, biomassa, e etcetera, então o Brasil já (tem uma geração) [00:06:35], isso é um problema mundial, a questão da transição energética. E as energias renováveis, as principais energias renováveis, então a gente está falando de hídrica, eólica e solar, elas vão continuar crescendo, então a gente espera aí que até em pouco mais de 15 a 20 anos, o Brasil tenha 20% da sua geração confiada à geração eólica, considerando geração distribuída e energia solar, quase 25% de energia solar. Então o Brasil também, além de ser responsável por manter a camada de ozônio ali, evitando desmatamento, preservando terras, cada vez mais importante a preservação ambiental, cada vez mais importante nessa meta de redução da emissão de carbono, o Brasil também vai ter uma mudança aí no perfil de que tipo de energia é gerada no Brasil, então vai crescer mais eólica, vai crescer mais solar, e aí a Auren está posicionada nesse mercado como uma das principais empresas de geração limpa, do Brasil. 

Cássio: Você mencionou aí o ano de 2050, e coincidência ou não, (a Bloomberg New Energy Finance) [00:08:07], tem a sigla de BNEF, estima que até esse ano de 2050, 77% dos investimentos do mundo vão se destinar a novas fontes de geração de energia que sejam renováveis, (batem bem com isso que você falou) [00:08:19], esses dados batem muito com o que você falou. Aí eu fico pensando aqui, Fernando, dinheiro se tem, o próprio Brasil tem dinheiro para fazer isso, e a coisa tem esse ritmo que não é o ideal ainda, mas acho que caminha nessa direção, talvez não no ritmo que a gente gostaria de ver, e eu fico tentando imaginar quais seriam as barreiras para que a coisa aconteça efetivamente. A gente não tem problema natural, de natureza, a natureza nos favorece, é isso que eu quero dizer, mas a gente tem problema econômico, não é? Por outro lado. Moeda fraca, moeda que oscila, crise política, muita gente reclamando de insegurança jurídica, e por aí vai. Então eu queria entender de você isso, eu citei algumas possíveis barreiras que vieram na minha cabeça aqui, mas eu queria entender quais são as barreiras para a gente caminhar firmemente nessa direção.

Fernando: Cássio, assim, o que eu acredito? Que as barreiras vão existir, independentemente de quais são as barreiras, eu acho que a gente precisa ter um compromisso da sociedade em fazer essa transição. E o que eu quero dizer com compromisso da sociedade, (o Larry Finch) [00:09:40], que é um dos principais investidores do mundo, além de um grande investidor, ele é um pensador, e hoje ele é uma das pessoas mais influentes no mercado financeiro mundial, ele publica todos os anos uma carta (aos CEOs) [00:10:01] das empresas em que ele investe, e na última carta do último ano ele falou sobre o movimento Net Zero, e ele falou uma frase que para mim soou muito potente, que é que só o capitalismo pode salvar o planeta. E o que ele quer dizer com só o capitalismo? O carbono foi criado como uma moeda para simbolizar, ele foi utilizado, ele foi convencionado como uma moeda para simbolizar a poluição, então o que a gente está falando? Que, hoje, qualquer gás do efeito estufa é convertido em carbono, ele pode ser convertido em carbono, essa foi a maneira como convencionou-se medir poluição. (E aí quando o Larry Finch diz) [00:10:57], na carta dele, aos CEOs, que só capitalismo pode salvar o mundo, e quando criou-se essa moeda, deu-se um valor para a poluição, deu-se um peso a um custo, e aí o que as empresas começaram a entender? Bom, isso pode entrar no meu balanço, isso faz parte, vai precisar fazer parte das minhas práticas de governança, e eu reduzir a minha emissão de carbono, representando todos os gases do efeito estufa, eu reduzir a minha emissão de carbono faz parte da governança da minha empresa, é importante para minha empresa. E o que ele fala também nessa carta, (o Larry Finch) [00:11:37], no final do ano, é que nós, os grandes investidores, eles vão começar investir só em empresas conscientes ambientais, porque a gente sabe que as empresas que têm consciência ambiental são empresas que têm boa governança, bom padrão de governança. Então ele fala que a gente não vai investir nas empresas porque nós somos ambientalistas, mas porque a gente sabe que a preocupação com o meio ambiente é fundamental para ter uma atuação, na sociedade, de forma sustentável, e as empresas que a gente quer investir são empresas sustentáveis. 

Cássio: Muito interessante o que você acabou de mencionar, Fernando, inclusive essa frase envolvendo capitalismo é muito interessante, porque ela nos dá uma esperança de solução real. O que eu queria te perguntar é o seguinte, as empresas já assumiram então o protagonismo, nesse sentido, não deixando para que os governos façam isso, porque a gente sabe que historicamente é assim, tem muito mais chance de funcionar quando empresas privadas caminham em uma direção, do que quando você espera isso de governo. Não estou aqui criticando, não estou propondo nenhum tipo de revolução, revolta, contra governos, mas é que governo é mais complicado, você tem um aspecto político que trava tudo. A empresa tem uma motivação sempre capitalista, mas ela tem uma eficiência maior na hora de realização das coisas. Então minha pergunta é essa, o protagonismo passou para mão das empresas?

Fernando: Essa é uma ótima pergunta, Cássio, porque, hoje, 75% das grandes empresas mundiais, então 75% do volume financeiro mundial, hoje, já tem metas de redução e de zerar emissão de carbono até 2050. Os governos, e quando a gente fala de mercado de carbono, a gente fala de dois tipos de mercados, a gente tem o mercado regulado, basicamente criado e desenvolvido por governos, para cobrar para que uma empresa ou algum segmento específico não emita carbono acima ou abaixo, (et cetera, então o governo regula) [00:14:00], então existem mercados regulados no mundo. E existem os mercados voluntários, que são a grande maioria, o grande volume de transações de (crédito de carbono) [00:14:13] estão no mercado voluntário, porque poucos mercados ainda têm o mercado regulado, então posso citar mercado regulado, mercado da China, mercado a Califórnia, alguns mercados que já criaram regras para as empresas daquela região reduzirem a emissão. O Brasil anunciou nessa semana, a gente está falando agora, para caráter temporal, a gente está falando de maio de 2022, final de maio de 2022, o Brasil é editou um decreto, então o governo, Ministério do Meio Ambiente (editou) [00:14:48] um decreto para criação do mercado regulado de carbono do Brasil, que é um grande passo para o mercado brasileiro. Mas voltando na sua pergunta, então as grandes empresas já entendem que é importante eu ter um olhar para governança (para) [00:15:04] redução da emissão. Os governos estão fazendo trabalho deles, e ao passo, na velocidade governamental de criar regras que também é bastante importante, mas o próprio mercado voluntário, o tamanho do mercado voluntário comparado aos mercados regulados, mostra o quanto que o mercado privado já está anos, meses à frente dos governos. Então, sim, o mercado privado, as grandes empresas, a grande maioria delas, as grandes empresas já têm metas de redução de emissão de carbono, o mercado brasileiro, hoje, voluntário, já é muito aquecido, então nós aqui, da Auren, somos comercializadores de crédito de carbono, então as empresas podem vir até nós, tanto a gente ajuda a desenvolver projetos para zerar carbono, mas a gente também vende crédito de carbono que a gente compra no mercado voluntário, então é um mercado super aquecido. Então vou te dar um exemplo, recentemente a gente teve a Fórmula Truck, que é um campeonato de corrida de caminhões, super famoso, super tradicional no Brasil.

Cássio: Sim.

Fernando: Nos procurou para zerar emissão de carbono da corrida, isso sem nenhum governo cobrando, sem nenhuma entidade, sem nenhuma necessidade, só porque eles entenderam que esse é um atributo importante para competição, então eles nos procuraram, compraram os créditos de carbono, zeraram a emissão da corrida, e eles podem dizer que eles são uma corrida limpa, um campeonato Net Zero, e etcetera. Então o que está acontecendo é isso, as empresas têm buscado em velocidade muito mais alta do que os governos têm cobrado, e a gente acredita nisso também, que (esse talvez é uma tendência boa) [00:17:03].

Cássio: Interessante isso. Aliás, eu amo automobilismo, passo fins de semana inteiros vendo Fórmula 1, Fórmula 2, Fórmula 3, Fórmula E, é uma paixão minha aí, tenho até canal no Youtube com isso tudo, e é bem isso que você está dizendo, não é um movimento só da Fórmula Truck, você vê os motores da própria Fórmula 1 já são híbridos, existe essa categoria da Fórmula E que ainda luta para se impor, porque os carros elétricos não são tão rápidos, mas estão cada vez com mais potência, então é um movimento, nessa direção, bacana. Eu não sabia disso na Fórmula Truck, mas é interessante saber, porque vê que ela também está se modernizando aí e indo em uma direção. Vai demorar, não é, Fernando? A gente sabe que a gente não vai ver (a próxima) [00:17:58], estou aqui agora falando de Fórmula 1, olha que coisa, mas estou falando, a próxima mudança de regulamento, a última foi agora em 2022, então fica congelado, os motores são os mesmos até 2026, e ali muda de novo, e a gente já sabe que não vão ser motores elétricos até 2030, mas caminha nessa direção, já são híbridos, ou seja, metade motor antigo à gasolina, e uma parte do motor gerados por energia, tanto que eles não chamam mais de motor, eles chamam de unidade de potência.

Fernando: Mas você sabe, Cássio, que a emissão de gases do efeito estufa não vai zerar até 2050, (porque aí o que) [00:18:42] vai acontecer é a gente, de certa forma, vai (reduzir ao máximo) [00:18:45] e compensar. Então o que, por exemplo, os mercados de aviação, por exemplo, os mercados de aviação estão eletrificando o máximo possível, mas, cara, combustível continua sendo combustível fóssil ainda por conta de potência, (etcetera) [00:19:07], então tem uma questão de desenvolvimento tecnológico, as próprias baterias dos carros ainda, para eletrificação de veículos leves, ainda tem muito trabalho em desenvolvimento tecnológico para reduzir tamanho, para reduzir tempo de carga, etcetera, então tem um desenvolvimento tecnológico associado a isso, o que a gente está falando é de uma mentalidade. Então provavelmente, e aí, desculpa, não tenho informação aqui, mas provavelmente a Fórmula 1 já tem um trabalho de redução, senão de compensação.

Cássio: (Sim, tem) [00:19:46].

Fernando: (Com certeza) [00:19:46], dos dois, inclusive, de redução e de compensação. Então acho que a questão é a mentalidade, a gente sabe que algumas coisas vão ainda levar mais tempo, por conta de tecnologia.

Cássio: Perfeito. Fernando, deixa eu entrar em um outro assunto aqui que tem a ver, claro, com energia renovável, energia sustentável, que é algo que eu acho que vai aí impactar diretamente as nossas vidas, não que tudo isso que a gente está conversando aqui não vai impactar, vai, mas não vai talvez aparecer no curto prazo na nossa conta de luz. Queria falar de alguma coisa que vai aparecer na nossa conta de luz, na sua, na minha (e na de quem está ouvindo a gente) [00:20:27], tanto para empresa, quanto para casa, talvez, que é descentralização da energia. Hoje você vê placa solar, de energia solar, em todo lugar, até em pequenos produtores rurais, por exemplo, mas isso ainda não é uma realidade, você vê que isso é um movimento começando, embora não seja nada super novo, mas ainda é um movimento incipiente. O que falta para a energia, que você produz em casa, ter uma participação significativa no mercado?

Fernando: O que falta, eu acredito que tem tecnologia, aí é a tecnologia associada à redução de custos, e o desenvolvimento da tecnologia também, então de você ter mais capacidade de geração, e etcetera, e tem uma questão regulatória importante. Quando a gente fala de geração distribuída, e a gente fala da descentralização de energia, essa é uma das grandes tendências da energia no mundo, assim como a descarbonização, a gente está falando que a distribuição e a descentralização da energia é uma das grandes tendências, e aí representada bem pela geração distribuída, que é basicamente você ter na tua casa, instalar um teto ali, solar, e você poder gerar sua própria energia onde você consome. O que acontece aí é, antigamente, assim, nós como geradores de energia no Grupo Votorantim há mais de 100 anos, no passado se construía gigantescas hidrelétricas, parques de desenvolvimento de geração de energia enorme, e aí essa é uma tendência de fazer com que a geração de energia (inint) [00:22:16]. E esse é um movimento que tem crescido muito no Brasil, então vai continuar crescendo, nesse ano também, e energia é um tema que está muito em pauta, no governo, na pauta dos governos nos últimos anos, e o Brasil sancionou também o marco regulatório da geração distribuída recentemente, então o que faz com que esse mercado de geração distribuída cresça? No final das contas, hoje, o mercado que você compra energia diretamente aí na sua casa, as tarifas crescem muito, a gente tem tarifas crescentes, tem as bandeiras tarifárias aparecendo em momentos que a gente não tem nenhum controle, crises hídricas, (fazendo com que chova menos chuva) [00:23:08], a tarifa de energia fique mais cara, e etcetera, e o consumidor na ponta, você na sua casa, eu na minha, a gente não quer ficar exposto a de um mês para o outro pagar o dobro, três vezes o preço da energia. Então o que aconteceu? As pessoas foram buscar alternativas.

Cássio: A lógica faz muito sentido, é fácil entender, eu gero energia aqui, vou pagar menos energia. Agora, a gente depende um pouco de governo aí, Fernando, voltando o assunto, eu estava vendo um vídeo, vou até deixar esse vídeo aqui, na descrição do podcast, para quem quiser ver, o vídeo é em português falando dessa questão, como foi feito na Espanha. Não tem nada que contrarie tudo que você disse, da importância de ter energias renováveis. (Qual problema que aconteceu, pelo menos, que esse vídeo reporta) [00:23:57], é que o governo prometeu dar todos os incentivos, muitas pessoas investiram na energia solar, produtores rurais, por exemplo, investiram, fizeram financiamento, colocaram placas lá, porque viram que ia ser um grande negócio vender energia para o governo, e houve o excesso de energia naquele momento, e o governo não apenas retirou os incentivos, isso na Espanha, como passou a taxar a energia, então teve gente que perdeu a casa depois porque não conseguia pagar mais de financiamento. Então o que eu queria colocar e ver como é que você pensa, sendo tudo realidade, (inint) [00:24:37] alguma visão, até política, muito peculiar, mas vale a informação. Precisa ter um certo olhar, assim, para o que o governo pensa, como ele se posiciona, como é que ele joga esse jogo, quando você entra como negócio nesse mundo, não é, Fernando?

Fernando: Assim, o governo, os governos, em geral, e aí quando a gente fala em energia, ele tem um papel importantíssimo, tanto no desenvolvimento, quanto também na gestão de riscos, e de todos os players, o mercado de energia é um mercado muito crítico porque é necessidade básica, então o governo, geralmente, os governos atuam de forma bem rígida, e os órgãos regulatórios são muito fortes no mercado de energia também. Mas qual é o papel do governo? Então proporcionar segurança jurídica, estabilidade regulatória, então é super importante a gente ter o governo atuando como um órgão de estabilidade, preservar esses investimentos que foram realizados, então para que a pessoa ou a empresa que investiu tenha certa previsibilidade, garantir os direitos do consumidor, e reconhecer a geração distribuída como parte importante para política energética nacional. Então acho que dado esses quatro pontos que são atribuição do governo, a gente tem visto (tanto) [00:26:23], independentemente de partido, mas nos últimos ciclos governamentais, que o governo brasileiro tem um olhar muito cuidadoso para isso, independente de qual partido ou qual o presidente que está em exercício, o governo brasileiro tem um olhar muito cuidadoso para isso, e tem feito movimentos de evolução, e de abertura do mercado também, com bastante cuidado. 

Cássio: E para a gente fechar, Fernando, eu queria falar um pouquinho com você de tecnologia (nesse mundo) [00:27:01]. É claro que a gente falou aqui de muitos aspectos que estão diretamente ligados à tecnologia, não se produz energia de formas tão alternativas e criativas, e limpas, sem uma forte presença de energia, mas a minha pergunta é como os elementos da transformação digital, por exemplo, IoT, o famoso Internet das coisas, blockchain, e outros desses elementos que fazem a transformação digital ser forte, ser o que ela é, como esses elementos estão presentes hoje no universo da energia?

Fernando: Eles estão presentes todos os dias, o tempo inteiro. Então vou te trazer alguns exemplos, então nós aqui que somos compradores e vendedores de energia, então a gente gera a nossa própria energia para vender, para consumo do grupo, para vender, mas a gente também compra e vende, então hoje a gente já usa inteligência artificial, (analytics avançado, para tomada de decisão de compra) [00:28:03]. O preço de energia é um preço que varia todos os dias, que é o famoso PLD, que é o Preço de Liquidação das Diferenças, então é um preço de mercado, e a nossa estratégia aqui, como comercializadores de energia, é comprar na baixa para vender na alta, então essa e a mentalidade, então a gente já usa inteligência artificial para fazer (trader) [00:28:24] de energia, esse é um dos pontos. A gente já tem, hoje, projetos de blockchain, para certificação e (para tokenização) [00:28:35] de créditos de carbono, (então quando você) [00:28:38], um crédito de carbono é igual uma tonelada de carbono que foi neutralizada, só que o consumidor final, a pessoa que está lá na ponta, o que vai precisar comprar um crédito de carbono por conta de uma viagem, passagem aérea, ou você pede uma comida de delivery na sua casa, parece lá que você neutralizou a emissão daquela comida de delivery, para você certificar que aquela ação gerou uma compensação de crédito de carbono, já começa a se falar bastante em blockchain para certificar essas transações, para garantir que essa unidade, que é muito menor que uma tonelada, que essa unidade já foi certificada e ela é real, ela existe, ela está em algum lugar, aquele carbono já foi neutralizado em algum lugar. Existem grandes empresas do mundo, hoje, que já estão desenvolvendo NFT’s de áreas na Amazônia para fazer preservação florestal, você compra um espaço que vai fazer com que você preserve um espaço físico ali na Amazônia. Então esse mercado de energia, o próprio desenvolvimento das baterias de eletrificação automotiva, também altamente necessárias para alavancar esse movimento de transição energética. As placas solares, que precisam evoluir muito ainda, para reduzir custo e para serem altamente implementadas em larga escala, no mercado. Quando você fala de geração eólica, você pega os aerogeradores, que eles, por centímetros de envergadura, ou por pequenos graus de envergadura, eles já têm geração, um aumento na capacidade de geração do parque eólico. E o que eu acho mais fascinante disso, Cássio, é que ao passo em que essas tecnologias vão se desenvolvendo e a gente vai implementando essas tecnologias no nosso mundo, no dia a dia, no país e no mundo, a gente começa ver algumas mudanças. Então, recentemente, eu estive visitando um dos parques eólicos, no interior do Piauí, e a gente percebe que essas novas tecnologias associadas à exploração de um recurso natural abundante, que até então não tinha nada na região, (ou então) [00:31:26] tinha uma região extremamente escassa de água, de recursos naturais, e aí a gente começa a ver que surgiu e desenvolveu-se tecnologia para explorar o vento, e aí você começa ver um movimento econômico de desenvolvimento, de crescimento da sociedade, das pessoas ao redor dos parques eólicos, extremamente positivo, e de certa, (te) [00:31:57] gera esperança, e realmente eu vejo o quanto a tecnologia aplicada ao dia a dia, tem a capacidade de mudar vidas, então tem capacidade de mudar uma cidade, uma microrregião.

Cássio: Fernando, eu quero te agradecer muito pela aula, pelo foco em solução que você traz quando aborda esse tema, acho que é muito importante focar na solução e não no problema em si, e você tem muito essa postura. Obrigado pelo papo, Fernando. 

Fernando: Cássio, obrigado. Um abraço aí para todo mundo que está ouvindo, (e se quiser aí) [00:32:32] também estou disponível para falar mais quando vocês quiserem, tem o meu LinkedIn, depois você põe (no chat) [00:32:38].

Cássio: Já está no link, aqui. (É isso aí) [00:32:39].

Fernando: Valeu, gente. Obrigado.

Cássio: Muito bem. Vamos chegando então ao final do Think Tech de hoje. Sara, eu gostei da conversa com o Fernando, porque, como eu disse, ele aponta para solução e não para o problema, acho bem legal quando é assim. É aquilo, analisa e age. Foi interessante ele apontar que essa é uma questão global, não é, Sara?

Sara: É global, sim, Cássio. O Brasil precisa fazer a sua parte, mas não é o único país nessa condição. Os países que mais emitem gases, como o dióxido de carbono, são justamente os mais desenvolvidos. Existe um ranking que mostra os dez países que mais emitiram CO2 desde 1850, o Estados Unidos aparece em primeiro lugar, seguido de Alemanha, Reino Unido, Japão, Canadá e Austrália. Na mesma lista dos Top 10 aparecem outros países menores em área, mas enormes no quesito desenvolvimento, por exemplo, Itália, Espanha, Bélgica e Holanda. 

Cássio: Obrigado pelas explicações sempre precisas que o seu cérebro eletrônico traz aqui para o podcast, Sara. É isso aí. Think Tech de hoje ficar por aqui. Até a próxima.