Cássio Politi: O Think Tech está no ar. Meu nome é Cássio Politi e, junto com a Algar Tech, nós vamos embarcar nessa jornada de repensar possibilidades. No episódio de hoje, a gente faz uma imersão na tecnologia aplicada ao universo das TVs. Comigo, como sempre, está a Sara, a nossa especialista virtual em negócios da Algar Tech. Tudo bem aí, no seu mundo virtual, Sara?

Sara: Tudo bem sim, Cássio, e com você?

Cássio Politi: Tudo bem também. Sara, a gente vai falar de TV aberta. Dizem que TV aberta está com os dias contados, será, hein?

Sara: Olha, eu acho que não. A TV aberta ainda tem um longo caminho pela frente. No ano passado, alguns dados foram apresentados num evento no Brasil, e olha esse número: 206 milhões de brasileiros assistiram à TV aberta pelo menos uma vez em 2021.

Cássio Politi: Pois é. Eu vi esse dado e ele foi apresentado pela Melissa Vogel, CEO da Kantar, no PAYTV Forum. 

Sara: Exatamente. Em média, as pessoas assistem à televisão por cinco horas e 37 minutos por dia. Nesse caso, a contagem inclui tanto TV aberta como TV paga. 

Cássio Politi: A gente pensa que não, mas a grande maioria das pessoas ainda assiste na TV aberta a algum evento importante, como transmissão ao vivo de um evento, tipo jogo de futebol, ou reality show, noticiário e por aí vai. Claro, a TV hoje tem menos audiência do que já teve um dia, mas continua relevante.

Sara: É isso aí.

Cássio Politi: Para o bate-papo de hoje, eu tenho a satisfação de receber o Carlos Cauvilla, que é Diretor de Tecnologia e Operações – claro, operações mais ligadas à TI – do SBT. Eu me recuso a apresentar o SBT, a explicar quem o SBT é, porque você conhece, você sabe quem o SBT é há muito tempo. Carlos, grande prazer ter você aqui. Obrigado por aceitar o convite para o papo de hoje.

Carlos Cauvilla: Cássio, obrigado você pelo convite. Eu acho que é uma oportunidade muito boa para a gente compartilhar um pouco mais do que a gente faz aqui no SBT. Você falou até de TI. Na verdade, a minha tecnologia tem mais um quê de produção de conteúdo, a gente foca mais nisso, é algo que está ligado mais à demanda do conteúdo. Óbvio, hoje o tema de tecnologia é basicamente totalmente convergente. Hoje, praticamente você não tem como separar as tecnologias. Hoje, a TI em si, a tecnologia da informação, o dado está em todo lugar. A gente utiliza, cruza com isso, faz um uso massivo, mas o nosso foco principal é a tecnologia para a produção do conteúdo, para as operações desse tipo de tecnologia. 

Cássio Politi: Que legal. Eu vou correr o risco de falar uma besteira aqui – se eu estiver falando, você me corrige -, mas essa tecnologia está presente na TV desde sempre, o que muda é a tecnologia do momento em si, porque a definição de tecnologia vai te levar a isso. Você não teria feito a TV sem tecnologia lá atrás. Claro que uma tecnologia muito diferente da que a gente tem hoje aqui, muito mais incipiente. Eu queria traçar com você essa linha do tempo. Como você vê a evolução da tecnologia que veio lá de trás, na TV que nós dois conhecemos na infância, que veio vindo e chegou ao que é hoje? Como foi essa evolução?

Carlos Cauvilla: Uma das grandes invenções do século XX é a TV. Hoje, ela só perde para um eletrodoméstico que tem na casa das pessoas, que é o fogão. As pessoas ainda acham mais importante comer do que assistir à televisão. Claro, depois a gente vai abrindo o papo aqui e vai vendo como essas coisas, hoje, estão sendo consumidas, como o produto/conteúdo de mídia está sendo consumido em múltiplos dispositivos. Mas a importância é sempre grande. A TV é uma invenção do século XX e veio para o Brasil em 1950, com a TV Tupi, que sempre teve relevância. Depois, veio a TV colorida, que fez agora 50 anos, veio em 1972. Ou seja, a TV veio numa jornada sempre muito evolutiva e muito importante para as pessoas. Eu acho que em todas as épocas, em todos os momentos, a TV sempre foi muito importante. Não só pela tecnologia da TV, mas principalmente pelo produto que ela sempre carregou. Eu acho que a grande importância sempre foi – e hoje ainda é muito – uma referência daquilo que ela transporta. A TV sempre foi um dispositivo, ela é um bem das famílias brasileiras que sempre serviu muito como referência, as pessoas sempre buscaram na TV uma fonte segura de informação. Por isso, a TV aberta do Brasil é uma referência mundial. A partir desse contexto, desse conceito de que você tem, dentro da casa das pessoas, uma maneira de conversar com a família brasileira, a TV foi criando e suportando essa tecnologia para garantir essa qualidade. Hoje a gente tem um momento em que a gente até tem desafios, porque a TV aberta brasileira, principalmente, que está no país todo, foi construída com um nível de qualidade que hoje é até desafiadora para outras formas de entrega. A gente às vezes até não percebe, mas para a TV aberta, especificamente, você não admite ligar a TV e esperar dez segundos para aparecer a imagem; se eu liguei, tem que aparecer a imagem. Quando você compara isso com outros dispositivos que fazem uma entrega online, pela característica da tecnologia… enfim, claro que todo mundo quer sempre a melhor qualidade, a maior disponibilidade, mas a gente já tolera um pouco mais. Mas essa origem, essa régua da qualidade da entrega do conteúdo foi permitida pela tecnologia. A TV brasileira sempre foi uma referência de tecnologia para o mundo. 

Cássio Politi: Basta ver as estruturas, Carlos. Você está falando da sede da SBT na Anhanguera. Recentemente, eu visitei um desses grandes estúdios americanos e o impacto que causa quando você vê um SBT ou um estúdio desses nos Estados Unidos é esse: a estrutura física importa, claro, mas ela é o que menos te impressiona. Você fala: “poxa, já fui a fábricas que têm estrutura grande também”. O que impressiona é como esses caras conseguem fazer esse cenário – quando você está lá, vê que é uma coisa até simplória, você fala: “puxa, tudo meio de mentira” – parecer a pura realidade. Eu acho que é nesse sentido: a tecnologia está na nossa frente e a gente mal para pra pensar nisso. 

Carlos Cauvilla: É verdade. Nessa semana, a gente está trabalhando numa nova frente, que é uma cidade cenográfica nova, e a gente estava até refletindo um pouco sobre isso, porque a cidade cenográfica, quando ela é construída, é uma obra de ficção, e ela é construída depois que o autor cria a história, porque ela vai atender àquilo. Você vai criando inúmeros sets e depois aquilo passa pelo processo das gravações, da continuidade, que faz você viajar, você cria um mundo ali. Eu imagino que as pessoas tenham uma certa dificuldade, e seria até legal a gente trabalhar isso, do quanto de esforço e de pessoas envolvidas é preciso para que a gente entregue esse conteúdo com essa qualidade. O bacana é que as pessoas reconhecem essa qualidade, como eu comentei antes, principalmente depois que virou digital. No analógico, a gente tinha algumas dificuldades para padronizar e manter uma qualidade. Sempre foi muito boa, mas os parâmetros de referência vão mudando. Agora, no digital, a gente consegue ter uma entrega com muita qualidade. E é isso mesmo. A capacidade de a tecnologia entregar é uma coisa de certa forma até mágica, a gente consegue fazer conteúdos. O ponto importante que eu percebo desse negócio, do negócio da produção para a mídia em geral, que é muito interessante para quem vive, é a questão de você ter uma resposta muito imediata e clara do público, diferente de outros tipos de fábricas, em que você, por exemplo, pode fazer milhares ou milhões de conteúdos e só lá na frente você vai ver se as pessoas gostaram ou não, pode demorar um pouco essa resposta. Para a gente, o trabalho em si, que é um trabalho de equipe, é muito imediato, é uma dependência clara que você percebe, e tem a resposta do público. Tem conteúdos, como você bem sabe e o pessoal que nos ouve também, que são imediatos. A gente até brinca: “quem sabe faz ao vivo”, é uma fábrica ao vivo. Para que isso funcione, a gente tem que ter muita tecnologia, muito cuidado e muitos processos, para poder garantir que isso seja entregue e dê essa qualidade de experiência bacana para quem está consumindo o conteúdo.

Cássio Politi: Carlos, a mídia mudou muito nos últimos anos, para nós – estou olhando do ponto de vista do espectador, do cara que assistia ao Bozo lá atrás e é fã do Chaves até hoje. E a gente (inint) [00:11:29] mudança. A minha geração, de 40 e poucos anos, e talvez os do 30 e poucos anos também já tenha percebido isso, que era mão única, a mensagem vinha de lá para cá, você assistia. E, claro, não preciso explicar muito, que isso foi mudando, hoje é uma via de mão dupla, completamente em diálogo, muito interativa, e cada vez mais migrando para o celular, mas a TV continua na parede de casa, e eles começam a se confundir. Essa é a visão de um espectador comum. Queria saber como você, que é um executivo de uma emissora, ligado totalmente à tecnologia, enxerga essa mudança? Impacta em quê e impacta como para você?

Carlos Cauvilla: Em termos de impacto, para nós, o impacto é em termos de complexidade, vai ficando mais complexo. Por outro lado, os processos de maneira geral, o que a gente precisa evoluir tecnologicamente, os conhecimentos, têm que estar no nosso DNA. A gente precisa ter uma entrega, uma qualidade de experiência rica para o nosso público, então a gente vai estar sempre buscando evolução. Tem esse aspecto da complexidade, mas por outro lado também, eu acho que a gente vai criando e evoluindo a tecnologia conforme os hábitos das pessoas, a gente não pode ignorar isso. É o fenômeno da mobilidade da vida moderna, as pessoas hoje se movem muito mais. Outras tecnologias apareceram e suportam o consumo de mídia. Para a gente, essas novas formas de consumo de conteúdo são uma grande oportunidade. Por mais que seja desafiador, porque a gente acaba concorrendo com outros meios – não só a TV entrega mídia hoje, esse é um ponto importante…

Cássio Politi: O seu vizinho entrega mídia, não é?

Carlos Cauvilla: Pois é.

Cássio Politi: O cachorro do vizinho também, às vezes.

Carlos Cauvilla: Ele é um talent. Mas o que eu comento com colegas é que eu acho isso bom, essa concorrência. Primeiro, porque nós já viemos de criação de conteúdo e entrega, a gente nasceu assim. O que a gente começou a produzir há décadas, hoje é muito bom saber que as pessoas consomem mais, eles não estão deixando de consumir. Para nós, seria uma preocupação se a gente tivesse problema com as pessoas deixando de consumir, aí a gente teria que pensar: “puxa, vou parar de fabricar isso e vou fabricar outra coisa, porque agora as pessoas não consomem mais isso, vamos ter que mudar a fábrica”. Mas não é isso que acontece. Cada vez mais as pessoas estão crescendo o consumo de mídia. A gente tem uma marca muito relevante. Uma oportunidade que a gente está sempre explorando e ela será crescente é trazer essas pessoas, esses criadores. Hoje a gente tem mais oportunidade de trazer essas pessoas para a nossa janela, a gente consegue dar uma visibilidade maior para os criadores de conteúdo. Eu vejo essa capilaridade de formas de consumo como uma grande oportunidade para nós. Eu acho que está muito alinhado com o que a gente quer, que é produzir e entregar conteúdo cada vez mais diverso. E a gente está num negócio em que a gente tem que entregar o conteúdo, é até um conselho que o pessoal fala:  anywhere, any device. 

Cássio Politi: Se não pensar assim, você se coloca numa posição de muito risco, porque essa é a realidade. Quando você bate de frente com a realidade, normalmente a realidade vence. 

Carlos Cauvilla: É verdade. É a força do mercado, do hábito das pessoas. A gente só existe aqui porque a gente tem público, basicamente por isso, e não o contrário. Nós temos que estar sempre olhando para que o público quer ter de experiência, quer ter de conteúdo, e atendê-los, esse é o nosso objetivo. 

Cássio Politi: Você está falando bastante do público, o que eu acho muito pertinente para uma empresa de mídia. Qual é o desafio no fim do dia, para o conjunto tecnologia, conteúdo? Passa por fidelizar cliente, fidelizar audiência? Qual é o grande objetivo quando você conversa com pares e com a gestão do SBT como um todo?

Carlos Cauvilla: Essa é uma pergunta que pode ser bem ampla, mas eu vou trazer mais para o contexto de tecnologia, que eu acho que é a área de maior afinidade minha aqui. Eu acho que o grande desafio hoje é a gente conseguir ter processos criativos que sejam ágeis o suficiente para que a gente consiga criar conteúdos de uma forma diversa, ou seja, que você tenha capacidade de produção com boa produtividade, com o custo e com a qualidade que esse público quer. Hoje, o que eu vejo como grande desafio nosso, e acho que da maior parte das empresas, é sempre trabalhar junto com o negócio, viabilizando que os produtos sejam os mais customizáveis possíveis. Vou te dar um exemplo. Vamos pegar a referência de uma partida de futebol. Falando de maneira geral, já existem novas experiências, mas até hoje, como a gente faz futebol? A gente vai lá, coloca um conjunto de câmeras e uma pessoa nossa lá, chamado DTV, que é o diretor de TV. Essa pessoa tem a responsabilidade de ficar escolhendo qual o melhor ângulo daquele momento, daquela partida. Claro que tem processos para isso, ele é treinado e tudo mais, mas é uma pessoa que vai lá. A tecnologia é feita para que ele tenha uma disponibilidade de câmeras. Ele vai selecionando, a princípio, a melhor para cada momento. O que a gente tem que fazer agora é o contrário, a gente tem que entregar todas essas câmeras para o público e ele escolher a que ele quer assistir. Antes eu colocava lá 20, 30 câmeras e alguém fazia isso; agora a gente precisa entregar essas 30 câmeras para essas pessoas e ele escolhe. Ele pode falar o seguinte: “eu gosto desse goleiro e, pelo menos por cinco minutos, eu quero ficar olhando como o goleiro está na partida, como ele se posiciona”. Enfim, a gente precisa dar a opção de escolha para o consumidor, esse é um desafio nosso. Isso tudo tem custos associados, tecnologias associadas, dados associados. O dado, hoje, é hiper importante para nós, como para outras indústrias também. Eu acho que esse é o ponto: a gente tem que, cada vez mais, dar oportunidade de escolha para o nosso consumidor, falando de um aspecto geral. E isso vai envolver, cada vez mais, saber quem é o consumidor, ter formas viáveis de entregar isso para ele e fazer com que a qualidade dessa experiência seja positiva. Não adianta eu entregar 20 câmeras de qualquer maneira, eu preciso criar interfaces, eu preciso criar formas para que a experiência dele seja rica, para que ele goste disso, para que isso crie a fidelização. 

Cássio Politi: Eu vou dar um exemplo disso. Como não passa por concorrência de vocês, eu fico à vontade para contar. Eu sou alucinado por Fórmula 1, há muito tempo. Tem um aplicativo oficial da Fórmula 1 que é exatamente isso que você está contando. Infelizmente, há alguns anos não tem brasileiro na Fórmula 1, mas na época do Felipe Massa, ou do Rubinho, eu queria ver a corrida do carro dele por um tempo, por curiosidade, ou para torcer (“será que ele está se aproximando?”), mas não conseguíamos. Hoje, no aplicativo oficial da Fórmula 1, você paga uma taxa anual, ou mensal, e você tem exatamente o que você está contando. Se você quer ver a corrida do carro do Hamilton, ou do Verstappen, eu dou um clique e vejo. Se quero ver os boxes, você vai lá.

Sara: Cássio.

Cássio Politi: Oi, Sara, diga.

Sara: Só para contextualizar. O app da Fórmula 1 é o F1 TV. Ele pertence à Federação Internacional de Automobilismo, também conhecida como FIA. Ele está disponível no Brasil desde 2021.

Cássio Politi: É esse mesmo, Sara. Obrigado. Então, é uma expectativa que cai naquilo que você falou sobre a transmissão do Papa: você traz para quem está em casa uma experiência igual ou até melhor do que a de quem está in loco. A briga de tecnologia, no fundo, é essa. 

Carlos Cauvilla: É essa, é por aí. Como eu falei, algumas experiências já existem e o caminho para avançar é nessa linha, é dar essa oportunidade para as pessoas escolherem. O desafio é ter uma tecnologia que viabilize e, no caso da TV aberta, que a gente também consiga atender os nossos anunciantes e patrocinadores, que bancam o nosso negócio. A gente também tem que olhar esse outro aspecto do negócio. O nosso público é o principal, mas o negócio tem que parar em pé. Como que outros modelos de publicidade podem manter o negócio rodando?

Cássio Politi: Isso também está se desenvolvendo, está ficando cada vez melhor para o anunciante. É muita ingenuidade falar: “o anunciante é o lado ruim”. O anunciante é quem paga a conta, sem ele nada disso existiria, nenhum emprego desse existiria.

Carlos Cauvilla: Para nós, eles são super importantes. Assim como o nosso público, eles são a razão do nosso negócio. Pegando um gancho no que você falou sobre o aplicativo da Fórmula 1, o momento interessante que a gente está vivendo é exatamente esse da multiplicidade dos apps. Esse também é um ponto desafiador. Você tem centenas de empresas com seus aplicativos. Eu acho que cada vez mais o desafio vai ser conseguir ser relevante nesse cenário. Como você vai ser relevante com tantas oportunidades, com tantas possibilidades para as pessoas escolherem? Hoje em dia, nesse momento, eu acho que um dos grandes desafios é esse, é como você vai criar algum modelo em que isso seja organizado, para que as pessoas consigam, primeiro, saber o que tem de opção e conseguir fazer as melhores escolhas, porque ela vai ter a melhor experiência para ela. E aí você entra num aspecto até interessante. A gente tem algumas ondas. A gente está num momento tecnicamente D2C, que é você ir direto para o consumidor, do produtor para o consumidor, mas isso criou esse cenário que é um cenário bastante complexo. Agora a gente está vendo o começo de outros movimentos, que estão sendo criados como se fossem agregadores de apps para poder estruturar isso, com uma interface, uma curadoria, para que as pessoas cheguem àquilo que elas efetivamente desejam consumir. Isso é uma coisa que a gente já fez há algum tempo. Por exemplo, a TV a cabo começou com esse objetivo, de pegar diferentes programadores, produtores de conteúdo, criar pacotes e te entregar. Tem uma (inint) [00:25:41] dessa nossa área de tecnologia nos Estados Unidos, que é a NAB, a Associação Nacional dos Broadcasters Americanos, que promove um evento mundial lá. No ano passado, uma das questões que foram mostradas lá como crescimento no mercado americano, que é um mercado bastante agressivo em relação à evolução, ao uso de tecnologia, uma das questões que foi destacada é que estava crescendo muito o consumo da TV aberta no mercado americano, um crescimento expressivo, com a notícia de que as pessoas estavam redescobrindo o uso da TV aberta, porque quando eles começaram a olhar: “como eu vou consumir mídia agora?”, eles pensaram: “eu vou criar o pacote de conteúdos que eu gosto de consumir e a TV aberta pode ser parte do meu pacote, eu não preciso só da TV aberta, mas eu vou criar um pacote que não dá para ignorar a TV aberta. Ela, com certeza, tem relevância, tem credibilidade, tem qualidade, tem conteúdo que pode fazer parte do meu pacote. E o melhor de tudo: não custa nada”. A gente está vendo que o mundo está inflacionado e as pessoas pensam: “por que eu não usava isso antes? Essa TV não me custa nada, tem qualidade, tem conteúdo e eu não pago nada”. Às vezes a gente ouve que a TV aberta parece que ficou velha, que está perdendo relevância, mas a gente, aqui, não percebe isso, e não só aqui, a exemplo do que aconteceu nessa feira no ano passado – essa feira acontece em abril e esse ano tem de novo, tem por muitos anos já. Veja que mesmo em mercados que estão mais avançados no consumo de tecnologia, ou que economicamente são mais fortes, a TV aberta continua presente, e nem era tão relevante quanto era na história da TV aberta aqui no Brasil. Acho que a TV aberta continuará relevante, tendo essa qualidade, sendo essa referência que é, por muito tempo. Ela vai fazer parte de um pacote, mudam as características, mas continuará sendo relevante. Quanto às questões relacionadas à qualidade da entrega, hoje a gente tem a TV HD, que é uma TV de boa qualidade, mas a gente pode falar um pouco mais da evolução, o que a gente para o futuro são coisas bem interessantes.

Cássio Politi: Isso o que você está trazendo, Carlos Cauvilla, se você pegar estudos mais aprofundados, como Hype Cycle da Gartner, que estuda as tecnologias, você vê que, como padrão, eles preveem a continuidade. Você tem uma tecnologia com um pico que depois cai. Claro que algumas tecnologias podem acabar, mas a tendência é que elas encontrem um lugar em que elas ficam para sempre. 

Carlos Cauvilla: É o platô de produtividade ali, estabiliza.

Cássio Politi: Exatamente isso. A sempre tem que ouvir com muito cuidado essas projeções de que tal coisa vai acabar. Lembra que quando o videocassete surgiu decretaram a morte do cinema? Eu fui ontem ao cinema. 

Carlos Cauvilla: Que o diga o rádio. Tem que olhar muito para o hábito. Agora mesmo a gente está vivendo um momento em que as telas grandes estão sendo muito consideradas, principalmente as TVs conectadas. Na evolução da TV, a gente sempre busca querer te transportar para onde a gente está produzindo aquele determinado conteúdo, que a gente chama de imersão. É mais ou menos como se você pegasse a pessoa da casa dela e a colocasse no evento. Tudo o que a gente tenta fazer, se você pensar, vai nessa linha. A melhoria de qualidade visual, ou de áudio, sempre te leva à melhor resolução, ou seja, é chegar a um nível de acuidade dos seus olhos. Se você estiver no seu quarto e olhar para o seu lado, para alguém da sua família que esteja ali, e olhar para a televisão, você vai ver o mesmo nível de resolução, de realismo, você não tem diferença. Por mais que você não perceba que tem muita tecnologia para chegar a esse nível, ele te dá uma sensação de experiência muito interessante. Hoje, a gente evoluiu da TV analógica para a digital HD, agora no 4K. Daqui a pouco vamos para o 8k, e já tem estudos para o 16K, que aí vai chegar basicamente na acuidade em que você não vai ter diferença nenhuma entre olhar para algo que esteja do seu lado e para a tela. Para isso, também tem as questões de áudio imersivo. Agora a gente tem o padrão de TV brasileira, o TV 3.0; já estão fazendo testes em São Paulo. Nesse ano ainda, tem uma feira importante aqui em São Paulo que já deve ter as primeiras demonstrações desse conteúdo. Já há demonstrações, mas não massivamente para o público da área, e já vai estar disponível. 

Cássio Politi: O que é a TV 3.0?

Carlos Cauvilla: A TV 3.0 é a nova geração da televisão, em que a gente vai ter melhoria da qualidade de imagem e som imersivo. No fundo, vão ser duas coisas importantes. Quando você estiver consumindo o conteúdo, você vai perceber essa qualidade tanto do áudio quanto do vídeo. Para nós, especificamente, ela vai dar uma nova oportunidade, uma evolução para a TV: ela vai ser uma TV conectada. Quando a gente está vendo TV hoje, a gente fala de mudar de canal, não é? “Vou mudar do canal A para o canal B, para o canal C”. Se a gente puder tentar aproximar a TV do que ela será, vai ser algo como se fosse um tablet, você vai ter apps, você não vai falar mais “mudar de canal”, você vai falar “agora estou no aplicativo A, mas deixa eu ver o aplicativo B, ou o aplicativo C”. Vão ter conteúdos que vão chegar pelo ar mesmo, por uma antena, e terão conteúdos de TV conectada. A diferença é que hoje, na maioria das vezes, você tem que mudar a fonte para você entrar no aplicativo ou até no menu que você tem no controle remoto. Se você estiver assistindo à TV, você tem que apertar. Em alguns casos, dependendo do aplicativo, já até tem uma tecla ali. Você aperta a tecla e você tem a sessão de que está iniciando um outro serviço para você consumir aquele conteúdo. O que vai acontecer na TV 3.0 em termos de usabilidade é isso: você não vai ter essa diferença mais, as aplicações vão ser transparentes para você utilizar, mais a qualidade. E ela traz algo que realmente é relevante para nós: a partir do momento em que ela está conectada, a gente consegue coletar informações de quem está consumindo aqueles produtos e, a partir daí, fazer uma publicidade totalmente customizada. A experiência tem que ser cada vez mais customizada. Isso vale não só para o conteúdo, mas para a publicidade, para a entrega de serviços também, e a TV 3.0 vai permitir isso. Agora tem uma novidade ainda mais interessante, à qual estamos muito atentos e acompanhando, que é a questão do multiverso, ou do metaverso. Isso é uma experiência ainda mais imersiva do que a gente está falando, vai para a próxima geração. Acho que pós-TV 3.0 já deve haver experiências nesse sentido. É uma aposta muito grande. Centenas, milhares de companhias do mundo todo estão desenvolvendo soluções. Isso certamente passará por algum tipo de tela, provavelmente associada a algum dispositivo, que vai ficar na experiência tridimensional. Enfim, o cenário de crescimento, para nós, que estamos nessa área, é um momento bastante empolgante. 

Cássio Politi: Sobre esse lado do metaverso, eu conversei esses dias com uma pessoa da (inint) [00:35:36], que é uma empresa americana de capital aberto, que é uma imobiliária virtual, está presente em mais de 20 países. Todo o escritório deles é virtual em metaverso já. E o atendimento que se faz ao cliente é em metaverso. Eles ainda não chegaram no ponto de mostrar o imóvel em metaverso, mas estão caminhando para isso. É claro que tem limites. Essa própria empresa falou assim: “a gente não acha que uma pessoa vai comprar um imóvel só olhando pelo metaverso, mas ela vai eliminar opções; em vez de ela olhar cinco, seis imóveis, ela já elimina quatro, cinco, no metaverso e parte para a visita física só em um, o que faz todo sentido”. É muito curioso. Se uma imobiliária está tirando proveito disso, imagina a TV.

Carlos Cauvilla: Pois é. Tudo o que você hoje, a experiência com o consumo de mídia, vai nessa linha, porque, na verdade, é a maneira natural com a qual a gente interage. A gente interage com áudio e com vídeo, olhando ao redor, analisando as situações. Quanto mais a gente conseguir se aproximar disso, eu acho que atende às pessoas, é por aí que a gente tem evoluído. 

Cássio Politi: Carlos, quero te agradecer muito por esse papo, a gente sabe que o seu tempo é super corrido, são muitas demandas de tecnologia numa TV, você parar esse tempo para conversar comigo foi uma honra. Obrigado e volte mais vezes, Carlos.

Carlos Cauvilla: Foi um prazer. Obrigado, Cássio. Podendo, tendo a oportunidade, a gente quer sempre participar. É sempre bom, para nós também, podermos dividir um pouco mais com os diferentes públicos o que a gente faz por aqui, que é com muito carinho para atendê-los. Obrigado pelo convite. 

Cássio Politi: Muito bem, vamos chegando ao final do Think Tech de hoje. Sara, eu acho que a gente passou meio por cima no conceito do Hype Cycle, da Gartner.

Sara: Não tem problema, eu ajudo a explicar. Esse conceito tem como base o histórico de muitas tecnologias que já foram lançadas. Ele divide o ciclo de vida de uma tecnologia em algumas fases, como lançamento, pico de expectativas, desilusão, esclarecimento e platô de produtividade. Aliás, o Carlos citou justamente o platô de produtividade, não é?

Cássio Politi: Isso mesmo. Por exemplo, uma tecnologia como o rádio, que começou por 1896, quando foi lançada, e teve o pico na década de 1940, mas depois caiu na desilusão, quando surgiu a TV nos anos 1950. A partir daí, ao longo do tempo, as pessoas foram entendendo melhor o papel e o espaço do rádio, e hoje ele está no platô da produtividade.

Sara: Isso mesmo.

Cássio Politi: Valeu, Sara. É isso aí. Think Tech de hoje fica por aqui, até a próxima.