Cássio: O Think Tech está no ar, meu nome é Cássio Politi, e junto com a Algar Tech, nós vamos embarcar nessa jornada de repensar possibilidades. No episódio de hoje, a gente faz uma imersão em tecnologia na indústria no turismo, e como de praxe, eu tenho o grande prazer de convidar a nossa especialista virtual em negócios da Algar Tech, a Sara, para entrar na conversa. Sara, embora você nunca tenha se hospedado em um hotel físico na sua vida, turismo faz parte do seu mundo virtual, porque no mundo digital que a gente organiza toda a viagem, isso passa pela escolha de hotéis, passa pela compra de passagem aérea e vai até ler dicas dos roteiros que a gente escolheu na internet, por isso o turismo hoje está muito digitalizado. Então, o turismo é uma indústria importante, que aliás vai se reerguendo depois da pandemia, não é Sara? 

Sara: Oi, Cássio, sim, você tem razão, o setor de turismo cresceu 29% no primeiro trimestre de 2022 em comparação com o mesmo período do ano passado, os dados são do IBGE, no período em que muitas viagens foram restringidas por causa da pandemia, o setor de turismo no Brasil acumulou prejuízo de mais de 470 bilhões de reais, mas agora, felizmente, começa a se recuperar. 

Cássio: Tomara que se recupere plenamente, porque o turismo movimenta a economia e também gera empregos. Para o bate papo de hoje, eu tenho a satisfação de receber o Carlos Rios, mais conhecido como Zanaka, que é CTO da Hurb, uma empresa de tecnologia que você certamente conhece, e ela possui a maior plataforma de viagens online do Brasil. Zanaka, grande prazer receber você aqui, obrigado por aceitar o convite para essa conversa de hoje. 

Carlos Rios: Não, obrigado eu, foi bem legal esse convite, até para eu poder falar mais sobre a gente. 

Cássio: E você é a pessoa certa para isso, você está desde 2013 na Hurb, acho que você pegou uma… veio de outras indústrias, mas pegou um período de transformação que quem viaja, e acho que muitos ouvintes nossos, talvez a maioria, se enquadre nesse perfil, você que viaja e compra passagens, viagens e pacotes online, percebeu essa mudança nos últimos nove anos, ou na última década para arredondar. Mas você está vendo isso por outro lado, você está vendo isso por dentro, eu ia te convidar aqui para traçar uma linha do tempo sobre como você viu a evolução da tecnologia e do turismo nesse período. 

Carlos Rios: Isso foi muito legal, quando eu entrei no Hurb a gente ainda era o Hotel Urbano na época, eu tenho uma visão que turismo era de uma maneira e que… vamos por esse caminho, só que depois de um mês aqui dentro eu comecei a ver que era bem diferente, turismo é um setor que é muito regulamentado, tem muitas leis em países diferentes, e o nosso papel tem tecnologia dentro da empresa era (inint) [00:03:35] como a gente faz a empresa crescer em sistemas e ferramentas, onde a gente consegue fornecer as ferramentas para a empresa naquele momento, e no segundo ponto é o que tem de tecnologia, de ferramental e a gente consegue usar para facilitar a (interação com o) [00:03:50] usuário, porque existe o mundo interno, como a gente opera a viagem, como a gente faz a compra, como a gente integra com os parceiros, e depois como a gente torna isso da maneira mais simples para o usuário. E cara, quando eu entrei aqui a gente tinha… deviam ser 40 pessoas de (inint) [00:04:10], engenharia mesmo, de tecnologia, e em um primeiro momento entendendo como a empresa girava e como o negócio acontecia. E depois de algum tempo de várias interações a gente começou… agora vamos começar a focar em usuário, começar a melhorar a experiência do usuário mesmo. 

Cássio: Que interessante. E assim, do lado… vamos dividir e fatiar esse bolo em alguns pedaços, do lado da tecnologia, qual foi a grande diferença, a grande mudança que você observou?

Carlos Rios: Acho que a entrada da figura que a gente chama hoje de meta search, por exemplo, acho que Trivago é o grande carro chefe, mas depois o TripAdvisor já existia, eles começaram a entrar por esse caminho, e o Google entrando forte nisso, no início era chamado de (inint) [00:05:03], aí começou a mudar um pouco o nome do produto, mas o Google também entrando para esse caminho de buscas de travel em si, primeiro com flights e depois com hotel, e isso trouxe uma diferença para o mercado, que você precisava, em pouquíssimo tempo, conseguir entregar o conteúdo que aquela pessoa estava buscando, aquele destino, aquele hotel, se fosse o caso de travel de aéreo, com aquela passagem, só que a cadeia em si, como é muito segmentada, você pode pensar que turismo você tem tantas grandes redes, Hilton, como a pousada, por exemplo, do meu tio, que existe em Pindamonhangaba, então é um espectro muito grande, então tecnologicamente tem esse desafio, como é que eu consigo dar as mesmas chances para os hotéis, no caso, conseguirem aparecer na tela do usuário que está fazendo aquela busca? Que o Hilton vai ter um budget de investimento e o dono da pousadinha talvez não tenha aquele tanto de budget, como é que a gente consegue conversar com esse cara e trazer ele para essa realidade? Se aproximar desse mundo, que aí acho que é o maior desafio. 

Cássio: Zanaka, eu imagino que vocês tenham, além dessa complexidade de informações que chegam, você tem também uma dinâmica muito grande, a gente observa o tempo todo, uma passagem aérea muda de preço o tempo inteiro, muda a oferta vinda da companhia aérea o tempo inteiro, hotel talvez um pouco menos frenético, mas também tem isso, como é que é esse mundo? Ele é todo baseado em APIs e coisas do tipo ou já estamos além das APIs, de alguma forma, usando outros recursos que são implantados para poder acompanhar tudo isso?

Carlos Rios: Acaba que por baixo dos panos sempre vai ser API, qual a tecnologia, que pode ser webs service, não só API, empresas antigas ainda vão operar com web service, as empresas novas já entram no caminho do API, mas acaba sendo API. Mas acho que essa dor que você fala agora é muito em relação de cash, que quem trabalha com tecnologia, com internet, entende, cash talvez seja a veia do processo, quem está levando informação, se eu errar no meu cash eu vou entregar uma informação errada para a pessoa, ou um preço errado, que pode até atrapalhar a empresa, porque se eu mostro um preço errado, talvez a pessoa tenha que comprar com aquele preço, eu tenha que honrar aquele valor. Então, realmente, tem essa dor, e como você distribui isso para a cadeia inteira? Vem desafio assim, mas cada vez mais você vê que as empresas ou pensam… mudam a estratégia de como você está consumindo aquele conteúdo via API, se eu vou consumir em tempo real, se eu preciso botar um cash, ou não, eu tenho que mudar a maneira com que eu faço as perguntas, para ao invés de perguntar se o usuário está fazendo uma busca, por exemplo, Rio São Paulo, uma data no final da semana que vem, para eu entender se eu faço essa busca diretamente para aquele usuário ou se é via (inint) [00:08:18] estratégia, via arquitetura, eu já faço essa sequência de buscas que eu já entendo que vão acontecer, quanto mais tempo de empresa, de ferramenta, para o usuário final eu tenho, mais eu posso aprender aquele perfil do usuário, então eu posso perguntar para o resto da cadeia, cara, já me dá esses preços, essas datas para esse final de semana, para o próximo. Então começa um processo de inteligência, como é que eu melhoro esse… como é que eu tento prever melhor essas buscas, porque se eu cashar errado por muito tempo, eu vou dar um preço errado, então acaba tendo (inint) [00:08:53] de preço, de cash. 

Cássio: Interessante. E pela forma como você fala, Zanaka, dá para perceber muito a orientação que você tem ao cliente, porque TI a gente sempre tende a pensar que TI está ali muito no back-end, resolvendo os próprios problemas, e a forma como você conversa, dá a impressão de que você está ali o tempo todo procurando entender o cliente, a dinâmica, o mercado, tudo, para trazer resultado para a empresa. O profissional de TI que trabalha nesse mercado, como você ou a sua equipe, tem que entender do que, além da própria tecnologia? Tem que entender de UX, CX? Quais são as habilidades que você domina e que você exige, pede, orienta seu time a dominar? 

Carlos Rios: Eu acho que esse é um ponto interessante, por que você vai trabalhar para quem? A sua orientação é para que? Acaba que em tecnologia, a maior parte do tempo você está resolvendo problema, você vai resolver os seus problemas, e se você está resolvendo os seus problemas, provavelmente você está criando seus problemas, então acho que o foco seria isso, conversar com o usuário, fazer pesquisa… não necessariamente a engenharia, você tem envolvido o pessoal de UX, pessoal de design mesmo, que fica entendendo…. cara, qual é a melhor interface, (inint) [00:10:16], como é que… porque acaba que a gente tem a… quando a gente pensa em um produto, a gente acaba se apaixonando pelo produto e falando: “Isso aqui vai funcionar dessa maneira, vai ser a melhor maneira possível, vai resolver todos os problemas do mundo”, só que quando a gente bota isso para o ar que a gente começa a ver, não está dando tração. Então, você começa esse processo… cara, talvez eu tenha que perguntar para o usuário, ou ficar fazendo teste (AB) [00:10:40] de pequenas operações, para entender o que aquele usuário mais reage para aquela ferramenta. Então, acho que independente das ferramentas técnicas, que aí o pessoal de (inint) [00:10:50] tem, de back-end atua em cima, você precisa sempre estar trabalhando com o pessoal de produto do lado, que é a galera de produto que vai trazer insumos de… cara, está com essa prioridade, ou então a gente testou isso aqui om o usuário e isso aqui está funcionando, isso vai meio que desenhar qual arquitetura a gente pode mudar, ou adaptar, para fazer a ferramenta funcionar melhor, porque acho que foi até um pouco do nosso histórico. Quando eu entrei aqui, a gente tinha um parque que era uma única aplicação, uma única linguagem, e a gente atendia um público, só que com o tempo o nosso público foi mudando, o negócio também foi mudando, a gente foi pegando mais parcerias, ou escolhendo outros parceiros, e essa tecnologia fica datada. Então, com o tempo, você ouvindo isso, entendendo isso, conversando com as áreas de negócio, você dizer: “Cara, eu tenho que mandar a minha tecnologia, a tecnologia que a gente escolheu lá atrás não vai mais dar vasão, a gente precisa ou refatorar, refazer do zero”, aí começa o time técnico com essa discussão, como é que a gente consegue resolver melhor esse problema que eu tenho. Mas de vez em quando a gente resolve problema para a gente mesmo, a gente cria os nossos problemas e a gente tem que resolver. 

Cássio: Quem não faz isso, não é Zanaka? Acho que toda área faz, e claro, vocês são uma área core na empresa hoje. Agora, o que eu fico pensando aqui, o maior desafio então, em TI, no fim, pelo que você está colocando aí, não sei se o maior desafio, mas um grande desafio são pessoas, não é?

Carlos Rios: Sim, acho que talvez o segredo são pessoas, porque no final do dia é difícil você ter uma área, uma especialidade que você vai trabalhar sozinho, que… “Eu sou especialista nisso aqui, eu (inint) [00:12:38] sozinho”, você vai sempre trabalhar com alguém do seu lado, ou alguém de uma outra área, no caso a… você, como vai realizar com alguém de produtos, ou se vai ter os pares técnicos com você. Então, pessoas é a parte mais que vai fazer a diferença, ou porque você vai entender que a pessoa precisa de ajuda para evoluir, ou porque amanhã você vai ter uma dor de barriga, então você tem que contar com o seu par para falar: “Cara, toca aqui que eu confio em você, vamos fazer acontecer isso”, e sem comunicação é difícil ter esse movimento. 

Cássio: E está complicado? Está mais desafiador nesse momento? Porque a gente ouve falar de um apagão de profissionais em TI, e não é conversa furada, isso está acontecendo na prática, você vê o tempo todo as empresas disputando profissionais de diversas especialidades de TI, você vê os headhunters procurando, vale ouro uma pessoa que está desempregada com habilidades de programação, dados, seja lá o que for, e você sente, é um fator que dificulta muito mais a sua vida do que, por exemplo, do CMO, seu par, ou de qualquer outra área que tem profissionais com mais abundância, é um drama, não é Zanaka? 

Carlos Rios: Não, está bem complicado mesmo, é uma questão, por alguns fatores, acho que talvez, historicamente, a gente sempre teve pouco investimento, (pensamento) [00:14:13] em educação para tecnologia assim. Então, não é só de agora, mas acho que a pandemia trouxe isso, deixou claro para a gente que… a maioria das empresas consegue funcionar remotamente, consegue ficar em casa, e quem consegue, não está automatizada, precisa se automatizar. Então, criou-se essa do… de dois anos para cá, uma bruta necessidade, cara, precisa de gente que automatiza os processos que (inint) [00:14:41] manualmente. E junto com isso, (um pouco ligado) [00:14:47] também com a pandemia, veio a desvalorização da moeda, do real, em relação ao mercado exterior. Então, além de a gente ter um problema de… cara, falta capital humano para dentro de casa, a gente está perdendo capital humano para fora do país, e agora sempre precisar que a pessoa saia do país, ela, em casa, pode trabalhar para uma empresa de fora do país, aí você começa a ver a relação de câmbio, é um salto que acho que é muito difícil competir com esse cenário, então você só consegue com valores de empresa, (inint) [00:15:19] pessoas, e tendo nossa cultura boa na empresa, mas realmente, é uma questão que assola empresas de grande porte, assola empresas que estão nascendo agora, startups assim, está difícil mesmo, é complicado. 

Cássio: E quais são essas áreas de maior atenção? Eu citei aqui de orelhada algumas, mas o que seria? Banco de dados? O dev? Quem é o profissional que hoje mais faz falta?

Carlos Rios: Então, acho que o que tem acontecido é um processo de cultura (inint) [00:15:53], então cada vez menos… empresas novas, empresas pequenas, nascendo, startups, elas tem essa figura definida de… eu tenho um cara de banco de dados, eu tenho uma pessoa que vai fazer programação, acaba que, com o tempo, as pessoas vão começando a trazer essa cultura de outras áreas, ferramentas, eu vou saber um pouco de banco de dados, eu vou saber… porque a cultura de (inint) [00:16:13] passa a ser incorporada em toda a esteira. Então, quanto mais isso acontece, mais essas pessoas ficam polivalentes e são mais propicias a serem cotadas por outros países, e uma coisa que a gente já viu aqui, que brasileiro realmente tem uma… ele tem um diferencial, o quanto a gente está acostumado a resolver os poréns, de dar o nosso jeito, e isso para fora do país é muito bem-visto. Então, a nossa cultura também ajuda isso, ou seja, é uma vantagem para a gente mesmo, e acaba (inint) [00:16:47] para fora é complicado assim. Mas isso não acontece só também em tecnologia no caso de programação, design está acontecendo bastante isso, UX está acontecendo bastante isso, então não é exclusivo de desenvolvedores, de quem é programador, áreas que atuam em cima disso também são bem requisitadas nesse apagão, ainda mais UX, quando você tem uma empresa que está nesse processo de… cara, vou me tornar mais digital, vou passar por essa transformação digital, essas figuras de UX, de design, são importantes para conseguir desenrolar a informação que antes… vai acontecer, porque é uma coisa nova para todo mundo, e as pessoas vão começar a ter ruído. Então, essas figuras são importantíssimas para… cara, como é que eu consigo diminuir o atrito de informação? Como é que aquela tela, aquele botão, passa a mensagem certa? Então, acho que todas essas camadas fazem parte desse jogo. 

Cássio: E tem um profissional especializado em turismo, ele precisa chegar ali e entender do setor de vocês, da indústria de vocês para ter uma performance melhor? Melhorando um pouco a pergunta, tem peculiaridades muito específicas para quem trabalha com turismo? 

Carlos Rios: Acho que tem, acho que tecnicamente, para a área técnica, eu acredito que talvez não faça tanta diferença, não existe uma figura muito específica para isso, mas essa figura que conhece turismo, turismólogo, conhece, esmiuça (inint) [00:18:30] manage de hotel, é importantíssimo para áreas de comercial, áreas de financeiro, porque quando a gente tem que começar a precificar, ou otimizar ferramentas, como eu… por exemplo, como é que eu… resultado de busca, faço uma busca e dá uma saída para o usuário de dez opções, qual a melhor maneira de ordenar aquelas opções? Talvez essa pessoa seja um cara que diga: “Cara, o que faz mais sentido para o hotel é ir por esse caminho, mas o que faz mais sentido para o usuário é ir para esse caminho”. Então sim, existem profissionais que ajudam bastante a gente, pessoal turismólogo, e eles entram… tem gente tanto do pessoal de operação, que é quem hoje ajuda a operar nossos pacotes, acho que a maior área da empresa, sem dúvida, é atendimento e operação, eles ajudam bastante nesse ponto, tem a questão também do comercial, que quem está (inint) [00:19:23] ouvindo os hotéis. Então, acho que essas duas frentes são as que mais ajudam a gente nesse caminho. 

Cássio: E vocês coletam e armazenam muitos dados das pessoas, basta você imaginar quando você vai viajar, o volume de informação que você fornece, e é o momento… claro que tem as exceções, mas é o momento que a gente não questiona muito se a gente precisa dar os dados ou não, é meio natural, você vai viajar, você vai colocar seu CPF, seu endereço, eventualmente seu número de passaporte, número de cartão de crédito e por aí vai, e isso está ficando muito sensível, a quantidade de dados que vocês armazenam é grande, e dados que as quadrilhas estão loucas para pegar, por diversos crimes que a gente está vendo o tempo todo. Justamente por isso surgiu a LGPD, muito baseada na GPDR, e agora vem aí começando acho que uma nova fase, uma nova era dessa relação das pessoas com os dados, como é que vocês lidam com isso? Como é que as questões dos dados LGPD impacta no negócio do Hurb, especialmente tecnologia de vocês? 

Carlos Rios: Isso para a gente é bem delicado, porque como a gente também tem uma sede na Europa, independente da LGPD, a gente tem que estar aderente também a GDPR, então até antes da… porque só  há pouco tempo a LGPD foi criada aqui, a criação da LGPD trouxe realmente a execução de qualquer tipo de processo que tenha em cima disso, mas antes disso a gente teve que estar aderente a GDPR, então isso sempre foi um ponto delicado, tanto que hoje a gente tende a pedir cada vez menor informação se a gente não precisa disso, que um dos pontos da GDPR é isso, é o (inint) [00:21:23] by design. Então, até quando ferramentas novas são criadas, eu sou um cara que olha isso…, mas a gente precisa perguntar isso? Por que a gente tem que perguntar isso? Porque a gente entende que a gente vai ter que justificar, eu preciso perguntar isso porque faz parte da minha ferramenta, de escrever ela e guardar o documento e deixar tudo preparado para o futuro, precisa ter esse planejamento. 

Cássio: E dá uma sensação, não dá Zanaka? Que poderia ser ter sido sempre assim, eu acho que as empresas teriam feito um uso até mais inteligente, mais otimizado dos dados, não é?

Carlos Rios: O legal desse processo de adequação da GDPR, LDPG, eu fui pesquisar como a gente fica mais preparado para isso, eu descobri que o Brasil já tem uma série de leis que já pregam esse cuidado com dados em setores específicos, mas precisa ter realmente esse cuidado. 

Cássio: E para vocês, a tecnologia, de novo, é o enabler disso, é o que inviabiliza isso. E como é que a tecnologia se desenvolve em função disso, no caso específico de vocês, que coletam muitos dados? Ela vai também se modificando à medida que a lei exige, então eu estou falando aqui, banco de dados, e até a proteção, ou o cuidado é outro? É armazenar melhor com as ferramentas que você já tem? 

Carlos Rios: Então, eu acho que tem… é importantíssimo esse de armazenar melhor, porque, até por conta da LGPD, a gente teve que se adequar, mudar o processo de armazenamento, ou mudar a maneira que as pessoas internamente veem as informações, se antigamente, se uma pessoa tinha acesso a toda a viagem daquela pessoa, todas as informações de viagem, agora é um processo que é mais segmentado, que nem todo mundo precisa ver tudo, acho que isso também é um processo de como mudar, e de como é que o próprio desenvolvedor tem acesso a aquilo, as vezes ele está no escritório, ele talvez não… antigamente a gente tinha acesso, a gente via os dados realmente que tinham de produção, se via API, se consumia API, a gente via, aí por conta da LGPD a gente foi procurar no mercado que ferramentas a gente poderia usar para tentar mitigar isso, a gente comprou um provedor, uma ferramenta que trata exatamente desses casos, ela mascara os dados em tempo real, ou seja, se eu sou uma pessoa que está no escritório, quando eu consumo dados de API eu não vejo os dados reais, eu vejo os dados misturados, é como se fossem anonimizados, porque (inint) [00:23:51], porque os dados ainda existem, mas só ou para a área de operação, que ela precisa dos dados de verdade, ou para o usuário, que o dado é dele, então ele pode dizer, mas quem não tem a ver com isso, com esse processo, ele vê os dados embaralhados. E é um processo de adaptação, durante… foi quando? Acho que foi de 2020 para 2021, apareceu uma lei que a gente tinha que (inint) [00:24:18] melhorar exatamente… como é que foi? A gente tinha que fazer uma coleta… eu tinha que passar os dados do passaporte para o meu provedor de operação, de hotéis no caso, que a gente não coletava isso. Então foi isso, apareceu uma lei, o time que toma conta dessa ferramenta recebeu essa notificação, teve que… o que eu preciso mexer? Como é que eu preciso perguntar isso para o usuário? Como é que eu armazeno isso? Como é que eu passo isso para frente? Então, como é um setor regulamentado, bem regulamentado, que países diferentes tem regras diferentes, o nosso setor jurídico fica muito em cima: “Olha, mudou essa regra aqui, apareceu essa lei aqui, a gente tem que se adequar”, então é um processo que é bem vivo mesmo. Então, a LDPG, você vê, um gestor como você já está bem atento a isso, e trazendo até informações novas, muito interessantes, acho que muitos consumidores também já vão ficando atentos e questionando, você chega em uma loja: “Por que você quer meu CPF? Só me passa o cartão que eu levo minha sacola embora”. Agora, a que distância a gente está de isso virar uma cultura do profissional de TI como um todo? Ele já incorporou isso? Olha, dados… a gente precisa ser responsável, tudo, ou a gente está em uma fase ainda de educar, conscientizar a turma de TI?

Carlos Rios: Acho que essa é uma boa pergunta. Eu acredito que a gente está em uma fase de educação, até porque como é novo, provavelmente é novo e não tão usual, não é no seu dia a dia, você não acorda, abre o jornal e tem lá a LGPD. Então realmente, entender de leis não é uma coisa muito simples, você precisa de alguém para estar perto de você para te dar esses inputs, e talvez esteja nessa fase de começar a preocupação de… eu preciso entender isso e preciso viver isso, mas ainda não está no dia a dia. Eu acredito que para empresas de portes muito grandes isso já acontece, porque aí o tamanho do problema é grande, uma multa pode ser realmente o diferencial para a empresa fechar ou não, para pequenas empresas isso vai ser um atrapalhador, mas ele precisa saber que ele precisa desenhar dessa maneira, porque amanhã, se ele tiver que concertar isso, vai ser tão mais complicado, ou talvez a multa que venha amanhã não valha apena o não esforço de hoje, mas eu lembro que quando a gente começou a ver isso, várias empresas vieram falar com a gente, de consultoria, de ajudar a gente a mapear, ou ensinamento de para onde tem que ir, então eu acho que… não sei se isso vai ser ensinado nas faculdades ainda, mas a gente está nessa fase de começar a ter que cortar cabeça: “Cara, isso aqui é importante, eu preciso entender melhor sobre isso”, só que a gente talvez não tenha ainda um canal bem simples de como resolver isso. Engraçado que você fala disso, aqui no chat do time, um gerente nosso passou um print que era exatamente o que é a LGPD para desenvolvedores, alguém, não sei quem é, preparou uma playlist no Spotify, os nomes das músicas são (inint) [00:27:33] você tem que fazer na LGPD, é curioso, mas é diferente de atacar a pessoa, de falar: “Olha, você tem que prestar atenção nisso aqui”. 

Cássio: Interessante essa iniciativa, legal saber disso, porque impacta a vida de todo mundo. Zanaka, muito gostoso conversar com você, quero te agradecer muito por esse papo, o Hurb é um serviço que acho que todo mundo ou já usou ou um dia vai usar, porque é uma empresa séria, é uma empresa que traz ofertas interessantes, vou dar aqui a minha opinião, e não é porque você está aqui não, já conversei isso com muita gente, é uma empresa que me transmite confiança, compro tranquilamente, me transmite confiança, então é muito legal ver desse lado como a tecnologia está sendo usada como meio e não como fim. Eu te agradeço muito, Zanaka, pelo papo, obrigado e volte mais vezes, viu? 

Carlos Rios: Obrigado você, Cássio, obrigado pelo convite. 

Cássio: Muito bem, vamos chegando então ao final do Think Tech de hoje. Sara, essa explicação que o Zanaka, do Hurb, trouxe sobre LGPD foi muito interessante para mim. Ele, aliás, falou da ANPD, que é o órgão que vai fazer cumprir a Lei Geral de Proteção de Dados, certo?

Sara: Exatamente, Cássio, a ANPD é a autoridade nacional de proteção de dados, foi criada para a finalidade que você citou. Recentemente, os sites de notícias informaram que a ANPD deve começar a fiscalizar e multar empresas no último trimestre de 2022, é por isso que muitas empresas já se prepararam para a LGPD, como já pudemos perceber no episódio de hoje. 

Cássio: É isso aí, o Think Tech de hoje fica por aqui, até a próxima.