Cássio: O Think Tech está no ar. Meu nome é Cássio Politi, e junto com a Algar Tech nós vamos embarcar nessa jornada de repensar possibilidades. No episódio de hoje a gente vai fazer uma imersão em cidades inteligentes. Por falar em inteligente, deixa eu chamar aqui a Sara, a especialista virtual em negócio da Algar Tech, que é a inteligência artificial somada ao carisma digital. Tudo bem com você, Sara?

Sara: Olá, Cássio. Tudo bem comigo, obrigada. Eu estou curiosa para acompanhar a conversa de hoje, (e que) cidades inteligentes são um assunto que desperta o meu interesse.

Cássio: Eu tenho certeza disso, Sara. Cidades inteligentes são uma pauta muito atual. E o conceito, Sara, ele também é novo, ou não?

Sara: Não é novo, não, Cássio. O conceito de cidades inteligentes vem da década de 90, foi nessa época que gestores e profissionais de urbanismo enxergaram um possível casamento com a tecnologia, naquela época a tecnologia ainda não era tão avançada para permitir colocar o conceito em prática. Hoje, com toda tecnologia disponível, as cidades inteligentes já são realidade.

Cássio: Sem dúvida, Sara. E é legal pensar que nós estamos só no começo da revolução, vem muito mais coisa pela frente. Para o bate-papo de hoje eu tenho a satisfação de receber o Heron Fontana, que é diretor de processos e tecnologia da Neoenergia, uma empresa líder do setor elétrico, tem participação em todos os segmentos de geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia. A Neoenergia atende mais de 15 milhões de clientes no Brasil e tem projetos importantes em energia renovável e transmissão. Heron, grande prazer ter você aqui. Obrigado por aceitar o convite para o bate-papo de hoje, Heron. 

Heron: Cássio, é um prazer. Bom dia. Obrigado pelo convite para ter esse bate-papo aí sobre um tema que eu sou apaixonado, sobre setor elétrico, energia, redes inteligentes. Agradeço muito aí a oportunidade. 

Cássio: Eu é que agradeço, Heron. E você falou já aí de alguns temas que a gente quer abordar hoje com você, e isso me leva a pensar, Heron, em cidades inteligentes. É um sonho antigo, é um sonho que a gente vem fomentando já há algumas décadas, e que agora parece que vai ganhando contornos mais reais. Então gostaria de começar falando do que é uma cidade (inteligente) na prática, porque até aonde eu entendi tem muito a ver com o uso de tecnologia da informação, e a transformação digital traz elementos importantes para isso acontecer, como internet das coisas, Big Data, Cloud Computing, Mobile Apps, fibra óptica, 4G, 5G, e por aí vai, tudo isso vai permitindo que esse desejo se torne realidade, daí vem a pergunta: o que é, na prática, uma cidade inteligente, Heron? 

Heron:  Legal, Cássio. A cidade inteligente eu acho que comporta várias visões do que é uma cidade inteligente, seja do ponto de vista da eficiência da operação da cidade, seja do ponto de vista de novos serviços ou novos negócios que essa cidade inteligente permite, e também do que vem pela frente, e a gente vai conviver, por exemplo, veículos elétricos, o 5G, IoT, então nós vamos ter mais elementos, que o consumidor, os cidadãos vão utilizar, e de alguma forma, como que a gente integra isso dentro do ambiente das cidades. E aí um exemplo do que é uma cidade inteligente, e até fora do setor elétrico, imagina um controle semafórico de trânsito inteligente, então semáforos que utilizam informação de sensores das vias, e eles não ficam ali em uma rotina automático, chaveando do verde para o amarelo, para o vermelho, não, eles sabem qual que é a movimentação de veículos, a velocidade dos veículos, os horários de pico, os horários mais tranquilos, então eles conseguem se adaptar e de uma forma inteligente controlar o tráfego dentro de uma cidade, melhorando a condição de mobilidade. Então isso é um exemplo. Outro exemplo, também fora do setor elétrico ainda, imagina que a gente pode ter sensores também, sensores de áudio, que podem detectar um disparo de arma de fogo, por exemplo, ou podem detectar uma colisão a partir de um ruído, de um som abrupto, e por triangulação de sensores definir a localização do evento e já acionar Defesa Civil, a polícia ou área de emergência e saúde, para enviar uma equipe para o local, e isso sem precisar de nenhum acionamento por um cidadão ou alguém. Então esse é mais um exemplo. E do ponto de vista das redes elétricas inteligentes, incorporado aí ao contexto das cidades inteligentes, a gente pode ter uma rede elétrica que se (auto recupera), que se recompõe automaticamente em caso de uma falta de energia.

Cássio: Seria lindo isso.

Heron: Sim. Já temos, e isso cada vez mais vai estar presente em larga escala, mas um carro que bate em um poste, por exemplo, quebrou o poste, por algum motivo ali danificou o equipamento, o transformador, ficou sem energia, o bairro, mas precisa ficar sem energia todo o bairro? Então na cidade inteligente, a rede inteligente se reconfigura, ela muda o fluxo de energia, para isolar somente aquele ponto do defeito. São alguns exemplos, Cássio, de como a cidade pode ser mais inteligente. 

Cássio: Heron, eu estava olhando também aqui alguns exemplos, lendo sobre isso, e falaram de mais exemplos, carro conectado com parquímetro, fala-se muito de maior uso de energia solar, os próprios semáforos inteligentes que você citou. O que eu queria saber é, quais desses exemplos, e são muitos os exemplos, mas quais desses exemplos estão mais próximos de acontecer? Desses que a gente até pouco tempo podia imaginar como ficção científica, e agora você já pode dizer: “Olha, está prestes a acontecer”? Você falou que as próprias redes inteligentes já estão nesse caminho. Dos outros exemplos, o que já está em prática ou está prestes a fazer parte do nosso dia a dia? 

Heron: Olha, Cássio, eu acredito muito em mobilidade elétrica permeando e massificando no ambiente das cidades. Tudo bem que tem um caminho longo, talvez 10, 15 ou 20 anos, mas isso vai ser cada vez mais e mais presente, até porque é uma necessidade da sociedade atual, (descarbonificar) a sociedade, o consumo de energia, e eletrificar o consumo de energia, e consumindo eletricidade através de uma fonte limpa, a partir de uma fonte limpa, então a gente já vê alguns veículos elétricos nas cidades, isso vai se tornar cada vez mais e mais comum. Eu falo para as pessoas da minha equipe, mais novos, talvez, não sei se o próximo, mas depois desse, com certeza, o seu carro vai ser um elétrico. No mínimo, ele vai ser um híbrido ou um elétrico. Agora, a inserção do veículo elétrico na cidade, ela implica também uma mudança do comportamento da rede elétrica, aí que a gente entra, e por isso a rede precisa ser inteligente, para poder comportar esse fluxo de energia, dinâmico, a gente não sabe onde as pessoas vão estacionar o carro, mas onde elas estacionarem, lá tem que ter um posto de recarga e tem que ter uma rede adequada para lidar com aquele fluxo de energia, e muitas vezes aliado com uma geração fotovoltaica, então um carro estacionado em uma residência com uma geração fotovoltaica e um armazenamento de energia também incluso. Agora, para exemplificar isso, Cássio, imagina se em uma rua, está tendo um evento naquela rua e todo mundo estaciona o carro naquela rua, e o carro de todo mundo vai recarregar, ocorre uma sobrecarga naquele trecho de rede, então por isso a gente precisa também de sinais de preço de energia elétrica, sinais locacionais, sinais temporais, porque às vezes pode ser mais barato estacionar o carro  na rua de trás, estacionar o carro naquela rua vai estar muito caro, naquele horário do evento, e aí a gente vai mandar um sinal para o nosso cliente: “Olha, você pode estacionar aqui ou você pode estacionar na rua de trás, a energia está 20% mais barata ali na rua de trás, porque a rede ali vai estar em uma outra condição de carregamento. Então isso é mobilidade elétrica, com implicações e oportunidades para operação da rede elétrica e também de negócios, eu acho que isso é uma visão bastante interessante.

Cássio: É muito interessante, Heron. Qual a complexidade para a instalação desse tipo de recurso? 

Heron: Olha, Cássio, a tecnologia já existe, ela já existe, ela talvez não esteja disponível aqui no Brasil, através de uma cadeia de fornecedores, de produtos ou serviços, mas, no mundo, a tecnologia já existe. Agora, para realizar todo esse investimento a gente tem que ter prudência, existe uma regra da ANEEL, o regulador do setor elétrico, que ele fala do investimento prudente, o investimento precisa ser feito de forma que traga benefícios para o consumidor de energia elétrica, de uma maneira razoável, então a gente não pode investir bilhões para um benefício que vai acontecer ao longo de muitos anos, a gente tem que ir capturando esses benefícios. Para poder capturar esses benefícios para o consumidor e para a sociedade, a gente precisa ter então uma implantação organizada e coordenada, passo a passo, precisamos de políticas governamentais, um modelo regulatório também adequado, alguns ajustes no nosso modelo regulatório atual, algumas mudanças inclusive legais, que hoje estão em discussão no legislativo, no governo, nos órgãos reguladores. Um exemplo é a liberalização do setor, então, porque hoje o consumidor de energia elétrica só pode comprar energia da distribuidora de onde ele está, mas em um ambiente liberalizado e com sinais locacionais, e temporais também, do preço de energia, isso cria um mundo de possibilidades, e que requer a tecnologia, então a tecnologia em si não é o fator limitante, mas são uma coordenação entre político industrial, modelo de negócio, modelo regulatório, com uma locação correta dos benefícios e dos riscos em se fazer essa transição para as redes elétricas e inteligentes em larga escala. 

Cássio: Mas fica bem clara, é complexo, mas dá para entender, não é aquela tecnologia, aquela estrutura que você não consegue visualizar, pela sua explicação dá para entender como isso vai ser, esperando que não demore muito, até porque, Heron, na Neoenergia vocês têm um site e vocês publicam diversos conteúdos sobre cidades inteligentes, e eu estava dando uma lida lá, vocês citam Atibaia e Fernando de Noronha como bons exemplos de cidade inteligente ou cidade do futuro, ou ilha do futuro, no caso de Noronha. O que elas têm de interessante que podem servir de (benchmark) para as outras cidades do Brasil, Heron?

Heron: Legal. São bons exemplos para a gente explorar, você comentou do nosso site, tem bastante conteúdo, o que a Neoenergia faz. E fazendo um parêntese aqui, Cássio, a Neoenergia é parte do grupo Iberdrola. A Iberdrola é um dos acionistas, acionista controlador do grupo Neoenergia, também tem capital aberto (na bolsa). E a Iberdrola é líder também mundial em redes inteligentes, em geração renovável, e a gente toma muito esse benefício, trazendo a experiência do grupo Iberdrola também aqui para o Brasil. E aqui no Brasil, como você falou, temos vários projetos, dois projetos que são carros-chefes, o projeto Energia do Futuro, em Atibaia, e projetos também em Fernando de Noronha, que é um paraíso e onde a gente desenvolve vários projetos de sustentabilidade. Primeiro caso, Atibaia, fica aqui próximo de São Paulo, (cerca de 1 hora) de São Paulo, Atibaia é parte da nossa concessão, uma cidade que está na concessão da Elektro, Neoenergia Elektro, uma das distribuidoras do nosso grupo, e aí a gente pensou: “Vamos desenvolver um modelo de rede inteligente do futuro”, avaliamos a nossa concessão, uma cidade que pudesse aglutinar todas as características da nossa concessão, no caso, Neoenergia Elektro, escolhemos Atibaia, tem um perfil urbano, industrial, comercial, rural, relevo, vegetação, então seria um bom ambiente para a gente desenhar esse modelo de rede elétrica do futuro. Desenvolvemos o projeto, onde nós mudamos do modelo tradicional, que nós chamamos de (DNO, Distribuition Network Operator, para um modelo DSO, Distribuition System Operator), ou seja, a gente só não opera uma rede elétrica, a gente opera um sistema elétrico, um sistema mais complexo. Em Atibaia, nós investimos três pilares de investimento ou de mudança, medição inteligente, então em Atibaia temos 75 mil medidores inteligentes instalados, medidores que comunicam a cada minuto, comunicam via uma rede de comunicação 4G LTE, comunicam com o nosso data center, e isso nos permite atuar de forma mais rápida quando ocorre uma falta de energia, então o cliente não precisa ligar para a gente. Imagina, Cássio, que em pleno século XXI a gente ainda tem um serviço, em grande parte, no Brasil como um todo, que o cliente precisa ligar informando que não tem a disponibilidade do serviço. Isso, vamos dizer assim, é algo que a gente não pode aceitar. Automação de rede, como eu comentei, a (auto recomposição de rede, ou Self Helling), em Atibaia nós temos quase 150 religadores, religadores são equipamentos de rede com essa função, ele consegue reconectar, proteger e reconectar trechos de redes, então reduzindo o impacto de uma falta de energia. Temos em Atibaia, temos também em vários outros lugares esse sistema, (O Self Helling, e aí o Self Helling pode ser em) pequeno, médio ou grande. Isso nós fizemos, tudo em Atibaia, com uma rede 4G LTE, a Neoenergia foi pioneira, tendo uma rede LTE privada para o setor de (utilitys) , setor elétrico também, água, saneamento. Temos seis rádio bases, que cobrem Atibaia e região, incluindo Bom Jesus dos Perdões e Nazaré Paulista, que dá suporte a toda essa operação com tecnologia em campo, religadores, sensores, medidor inteligente, tudo isso conectado com o nosso data center, com o nosso centro de operação. Esse é o modelo que a gente desenvolveu em Atibaia, a plataforma tecnológica. Em cima dessa plataforma podemos desenvolver novos serviços ou novos modelos de negócio, inclusive compartilhando infraestrutura de comunicação, e aí é um ponto, Cássio, que eu acredito muito que as redes inteligentes são a plataforma para cidades inteligentes, a maneira mais eficiente de a gente construir a cidade inteligente é a partir da rede elétrica inteligente, uma estrutura de rede elétrica pode suportar a cidade inteligente. 

Cássio: Muito legal. Interessantíssimo saber disso tudo, Heron. Para a gente fechar, quem perde com isso, Heron? Eu sei que a sociedade ganha, eu sei que as cidades em si ganham, porque onde a tecnologia entra como meio e não como fim, geralmente traz benefícios. Tem alguém que é resistente a isso? Por exemplo, players atuais que se interessam pela manutenção de algum aspecto (do jeito do status quo), ou algum setor público, eventualmente, pode ser uma trava para isso? Ou a barreira é menos complexa, (ela é mais uma barreira, como você explicou, tecnológica), barreiras até de implantação da tecnologia disponível. Então a pergunta, para não confundir ninguém, é: existe algum grupo, em algum desses setores, interessado em que isso não avance, cidades inteligentes não existam? 

Heron: Legal. Boa pergunta, Cássio. Olha, eu acho que quem perde, empresas ou instituições, são aquelas empresas que elas vão se pegar a um modelo tradicional, ou a um modelo, talvez, um modelo atual, mas que é ultrapassado, a sociedade necessita caminhar com uma descarbonização, a eletrificação da economia a partir de fontes limpas, então quem lutar ou quem não enxergar essa tendência, vai perder. E aí uma empresa que não faça uma transformação do seu negócio, que não invista no momento adequado, ou que não enxergue as oportunidades, ela vai perder, mas eu acredito muito, eu acredito que a grande maioria vai ganhar, a sociedade vai ganhar novos modelos de negócio, o cliente empoderado vai demandar mais serviços também, então eu acredito que existe um mundo de oportunidades, e oportunidades para praticamente todas as empresas, em todos os segmentos, mas essas empresas não podem, vamos dizer assim, se agarrar em um modelo negócio talvez atual delas, porque talvez esse modelo não exista mais. Para ninguém se assustar, Cássio, e o Brasil tem feito isso, a gente tem feito mudanças, as grandes mudanças no setor elétrico tem acontecido de forma gradual, o regulador, o governo também, o legislativo, já tem sinalizado dessa forma. A mudança para o modelo liberalizado vai acontecer de forma gradual, já está acontecendo, e ela vai chegar até as residências, isso vai acontecer de forma gradual, então vai dar tempo, vai dar tempo de todo mundo se adequar, se preparar, também, para aproveitar as oportunidades. 

Cássio: Heron, quero te agradecer muito por essa aula que você deu. Esse é um tema que precisa ser mais difundido, a gente gosta ideia, aqui no podcast, porque a gente fala muito de tecnologia como meio para resolver problemas das pessoas, e nesse caso, das cidades, então é um conteúdo muito bem-vindo, vamos torcer para que tudo flua bem, para que a gente veja aí, em um futuro bem próximo, essas coisas acontecendo com ritmo, com frequência. Então muito obrigado, Heron, pelo papo de hoje.

Heron: Cássio, eu que agradeço. Muito empolgante a conversa. Fico à disposição, e peço aí para os nossos ouvintes também seguirem a Neoenergia nos nossos canais, acompanhar também as novidades no nosso site, a evolução, os projetos são constantes, a gente caminha para construir as redes do futuro. Muito obrigado.

Cássio: Muito bem. Vamos chegando ao final do Think Tech de hoje. Sara, eu acredito que o Brasil ainda vá chegar a patamares muito altos, muito bons, no quesito cidades inteligentes, pelo que a gente ouviu aí do Heron Fontana, até porque tem bons exemplos pelo mundo afora.

Sara: Existem bons exemplos sim. Uma reportagem da Forbes trouxe o ranking das cidades mais inteligentes do mundo. Londres, Nova Iorque, Amsterdã, Paris, Reykjavik, Tóquio, Copenhage, Berlim e Viena apareceram nas primeiras posições, vamos torcer para que cidades brasileiras entrem em breve nesse seleto grupo. 

Cássio: Vamos torcer sim. E com esses votos de otimismo da Sara, o Think Tech de hoje fica por aqui. Até a próxima.