Cássio: O Think Tech está no ar, meu nome é Cássio Politi, e junto com a Algar Tech, nós vamos embarcar nessa jornada de repensar possibilidades. No episódio de hoje a gente faz uma imersão na vida dos bancos digitais. E eu, como sempre, convido a nossa especialista virtual em negócios de Algar Tech, a Sara. Sara, você é um ser virtual, que vai falar de banco virtual, portanto, você entende ainda mais do riscado quando o assunto é esse, hein Sara. 

Sara: Obrigada, Cássio. Já existem mais contas digitais do que pessoas no Brasil, uma pesquisa feita pela (ID UOL) [00:00:53] mostra que existem 250 milhões de contas abertas em bancos digitais, e isso é bem mais que o número de brasileiros, de aproximadamente 211 milhões. O crescimento do serviço aconteceu principalmente em 2021, quando 115 milhões de contas digitais foram abertas em menos de um ano. O número médio de instituições utilizadas por pessoa também aumentou, em 2019 cada pessoa tinha pessoa em dois bancos digitais, hoje cada pessoa tem conta, em média, em três bancos digitais. 

Cássio: O olha, eu dei uma olhada nessa pesquisa, Sara, e outro dado me chamou atenção, três em casa quatro brasileiros estão dispostos a trocar de banco tradicional para banco digital se houver uma vantagem. Então, isso também justifica porque bancos digitais crescem nesse ritmo que você descreveu. Para o bate papo de hoje, eu tenho a satisfação de receber o Gaspar Lins, que é CTO e COO do Digio, que é um banco digital que está cada vez mais conhecido e tem como principal característica ser a chamada bantech, aquela empresa que tem a solidez do banco e procura ter a agilidade de uma fintech. Gaspar, muito bom receber você aqui, obrigado por aceitar o convite para essa conversa de hoje. 

Gaspar Lins: Cássio, eu que agradeço, uma honra poder trocar um pouco desse bate bola com você aqui, essa troca de experiência, e poder contribuir com a comunidade de tecnologia, comunidade de negócio. 

Cássio: Bom, você está dentro do Digio, aliás no dia da gravação fazendo um ano de aniversário do Digio, parabéns. Gaspar, eu acho que vocês traduzem, a natureza do negócio de vocês traduz um pouco do que é a alma aqui do podcast, a gente fala muito de tecnologia como meio e não como fim, quando você pega um banco digital, uma bantech como apresentei, tem isso na essência. Mas no dia a dia, como é essa coisa da tecnologia a serviço do negócio, a serviço do cliente se traduz na prática? Como isso realmente acontece?

Gaspar Lins: A gente tem uma essência em tecnologia muito forte de estar orientado ao cliente. Então existe uma conectividade muito grande entre a área de tecnologia e todas as demais áreas do banco, mas sob a ótica da experiência do cliente, o que afeta positivamente, o que não está legal e tem oportunidade de melhorias. Então, a tecnologia aqui não está a serviço meramente de trazer a tecnologia em si mesma, uma casca, mas como a tecnologia, de maneira orgânica, a gente coloca ela em prática, e isso se transforma em algo que alavanca os negócios, que o cliente valoriza e fideliza o cliente junto ao Digio. Então, isso se dá em pequenas melhorias que a gente faz no aplicativo, isso se dá em automações, isso se dá em uma experiência mais fluída do cliente com o Digio, para que ele tenha, como eu gosto sempre de dizer para o time aqui, para que ele perceba que por detrás de um aplicativo ele tem não só todos os serviços, mas ele consegue sentir confiança na experiência que ele tem com o banco. 

Cássio: E onde está o maior desafio disso, Gaspar? Porque a tecnologia vocês dominam, o cliente, por sua vez, não, ainda que vocês dominem, no ano que vem talvez ela esteja em alguns aspectos diferentes do que ele é hoje. Onde está o maior desafio?

Gaspar Lins: Olha, eu vou dizer que de maneira geral, o mercado de tecnologia está muito aquecido, como a gente sabe, a gente tem uma agenda de várias inovações ocorrendo ao mesmo tempo, e o que a gente mais discute dentro da nossa comunidade de tecnologia, é justamente ampliar o conhecimento dos nossos colaboradores dentro de como a gente une tecnologia e negócios, a retenção desses profissionais, que a gente vem conseguindo fazer, atrair talentos, trazer essas pessoas que estão muito engajadas com essa (criar) [00:05:15] experiências positivas para a comunidade de tecnologia, e gerar essa cultura, a cultura da entrega permanente, da entrega frequente, entrega de qualidade, de trazer essa experiência positiva. Então, esse exercício de trazer o time para uma agenda de permanente construção é o maior desafio, em um cenário que a gente está, em uma demanda de profissionais de tecnologia no mercado absurda, a gente está vivendo um boom em algumas carreiras, você vê todo mundo ligado a agilidades, (inint) [00:05:48], POs, agilistas, talvez a gente não tenha vivido isso antes no cenário de tanta necessidade de skills tão elevado desses profissionais. 

Cássio: Pois é, e quero falar um pouco de profissionais daqui a pouco com você, queria explorar um pouco mais essa questão do usuário. Existem benchmarks que vão deixando o usuário cada vez mais exigente, você vê… vou citar um aqui, fora do mercado de vocês, mas que é tido como o grande benchmark, que é a Netflix. Então, sempre que se fala em experiência do usuário e tudo, caem… Netflix não é a única, obviamente, tem outras, mas ela acabou virando até quase um jargão no mercado, uma experiência tipo Netflix. Que expectativa você cria em relação a própria empresa, a equipe, a direção da empresa, os sea levels que são seus pares, que expectativa que se cria em torno disso? Porque o cliente parece muito sensível. Até onde vai o grau de cobrança? E junto com o grau de cobrança, o grau de investimento e desenvolvimento, e por aí vai?

Gaspar Lins: A gente aqui lida… claro que Netflix é um tremendo case, mas aqui a gente lida com um assunto extremamente sensível, que é o mundo financeiro, que é a remuneração de uma população, de uma gama de clientes que nós temos, e o banco vive de credibilidade, e aqui existem dois temas que a gente tenta conciliar sempre, o tema da segurança e disponibilidade, e ao mesmo tempo oferecer produtos e serviços fluidos. Então quando a gente vai para o primeiro ponto, que é a segurança e a estabilidade, talvez, ao longo desse ano que hoje eu completo, essa tenha sido a agenda mais persistente que nós tenhamos colocado em prática no Digio, ou seja, é um banco que tem um índice de disponibilidade altíssimo, a experiência que a gente quer e está trazendo a comunidade, nossos clientes, é que ele pode contar com o Digio, porque o Digio tem um alto nível de disponibilidade, de que as operações não falham, de que ele pode confiar na transação, e primeiro sobre isso, você quer ter uma experiência de manhã de você abrir seu app, fazer suas transações financeiras, pagar uma conta, fazer um empréstimo, fazer um PIX, receber uma transação, e saber que está tudo confiável, que ali é o meu porto seguro financeiro. Então esse é o primeiro ponto, e aí vem uma série de tecnologias, que ao longo dessa ano a gente teve que aprimorar e embarcar na nossa suíte de produtos, para que a gente conseguisse chegar nesse patamar e permitir um crescimento, porque aí também soma-se a isso, Cássio, um crescimento vertiginoso de base de clientes e da experiência do cliente com o app, e claro, que a gente se preocupa, e essa é uma agenda permanente de tal sorte, que quando a gente fala de inovações, a gente não busca nada que possa comprometer essa estabilidade, de novo, pelo viés da credibilidade, que o banco tem que fortalecer cada dia mais com o cliente. E aí, claro, você fala de transações PIX, de fatura parcelada, de uma série de produtos que depois a tecnologia que a gente vai trazendo, automações, experiências de comunicação, do relacionamento com o cliente, então o cliente, no banco digital, ele espera ter uma experiência digital end-to-end. Então, a gente dá essa capacidade de ele se comunicar com o banco em uma experiência digital fluída, mas se necessário, ele também ter essa experiência omni channel, ele pode ligar para a gente, a gente também consegue atende-lo da mesma forma. Então, essa cadeia toda que eu te falei aqui, desde a segurança, seus dados estão segundos com o Digio, você pode confiar que o app está no ar, ela está em um alto nível de disponibilidade, isso tudo é uma agenda latente para a gente aqui junto com a equipe. 

Cássio: Está falando de segurança, e eu fico tentando imaginar qual é o tamanho da operação que vocês em um banco tem que ter para isso, porque eu li outro dia dados da ISH Tecnologia, que fala que são 13 mil tentativas de ataque a bancos, não só o Digio, claro, a categoria toda, por mês no Brasil. Então, a maioria está tentando, de alguma forma, resgatar dinheiro, roubar dinheiro dos clientes, óbvio, as quadrilhas estão aí para isso, e o cliente, acho que ele… vê se eu estou certo, Gaspar, o cliente só vai lembrar de cyber segurança o dia que ela falha, a gente está muito mais preocupado em ter uma experiência boa, o app ser fácil, o atendimento ser bom, e a segurança é uma coisa que assim, igual companhia aérea, eu não vou pensar em segurança aqui, estou confiando que vai dar tudo certo, nem penso nisso. E para vocês é um pouco o inverso, pelo que você falou, isso é uma prioridade gigante, justamente para evitar crise. Qual é o tamanho dessa operação de segurança, de gente dedicada, estrutura dedicada a segurança?

Gaspar Lins: Vamos lá, primeiro reafirmar o que você disse, isso é a realidade do Digio, e seguramente de outros entes financeiros, porque é assim que funciona o tema de segurança e privacidade, ela não está na sua experiência agora de manhã, quando você for pagar uma conta, você não vai parar para pensar: “Bom, mas está seguro?”, mas infelizmente, se algo ocorre, você vai questionar a entidade. Então, isso não pode falhar, você não pega um voo imaginando: “E se ele não pousar?”, essa não é uma expectativa, esse não é um questionamento que a gente quer que o cliente tenha, em nenhum tipo de negócio, e justamente por isso, isso é um assunto é um assunto levado muito a sério no Digio. Bom, essa operação nossa hoje, a gente tem uma equipe gigante dentro dos times de engenharia, dentro dos times de arquitetura, dentro do time de segurança de dados, segurança operacional, a gente tem um pool de profissionais que eu posso te dizer que só de tecnologia, cerca de 35% do staff está orientado especificamente para o tema de segurança, nas mais diferentes esferas. Então, esse é um número muito elevado de profissionais, então assim, quando a gente olha arquitetura, eu tenho pessoas de arquitetura focadas para segurança, a gente tem uma área de segurança, segurança do nosso cartão, de segurança de dados, a gente tem uma parte só de cyber, para olhar tentativas de invasão, a gente tem toda uma camada de monitoramento gigantesca, para olhar comportamentos que possam fugir do normal, diante de tentativas de quebra de senha, enfim, e esse exercício de ter os profissionais, mas ao mesmo tempo ter os engines tecnológicos em uma central de monitoração, que está 24 por sete, que é o nosso negócio, que não tem um horário de dizer assim: “Olha, esse aqui é o horário de menor potencial”, a gente não tem esse… eu diria que esse paraquedas, de dizer: “Olha, fica tranquilo, porque aqui…”, não tem essa camada de horário free. Então, mesmo quando a gente vai fazer uma mudança no ambiente, (inint) [00:13:45], para o aspecto regulatório, tudo é muito bem testado para que não haja nenhum breach, nenhum vazamento de informação e nenhuma… nada que possa comprometer os dados dos usuários ou uma falha de segurança. Então, te dizer assim, mais do que ter uma equipe de segurança, eu brinco aqui que há um tempo atrás a gente falava assim: “A equipe de inovação”, o banco não precisa de uma equipe de inovação, a inovação é uma cultura do banco, está na cultura do banco, não tem pessoas carimbadas de inovação, a inovação está no nosso DNA, em todas as áreas, e a segurança é um compromisso do engenheiro de software, é um compromisso do arquiteto, é um compromisso do cara que está fazendo QA, um compromisso de todos nós. 

Cássio: Deve ser um pouco angustiante, Gaspar, a gente até em um episódio recente falou disso aqui também no podcast, você se esforça, você inova na segurança, como você acabou de dizer, toma todos esses cuidados, mas o ponto de vulnerabilidade continua do outro lado, o ponto de vulnerabilidade continua naquela pessoa que vai, pega uma rede de Wi-Fi qualquer no aeroporto, e acessa o banco dali, ou que, por mais avisos que venham, coloquem senhas mais difíceis, coloquem senhas menos previsíveis, o sujeito vai e coloca a data de nascimento lá. O único trabalho (inint) [00:15:12] duas perguntas aqui, o único trabalho que eu vejo que você consegue fazer é educar essas pessoas, claro, você pode ou forçar as vezes a tomar certos cuidados, mas eu acho que você vai até a página cinco ali. Então, primeiro, educar funciona? E segundo, tem algo mais que dê para fazer?

Gaspar Lins: Educar é fundamental, e é um trabalho contínuo, quantas e quantas vezes, a gente tem exemplos até em casa, outro dia aconteceu comigo mesmo na família, meu irmão foi pagar uma conta e falou: “Esqueci a senha”, eu falei: “Bom, pelo menos…”, ele falou: “Não, porque tem duas senhas que eu uso para tudo”, eu falei: “Bom, isso não ajuda muito”, lógico que a gente tem todos essas práticas de mercado, de a gente pedir que seja feito… sejam senhas difíceis, que a pessoa não coloque senhas óbvias, o trabalho educacional funciona, mas ele tem que ser permanente. E por outro lado, a gente tem que ser preditivo aqui, a gente tem que pensar que pode acontecer um cenário onde o cliente de fato não… no mundo digital, de tantos pagamentos digitais, que de fato ele use de forma inapropriada, que ocorra algo inesperado, e é justamente aí que entra uma série de tecnologias, sistemas e monitoramentos nossos, que olham comportamentos erráticos, que não condizem ao padrão daquele nosso cliente, então pode ser uma tentativa de uma compra fora da região onde ele está acostumado, enfim, aí são as regras que são estabelecidas para tentar proteger o cliente do uso indevido, do seu banco. Mas é um trabalho, sendo muito franco, que a gente sabe que todo dia a gente tem que correr mais atrás, porque existe uma agenda que não afeta só o Digio, não afeta só os bancos, afeta uma quantidade gigantesca de entes privados, que já foram vítimas de vazamento de dados, e lógico, aqui, qual é a grande preocupação, Cássio? Abrindo aqui com você, é que cada nova mudança que há no ambiente para o Digio ou para qualquer outro ente, você pode estar abrindo ali uma porta de alto que não deveria falhar. Então, daí a preocupação da gente ser muito criterioso com o que a gente colocou aqui em produção, ou que vai para o cliente, porque não é sobre… olha, a tela ficou mais legal, é sobre a tela ficou legal e o que eu fiz de novo aqui não está comprometendo em nada a segurança. Então, por um lado tem a câmara do cliente, da orientação, da instrução, da comunicação persistente com ele, e pelo outro, é fazer o nosso trabalho, se proteger o máximo possível. 

Cássio: Perfeito. E já que está falando de pessoas, você tinha citado aí o assunto pessoas, mas vamos para o outro lado do balcão com as pessoas do lado do banco, você fez uma descrição que eu achei muito interessante, muito precisa do que é a tecnologia hoje, você nunca precisou de tantas habilidades em um nível alto, um nível de execução em situações reais e complexas, muitas vezes. Então, é como você falou, tem desde data science até cyber segurança, passando por agile e por aí vai. Na sua experiência, como está atrair essas pessoas? Porque só para dar uma base para a minha pergunta, a gente ouve os dados, lê os dados de que você tem 200 mil vagas de TI abertas, só 45 mil profissionais se formando todo mês, e ainda tem concorrência de empresa de fora, não é o Digio brigando com outros bancos, outros players de tecnologia, está brigando com as empresas internacionais que vem e oferecem salário em dólar, e com o câmbio do jeito que está, a oferta fica muito tentadora. Como é que você está sentindo esse momento?

Gaspar Lins: Esse é um aspecto tão difícil e tão doído, porque a tecnologia se transformou, ela hoje faz parte do nosso dia a dia, no podcast que a gente está fazendo aqui, na sua experiência daqui a pouco de olhar no celular e ver sua agenda, uma série de compromissos financeiros que você vai usar o Digio como seu meio de pagamento e que está embarcado no seu dia a dia. E toda essa demanda fez com que uma quantidade de profissionais que a gente formava no mercado hoje já não é suficiente para essa demanda como um todo. Aí tem um ponto muito curioso, esses números, 200 mil contra 45 mil, é até difícil, porque veja, existe hoje uma quantidade de profissionais que não fizeram necessariamente uma faculdade ou uma universidade de tecnologia, mas que se tornaram especialistas através de cursos de extensão ou de cursos de especialização e migraram para a tecnologia, então é até difícil a gente saber quantos são os formados, como a gente deveria contar os formados em tecnologia. E essa geração que está chegando, que está fazendo educação de tecnologia de forma mais… eu diria menos ortodoxa, ela faz um treinamento aqui, aprende ali, vai para fora do Brasil, aprende uma nova tecnologia, então é muito difícil a gente buscar exatamente esse número, o que a gente percebe no mercado, conversando com colegas, é que a demanda por alguns tipos de profissionais se tornou uma busca quase insana, e aqui tem outro ponto, não basta você atrair o profissional e você tentar rete-lo, é que você tem que ter um bom profissional, o cara que esteja embarcado na sua cultura, que tenha espírito colaborativo. Então, quando você vê, ele é um cenário multifatorial, você precisa ter o profissional capacitado, se ele não estiver capacitado, você precisa formar ele, e aqui tem um programa muito interessante nosso, que a preocupação de formar uma base, de ter uma base que vai crescendo e vai tendo essa cultura do Digio, essa cultura da preocupação com o cliente, e que vai entendendo do negócio, do mercado, de como a gente faz, porque muitas vezes, tirar ou atrair um profissional para o banco não é um tema simples, como você bem disse, tem ofertas de fora, de outros países, e claro, como a gente mantém essa turma engajada? Primeiro que a cultura do Digio é uma cultura muito leve, é uma cultura muito gostosa, de aproximação, a gente não tem barreiras de comunicação em nenhum ente, então isso torna a comunicação mais fluída, aqui o índice de participação em todos os tópicos é elevadíssima, então onde tem muitas integrações, o que ajuda, mas isso para quem está dentro, a gente consegue reter essas pessoas, e atrair é um trabalho que a gente vem fazendo com muita parceria, junto ao pessoal de gestão, de trazer bons profissionais para cá, e segurar o máximo que a gente puder, com treinamento, com participações efetivas dentro do negócio, para que aí a pessoa se sinta… em tecnologia a gente fala, antigamente existia profissional que ficava só ali no seu canto, desenvolvendo, hoje não, isso tudo está muito mais interativo, e lógico, a gente vê uma camada extra, com a pandemia e o advento do trabalho remoto, a gente tem sim uma preocupação de fazer com que as pessoas estejam vivenciando o dia a dia do banco mesmo trabalhando muitas vezes remoto, eu tenho pessoas que estão fora de São Paulo, estão em outros estados e estão trabalhando de forma engajada também. 

Cássio: E a relação de trabalho muda, não é Gaspar? A relação até de liderança muda, porque era uma situação, acho que você e eu vivenciamos isso em algum momento das nossas carreiras, em que o emprego tinha um poder de negociação muito baixo por parte do funcionário, você meio que dava graças a Deus por ter o emprego, e hoje quase que ao contrário, quase que tem um equilíbrio, ou as vezes a empresa dá graças a Deus por ter um time estável ali, e se esforça para ela não ir embora. E TI sempre foi uma área com um comportamento muito peculiar, e aqui eu não estou julgando, não estou atribuindo nenhum valor a isso, estou dizendo que assim, sempre foi uma coisa… você vê o pessoal de TI, é muito diferente de marketing, de RH, de qualquer outra área, um pessoal que trabalha ali pilhado, com muita carga de trabalho, muito concentrado, mas também você vê ali uma área que por vezes tem o seu jeito de ser, de brincar, de tudo, e eu fico imaginando o quanto mudou o papel do líder para comandar essa tropa. Você percebe essa mudança como? Essa adaptação como? Que habilidades você em TI teve que ganhar para conseguir fazer o time ali parar em pé?

Gaspar Lins: Com os meus diretos, até a gente fala muito sobre isso, eu falo para eles que a grande sacada aqui é uma mudança dos dois Cs pelos dois As, você sair de comando e controle para autonomia e alinhamento, porque essa de fazer o micro gerenciamento não cabe mais, então você tem os bons profissionais, que eles sabem o que tem que ser feito, tem os prazos para que as coisas sejam entregues, feitas com qualidade, e aí existe o compromisso, e o modelo de trabalho hoje, quando a gente fala no modelo de agilidade, que você tem times que tem diferentes áreas compondo, focados em uma mesma entrega, eles notam a relação que existe entre eles de confiança, de dizer: “Olha, eu preciso que seu trabalho seja bem feito engenharia, para que o meu trabalho em qualidade seja bem feito, para que o meu trabalho em arquitetura também seja bem feito”. Então, essa proximidade, mesmo que ela não seja física, mas das ferramentas que hoje a gente tem de colaboração, possam contribuir para esse trabalho ser bem feito, e aí tem um outro ponto super importante, que é a celebração, porque a gente trabalha em um ambiente de tanta carga de trabalho, tanta demanda, que na medida que a gente vai fazendo essas entregas, esse espírito de dizer: “Vamos um pouco mais, vamos mais, porque a gente está no meio desse pool de… desse mar e avalanches de novidades”, e a gente tem que ter um tempo para celebrar. Então, veja, quando a gente fala de… quando eu falei para você sobre atrair e reter esses talentos, me passa por tantas coisas, e ela não passa por esse comando e controle como a existia antigamente, você citou, de falar: “Me dá seu time sheet aqui, vamos ver”, aqui a gente fala, são os combinados, são os prazos combinados, a qualidade combinada, e a comunicação muito fluída, saber pedir ajuda, a hora que a gente vai falar: “Não vai dar, vamos renegociar um prazo, vamos renegociar uma atividade, vamos compor uma outra equipe para poder ajudar”. Então, esse time é um time que também, nosso, tem essa capacidade de levantar a mão e falar: “Olha, preciso de ajuda, preciso mudar algum formato do que eu estou fazendo para ser bem-sucedido”, e a liderança aqui é uma liderança de confiar e dar condições para que a equipe faça seu trabalho bem-feito. O meu papel primário, e eu digo a minha equipe, é contribuir para que eles sejam bem-sucedidos, a gente dá o direcionamento estratégico e fornece todas as condições para que o trabalho seja bem-feito, seja em investimento em tecnologias, em capacitação, em reuniões junto ao negócio, para colher e escutar mais sobre o negócio. E isso, de novo, é mais um dos exercícios contínuos que a gente estabelece aqui no banco. 

Cássio: Para a gente fechar, Gaspar, eu conversei outro dia com um colega seu, um gestor de tecnologia, mas é uma empresa de serviços, não é na área financeira. E ele estava explicando que a grande dificuldade de reter e contratar profissionais está ali no meio da pirâmide. Então, digamos assim, profissionais como você, no sea level, esses… ali tem uma demanda mais ou menos justa para o mercado, na base da pirâmide tem um pouco mais de abundância, tanto que muitas empresas fazem como você contou, um programa de atrair jovens talentos para formar em casa e reter mais em casa, mas aquele do meio ali, que não é nem o profissional sênior e nem o júnior, que é o pleno, ali está uma briga muito complicada, ali você acaba inflacionando um pouco esse pessoal, justamente por tudo que a gente já comentou aqui. Você tem essa mesma experiência? Você está vendo isso mais ou menos desse jeito ou no mercado financeiro muda um pouco o cenário?

Gaspar Lins: Não, na verdade é bem isso, e faz até muito sentido, porque veja, você tem uma base que você precisa formar, então quando você tem ali o pessoal júnior que você precisa formar, e você vai dando a ele as condições, e chega em um momento que ele vai ficando pronto, ele já consegue… o nível de autonomia dele é maior, ele consegue fazer o trabalho já com muito mais desenvoltura, com muito mais qualidade, e ele chega naquele ponto que é o ramp up dele de crescimento profissional, e é nesse momento que é o momento do risco, é aí que a gente precisa blindar, e fala: “Olha, ele já passou pelo momento de aculturamento, já entende do negócio, entende os aspectos regulatórios, domina a tecnologia que ele está trabalhando, então se ele é um desenvolvedor Android, ele é um cara já pleno ali, já entende as conectividades, já entende como integrar, e esse é o ponto de risco. Quando ele já está muito acima, ele é sênior, ele já está estabelecido, como você bem disso, ele já é eventualmente caro de levar, ele já tem uma visão mais clara da carreira dele, ele já faz outras escolhas, então claro, esse turbilhão que a gente está vivendo é justamente, como você vem traduziu, é nesse meio, e o que a ente pode fazer para tentar diminuir esse jogo de falar: “Bom, estou perdendo profissionais, (vem) [00:29:43] profissionais”. Eu acho que aqui, primeiro, acho que a gente tem que pensar que a carreira de tecnologia vai mudar ainda mais, os portifólios de carreira vão ampliar ainda mais, vão existir profissões que eventualmente a gente nem está falando aqui hoje, que são fazer parte do nosso dia a dia, outras tecnologias que virão, que vão ocupar espaço, e a gente tem que ter um programa de treinamento contínuo e manter essa turma motivada, em um ambiente muito colaborativo, onde as pessoas se sintam parte da solução, se sintam reconhecidas como profissionais, e isso a gente vem fazendo eu diria que muito bem feito aqui pelo time de gestão, pelo Digio como um todo, para que a gente não tenha essa perda nessa camada. Agora, claro, Cássio, aqui é um tema do mercado brasileiro e até de outros países também, é uma batalha que muitas vezes é cruel de lutar, contra um dólar do jeito que está e uma demanda global por profissionais de desenvolvimento iOS, desenvolvimento Android, que a gente experimenta que não é fácil. 

Cássio: Perfeito, Gaspar, quero te agradecer muito por esse papo, informações tão úteis e tão ricas para o mercado, porque é isso, está todo mundo sofrendo do mesmo jeito, e voltando ao que você falou no início, no fundo a batalha é agradar ao cliente, porque nada substitui o cliente, nada substitui faturamento em uma empresa. Então, com todas essas dificuldades, tem ainda que fazer da outra ponta ele ter uma sensação boa, com tanta concorrência que vocês enfrentam no mercado. Obrigado pelo papo, viu Gaspar. 

Gaspar Lins: Eu que agradeço, Cássio, um prazer enorme poder estar aqui com você e com toda a turma do mercado de tecnologia, contribuindo, e vamos acreditar que os dias de tecnologia serão cada vez mais vencedores, e convidar todo mundo a vir para o Digio também. 

Cássio: Muito bem, vamos chegando ao final do Think Tech de hoje, e Sara, essa parte de cyber segurança é uma parte que sempre assusta, porque você vê, os bancos se esforçam muito para dar segurança, e conseguem em grande medida, nos dar segurança, mas os ataques continuam acontecendo por aí, porque as quadrilhas tentam muito insistentemente, não é Sara?

Sara: É verdade, Cássio, segundo o relatório da VM (inint) [00:32:23], os ataques ao setor financeiro saltam mais de 200% a cada ano, a maioria dos crimes não possui como alvo principal os bancos, o cliente é quase sempre o foco das quadrilhas. 

Cássio: É isso aí, vamos nos proteger, fazendo tudo aquilo que cabe fazer, como colocar senhas mais difíceis, como tomar cuidado com rede de Wi-Fi, e todos aqueles outros cuidados que competem a quem quer proteger a própria conta no banco. É isso aí então, o Think Tech de hoje fica por aqui, até a próxima.