Cassio Politi: O Think Tech está no ar. Meu nome é Cassio Politi, e junto com Algar Tech nós vamos embarcar nessa jornada de repensar possibilidades. No episódio de hoje a gente faz uma imersão em omnichannel e como de praxe eu quero chamar aqui a nossa especialista virtual em negócios aqui na Algar Tech, a Sara. Sara, eu gostaria que no início você explicasse por que as empresas de varejo hoje dão tanta importância ao omnichannel. Sei que você tem um repertório digital gigantesco para explicar que a presença em canais diferentes, mas integrados é muito importante, não é, Sara? 

Sara: Oi, Cassio. Claro, com prazer. O conceito de omnichannel é muito praticado por uma razão simples, empresas que vendem por múltiplos canais têm mais resultados. Segundo dados de 2020 da Omnisend as pessoas compram com frequência três vezes maior de empresas que praticam o omnichannel, com um detalhe, as pessoas gastam 13% mais nesse tipo de empresa em comparação com as empresas que possuem apenas um canal de vendas. 

Cassio Politi: É o famoso show me the money, Sara. Para o bate-papo de hoje eu tenho o grande prazer de receber a Lucia Almeida, que é diretora de T.I da C&C. Eu acho que a C&C dispensa apresentação, especialmente para quem um dia já reformou a casa ou escritório, certamente passou grandes temporadas indo a C&C comprar material de construção e é uma rede de lojas que tem uma presença muito sólida no mercado brasileiro, na mídia brasileira e então é muito bom poder conversar com você porque a gente vai tratar de um assunto bastante pertinente também para as empresas de qualquer natureza, basta que elas tenham T.I no seu dia a dia. Lucia, é um prazer receber você aqui, obrigado por aceitar o convite para essa conversa.  

Lucia Almeida: Olá, Cassio. Eu que agradeço o convite. É um prazer bater esse papo com você. Eu acho que vai ser bem interessante essa troca de experiência. 

Cassio Politi: Vai sim. 

Lucia Almeida: Vamos lá. 

Cassio Politi: Vai sim, sempre é gostoso conversar com quem está com a mão na massa, não é, Lucia? E é o seu caso, você está na C&C que é uma gigante do varejo. Eu queria começar abordando esse tema do omnichannel com você. Em 2019 vocês passaram a adotar não apenas a operação por múltiplos canais, mas esse mindset do omnichannel. Eu queria perguntar duas coisas em uma, como é que foi isso e qual o papel de T.I nessa formação? 

Lucia Almeida: Essa jornada começou em 2018, ficou mais intensa em 2019 quando aconteceu uma reformulação dentro da diretoria e um reposicionamento estratégico da C&C no mercado. Nesse reposicionamento estratégico, a área de tecnologia deu um impulsionamento importante também e muito mais, o cliente no centro de tudo, nossa visão 360 graus. E aí nós começamos a desenvolver soluções que trazem o cliente do mundo on-line para as lojas como, por exemplo, Google LIA, e a gente quebra também alguns paradigmas de criar uma concorrência. Nossos grandes parceiros do omnichannel estão na loja física, isso sem sombra de dúvida. E além desse projeto do Google LIA, muita mudança de processos e de pensamentos dentro da nossa corporação como um todo. Nessa mudança, lógico que a gente começa a trazer novas soluções sempre integradas, tanto o mundo on-line como offline. 

Cassio Politi: Legal. Eu acho que isso está acontecendo cada vez mais Lucia, porque o cliente é omnichannel, se você for ver diversas pesquisas você vai ver exatamente isso. Uma pesquisa que a gente tem do Infobip mostra que 80% das pessoas usam o WhatsApp para falar com as marcas, aliás eu estou nessa maioria, imagino que você também. 

Lucia Almeida: É. 

Cassio Politi: A gente tem essa facilidade, às vezes já virou trabalho você ligar para uma empresa, vou ter que parar, pegar o telefone e tal, manda um WhatsApp aqui, ele me responde, a hora que eu puder eu respondo de volta, tudo. Claro que esse não é o único, talvez não seja o principal canal, mas o que eu queria entender é que vocês quando falam em omnichannel e nessa mudança até cultural que você descreve, vocês vão além desses canais clássicos de atendimento, não é? Vão além do atendimento via WhatsApp, vão conseguir vender também via WhatsApp. Como é que foi isso?

Lucia Almeida: Eu vou dar um pulinho lá atrás. A gente começou um processo de transformação digital muito forte, bem acelerado dentro da C&C. Eu costumo dizer que a gente fez 20 anos em 2 anos. Uma das principais ações foi colocar toda a operação na mão do vendedor, então além deles terem os desktops para poder fazer o pedido, além do autoatendimento, eles começaram a fazer celular também, e trabalhamos intensamente em uma nova versão do app, o app Nova Geração. Sim, ele tem o DNA de venda como todo app do varejo, mas ele traz soluções bem disruptivas, bem à frente dos nossos concorrentes, e o nosso olhar não é estar simplesmente a frente do nosso concorrente, é colocar o cliente da C&C na mão do vendedor, é colocar a C&C na mão do cliente para tudo que ele precisar. Se ele precisar de arquitetura, se ele precisar de produtos e serviços ele consegue consultar e tem todo o nosso apoio e a nossa prestação, não só de vendas, mas também um apoio mais conceitual até a entrega, como por exemplo o C&C Instala. E aí a gente começou a não só investir no site e no app, implementamos WhatsApp e rapidamente, fomos pioneiros no nosso mercado a implementar não só com robô, mas também com atendimento humanizado. Bem estruturado, começamos com atendimento, em vendedores também temos uma célula de atendimento, então a interação com os clientes fica muito mais fácil, muito mais rápido, no tempo dele e quebrando vários paradigmas que casa e construção, material de construção seria muito difícil ser vendido em um app, no WhatsApp, a gente consegue fazer boas vendas inclusive mostrar produtos durante à venda para o cliente para que ele não fique com dúvidas ou refinar detalhamento desses produtos durante o atendimento, não só com fotos mas também com imagens, então a interação é bem interessante. 

Cassio Politi: Sim. Vocês têm uma presença muito forte no mundo físico, muito antes da internet a C&C já estava lá, você passa por uma avenida importante e você vê uma C&C, você liga a televisão e vê e já via há muito tempo uma C&C, no rádio muitas campanhas, ou seja, o canal físico para vocês sempre foi forte, imagino que continue sendo forte. E o que eu queria te perguntar é se existe diferença na sua visão do canal físico para o on-line. Isso de alguma forma determina o fim da diferenciação de físico/online quando você passa a colocar, como você disse, o cliente no centro da operação e se tornar forte nos dois canais físicos e digitais? Então minha pergunta é essa, você começa a não ver muita diferença, não diferenciar muito o físico do online? 

Lucia Almeida: Eu entendo que cada um tem a sua personalidade, cada canal. Quando a gente fala de negócios digitais e lojas físicas, a gente tem que respeitar. Não é a personalidade só de cada canal, mas também do público, a preferência do público, e esse público até mesmo no nível do indivíduo ele pode ter preferências diferentes, o mesmo indivíduo ter várias preferências dependendo da condição, do cenário que ele esteja. O que eu quero dizer é que você, Cássio, se precisar ir até uma loja, olhar o produto de perto, ter uma assessoria de um arquiteto, fazer um projeto, você pode fechar ali na hora, mas se você quiser uma jornada em casa, via site, depois continua pelo app, WhatsApp, terminar na loja, você é único para a gente, a gente consegue te entender, entender o seu momento de compra. Ao mesmo tempo, Cassio, que você está possivelmente recebendo um apartamento, fazendo uma grande reforma que vai levar alguns meses, você está morando em um outro lugar e você precisa comprar rapidamente uma lâmpada ou chuveiro que queimou e a gente também consegue, através de parcerias como o Cornershop, entregar em 20 minutos ou entregar bem rápido via app, via site ou mesmo com atendimento online. A gente se propõe a estar disponível para o cliente na forma que ele precisa e respeitando as particularidades. Tem público de vai querer sempre ir à loja e vai ter um público que não gosta do contato físico, vai querer tudo online, e aí o híbrido que eu comentei. Estamos preparados para todas as situações do nosso público. 

Cassio Politi: Teve um ponto que você aí que eu achei muito legal, que é a personalidade de cada canal. O que significa que vocês procuram entender bem o canal digital, o canal online e surgem oportunidades daí. Até tem um livro do Andrew Davis que fala de colaborações entre empresas de canais bem diferentes ou de atuações bem diferentes de indústrias diferentes. O livro chama Brandscaping, sugiro que quem queira ler dê uma olhada porque quando eu estou falando isso, me vem à cabeça a parceria que vocês têm com a Uber, não é? Que parceria foi essa? Que ideia foi essa? Como é que isso virou? 

Lucia Almeida: A gente já estava estudando algumas parcerias com outras empresas e a partir da Cornershop que é da Uber entrou no Brasil, lógico, na parte do varejo alimentício como um carro-chefe nos aproximamos e fizemos o primeiro case deles no Brasil de casa e construção, estudamos quais são os possíveis produtos e públicos, fizemos uma prova de conceito e deu muito certo. É acompanhar essa necessidade do cliente, o senso de urgência. É uma parceria muito bacana porque a gente estuda todo um comportamento, probabilidades, tendências, trabalha preços e parcerias com outros fabricantes e olhando sempre o consumidor, quanto mais ele tem ofertas, mais ele usa esse canal com o benefício não só de preço, mas principalmente de velocidade. E aí o Cornershop dentro da Uber usa carros, então a entrega é realmente muito rápida. A gente tem um raio de atuação muito próximo das lojas, então a gente tem uma meta de entrega de 20 minutos, que muitas vezes leva menos do tempo, a maior parte das vezes leva uns 15 minutos, 10 minutos para a entrega. 

Cassio Politi: Legal. 

Lucia Almeida: Fizemos um treinamento porque eles precisam conhecer a loja, os corredores, o que a gente vende, como vende, então fica muito mais fácil o trâmite. A gente faz um atendimento PDB também mais agilizado com uma caixa de preferência, então é bem rápido realmente chegar o produto na casa do consumidor. 

Cassio Politi: Isso reforça o que você acabou de dizer, é focar no consumidor e nas suas preferências. 

Lucia Almeida: Nas suas preferências. Urgências também. 

Cassio Politi: Sim, porque tem coisa que você vai comprar, um piso você pode esperar semanas, dias, eu preciso para hoje, instalar, o cara está lá esperando para instalar, não tem isso. Agora, tem certas coisas que tem, aconteceu comigo outro dia, Lucia, eu precisei de um cabo HDMI de 10 metros porque inventei de ver um jogo de futebol com os amigos, tinha que esticar o cabo até outro lugar, e aí? Como é que você faz, não é? No fim de semana. Não posso esperar. É bem esse tipo de compra que você faz ou de conveniência ou a compra programada e estruturada na sua vida. 

Lucia Almeida: Nesse frio, imagina, queimou o chuveiro. 

Cassio Politi: Queimou o chuveiro, melhor ainda. 

Lucia Almeida: Abriu um pouquinho a água e queimou o chuveiro. Não, corre, me traz um chuveiro novo. 

Cassio Politi: Me traz o chuveiro. Isso é legal porque é isso, a gente está falando muito hoje do same day delivery, mas eu acho que logo vai ser same hour delivery, alguma coisa assim. É isso aí, traz aqui. E o público está disposto a pagar por isso, por isso que tem mercado. 

Lucia Almeida: É. 

Cassio Politi: Agora, a tecnologia é meio, não é fim, não é? Em tudo isso, e eu imagino que por trás tenha que ter uma estrutura parruda de T.I para isso, e em constante evolução. Como é que é estruturar a empresa do ponto de vista técnico para poder atender o cliente com esse grau de fidelização e de personalização? 

Lucia Almeida: Excelente pergunta. Para fazer essa aceleração, eu mudei bastante a estratégia de tecnologia, principalmente trazendo o software, infraestrutura, plataformas como serviços. Eu não tenho mais um ambiente tão parrudo, On-premise, Data Center próprio e comecei a colocar várias soluções em nuvem. Também invisto em soluções prontas para atender aquelas prioridades do meu world map de evolução e de inovação. Invisto também em startups para fazer a transformação digital, modelos mais disruptivos. Criando um barramento de integração via API, esse foi um grande acelerador. Soluções em cloud, software com serviço, trabalhar com API, saber investir nas plataformas certas, negociando também muito bem, não é fácil gerenciar depois todo esse ambiente, mas colocando toda uma visão de monitoramento dos créditos, monitoramento de performance entre vários outros recursos de gestão a gente controla e até reduz custos comparado a operação no modelo anterior. 

Cassio Politi: Agora, tem algumas dessas tecnologias ou dessas soluções, eu vou chamar de soluções que fica mais fácil, que eu imagino que sejam críticas. Por exemplo, a SAP é craque nisso. O S4 HANA, acho que foi vocês que instalaram, não é? E adotaram S4 HANA. É muito complicado? Primeira pergunta, e segunda, que benefícios traz? 

Lucia Almeida: O S4 HANA, SAP a gente já possui a plataforma ECC 5.0 na parte de logística há alguns anos, e decidimos substituir outros sistemas que eram legados principalmente da área financeira já direto para o HANA, uma vez que o ECC vai ser descontinuado daqui há alguns anos. Não valeria a pena fazer um (inint) [00:17:26] no ECC e depois fazer um novo projeto para o HANA. Ao pensar no S4 HANA, pensamos em uma plataforma completa no (i-tail) [00:17:34], que tem um nível de aderência relativamente adequada para o varejo uma vez que nós não somos o primeiro do varejo a ingressar, os nossos GAPS pouca customização, mas a nossa tendência é zero customização. Se eu preciso fazer alguma coisa a mais, a minha tendência é trazer uma aplicação mais leve e integrar (inint) [00:17:58] com o HANA. Decidimos uma solução híbrida, estamos em cloud, e só uma pequena parte que é de orçamento e de BI que vai estar On-premise. Decidimos ir para cloud private justamente por causa de gerenciamento, capacidade, performance, e controlamos custos ao longo do tempo, a gente está começando menor, e a gente vai crescer em volumetria ao longo dos anos, então vamos pagar sob medida. Viramos já toda a parte de back-office e estamos no processo de implementação, tanto da logística, lojas, vendas, pricing, entre outros modos. Tem um cronograma de (inint) [00:18:49] que a gente usa a metodologia (inint) [00:18:51], que se estende até 20/23. Fizemos essa parceria com o SAP, acho que foi bem assertivo. Estamos com a Amazon, com gerenciamento centralizado, então não tem que ficar falando com N parceiros para gerenciar o meu ambiente, eu tenho menos interlocutores, mas também tenho mais eficácia, não só na gestão, mas na resolução de problemas. Tanto para o ambiente de projeto, como o ambiente operacional. A gente está bem satisfeito, fomos um dos primeiros a ingressar nesse modelo (rise) [00:19:26] e os custos são bem menores do que a gente tinha no modelo On-premise, sem comparação, até esse momento, principalmente, mas na análise de tendência de volumetria continua sendo muito menor. E aí quando a gente fala da parceria com SAP e Amazon, a gente também teve custos mais reduzidos, principalmente nessa negociação completa de gestão, se eu tivesse contratado separado com a Amazon eu ia pagar mais caro. É interessante, eu estava conversando com os mesmos gerentes de conta, então essa parceria está funcionando tanto modelo quanto às questões financeiras. 

Cassio Politi: Interessante. E como é que se mede tudo isso? Eu imagino que NPS seja sempre muito importante, seja um indicador visto pela empresa, não queria te perguntar se o NPS está sendo visto porque parece meio óbvia a resposta, eu queria saber como é que você, Lúcia, lida com o NPS porque às vezes as pessoas falam do NPS um pouco como métrica de vaidade, as pessoas falam do NPS como aquele indicador que não leva a uma ação, eu vejo que a métrica de vaidade é aquela que você fala com muito orgulho dela, mas que não te conduz a uma ação sendo NPS positivo ou negativo. Você pessoalmente encara como o NPS? E você usa como no dia a dia? 

Lucia Almeida: O NPS eu encaro de uma forma muito positiva. Eu entendo que a companhia tem que escutar o cliente o tempo todo, não é só escutar coisas boas, é principalmente as necessidades e as críticas para a gente adaptar o nosso modelo, avisando o cliente, a necessidade dele, a gente ter o foco no cliente e do cliente na sua rotina. Nós temos uma plataforma que não só interage com o cliente, a gente capta essas informações já de forma estruturada, coloca em dashboards e eles são gerenciados por todas as pessoas na companhia, não é só pelo atendimento ao cliente, mas são gerentes de lojas, analistas que estão fazendo suas avaliações o tempo todo. É escutar o cliente ponta-a-ponta, então acho que é cada vez mais expandir essa audição, desde uma procura de um produto, ou de uma prospecção, um preço, como foi sua jornada de compra, como foi sua entrega, se ele precisou de apoio do nosso SAC ou resolveu uma reclamação. O legal é que a gente não precisa esperar 30, 40 dias para fazer uma pesquisa manual, a gente consegue calibrar a amostragem esse tempo de emissão da pesquisa, a gente consegue até parametrizar em tempo real, mas a gente gosta de dar um tempinho para que a pessoa termine um ciclo e que ele consiga fazer essa avaliação. E a gente consegue conversar com ele em um canal que ele prefere, até no mecanismo de comunicação que ele preferia. Se ele gosta mais de um WhatsApp, se é em e-mail, se é em SMS, aquilo que ele está mais acostumado a nos responder onde eu vou começar a interagir com ele, inclusive e-mails. A minha plataforma já é inteligente para identificar. E a gente pega todas as estatísticas e transforma em gráficos, temos metas e em uma situação de crise a gente tem condição até de entrar em contato com esse cliente e reverter essa situação, resolver da melhor forma possível. Todas as lojas físicas e digitais conseguem usufruir dessa plataforma, isso nos traz essa audição, essa visão também não te permite estar à frente, o cliente é a parte mais importante que nós temos, o consumidor, pessoa jurídica também, então ouvi-los, ouvir, inclusive as sugestões de melhorias é super relevante. 

Cassio Politi: É isso, o NPS quando bem aplicado ele, mais ou menos, valida todo o esforço que vocês estão fazendo ou aponta melhorias possíveis. É aquilo, Lucia, a gente sempre, como gestor, o indicador que você mira, foca, se importa com ele, ele acaba melhorando, uma coisa que não é muito mágica nem mística, é fácil de entender racionalmente o porquê, acho que o grande erro às vezes é você não olhar tanto para aquele indicador e aí ele fica à deriva, aí claro, é mais difícil melhorar. 

Lucia Almeida: E os extremos são muito perigosos, quando você tem muita crítica e não trata, ou você tem muito elogio e entra na zona de conforto, então quando tem, inclusive, muitos elogios é hora de você querer evoluir. Eu tenho que fazer alguma coisa, o que ele também tem de expectativa, onde a gente pode ir além e experimentar e ouvi-los também, não só se acomodar com ele dando nota 10, nota 9. Não, não se acomode não. Crie novos modelos e escute a opinião deles o tempo todo. Agora, quando está em uma situação de crise e não ouvir, também é um tiro no pé, a gente tem que corrigir os nossos modelos, não pode partir do princípio de que o consumidor tem que fazer o que a gente quer. Tem ritos, têm processos, têm necessidades, cenários e comportamentos que mudam o tempo todo. Algo que é bom em uma época, pode não ser o adequado hoje em dia, não é? 

Cassio Politi: Sim. Você falando isso que quando tem muitos elogios entra em uma zona de conforto, já falei com você, é claro que não gravando, mas uma paixão minha, um hobbie meu é andar de kart, eu sou um piloto medíocre, mas uma coisa que eu aprendi, uma aula, literalmente, de um amigo Miguel, que é mais experiente, ele me ensinou uma coisa para o kart que vale para a vida. Quando você faz muitas curvas, curva é o ponto crítico quando você pilota qualquer coisa, falar assim: “você está confortável naquela curva?”, estou, então tem um problema ali, é ali que você pode ganhar tempo, você não pode estar confortável. É meio isso, você está confortável. 

Lucia Almeida: É aí que você tem que se superar. 

Cassio Politi: É isso aí. Tem que ter cuidado com ele. 

Lucia Almeida: É exatamente isso. 

Cassio Politi: Se você está satisfeito, é o primeiro passo para trás. 

Lucia Almeida: É. É por aí. 

Cassio Politi: Não é a arte só que imita a vida, o esporte imita a vida e vice-versa. 

Lucia Almeida: A gente aprende muito com o esporte, todos eles. 

Cassio Politi: Todos eles. Praticando, assistindo, é legal. Com a arte também, obviamente, e para a gente fechar eu queria te perguntar uma coisa que também você me contou já em outra ocasião, mas eu vou perguntar, adorei o que você me contou e eu quero compartilhar com o nosso público aqui o que eu ouvi de você. Você teve o privilégio de trabalhar, de estar perto do Aloysio de Faria. Para quem não sabe, o Aloysio de Faria foi um dos maiores empresários do Brasil, algumas empresas que devem o seu crescimento a eles são a própria C&C, a rede Transamérica, quando eu falo de rede Transamérica eu estou falando de rádio, hotel, centro de exposição, Banco Alfa, Banco Real, que depois virou Amro e hoje pertence ao Santander, a La Basque, quem gosta de sorvete, adora sorvete premium, a La Basque foi o primeiro sorvete dessa categoria, só para citar as principais empresas. Ele morreu em 2020, 2 meses antes de completar 100 anos de idade, e aí eu fiz toda essa introdução para perguntar, só uma curiosidade aqui, como é que era conviver com Aloysio de Faria? 

Lucia Almeida: Foi um presente dos anjos, sempre uma inspiração, toda a vida de executivo, a gente sempre mirava nele, falava: “nossa, é uma inspiração”. Nós fazíamos reuniões de acompanhamento dos resultados, apesar de ele ter quase 100 anos, era muito visionário, adorava inovação, nos desafiava e tinha algo que era muito mais importante do que ter um bom resultado financeiro, era a satisfação do cliente. 

Cassio Politi: Olha, que legal. 

Lucia Almeida: Ele chegava a pegar a listinha e falar de cada reclamação, não adiantava você chegar com indicador, eles estão 99,99% de satisfação do cliente. 

Cassio Politi: Quero ver aquele 0,01. 

Lucia Almeida: Se você tem uma reclamação, essa reclamação você tem que tratar. Eu quero zero reclamações, cliente precisa estar sempre satisfeito. Muitas pessoas não entendiam isso, mas é uma pontinha do iceberg. Tudo que você tem que fazer para atender muito bem, desde uma exposição de produto, a disponibilidade do produto, a forma que a gente atende o cliente, as entregas, tem muita coisa por trás desse discurso. E ele sempre desafiava os executivos com essas ideias inovadoras e sempre atualizado, era bem gostoso conversar com ele. 

Cassio Politi: Imagino. Que inveja que eu estou de você. Falando de automobilismo, eu tenho a mesma inveja de quando eu converso com alguém e falo do Senna, e o cara fala: “o Ayrton”. Eu sinto uma inveja de quem chama ele de Ayrton, sabe? Porque convivia com ele. 

Lucia Almeida: É por aí. 

Cassio Politi: Eu morri de inveja agora. O doutor Aloysio, seu Aloysio. Para mim não é, para mim é o Aloysio de Faria e vocês chamando de doutor Aloysio, que inveja, que privilégio. Acho que deve ter sido inspirador mesmo. 

Lucia Almeida: Pessoa de caráter, de índole muito forte, e eu conheci em uma frase que ele realmente sempre adicionou valor aos executivos, mas com muita maturidade. Foi bem legal. Nós fazíamos essas reuniões, os diretores todos juntos com ele, uma pessoa muito simples, muito educada e tinha esse foco total. 

Cassio Politi: Pois é. E isso, Lucia, traz muita verdade para o que você está contando para a gente por que quando o fundador da empresa e a alma da empresa dá uma instrução tão clara e tão honesta, verdadeira quanto essa, não corre o risco da empresa ter um papo furado de centralidade do cliente. Se alguém tinha alguma dúvida de tudo que você contou até aqui, essa sua passagem com o doutor Aloysio de Faria, acho que valida tudo. 

Lucia Almeida: Um ponto que ele falava muito era em modernidade. Eu quero modernidade. Pensando em tecnologia, esse é um assunto bem legal. Muita gente não entendia o que ele queria dizer com modernidade, porque modernidade não é só tecnologia, são novos modelos, novos processos, novos comportamentos, então é você estar à frente. E como ele lia muito, ele (inint) [00:31:06], ele às vezes falava algumas coisas que tinha executivo que não estava entendendo por que não estava acompanhando o tempo dele. Ele tinha quase 100 anos, mas ele estava lá pelo menos 10 a frente, sempre foi assim, não é? 

Cassio Politi: É. 

Lucia Almeida: Muito legal. 

Cassio Politi: Bacana. Que conversa gostosa com você, Lúcia. Quero te agradecer muito por esse papo, pela sua história tão rica de experiência e da forma como você conta, muito gostosa, muito delicada a forma que você conta e inclusive essa passagem aí no final é uma passagem que transcende até acho que o seu trabalho na C&C. É algo que a gente leva para vida e acaba transmitindo para outras pessoas, amigos, família, colegas. Quero te agradecer muito por esse papo tão gostoso que você bateu aqui. Obrigado, Lucia. 

Lucia Almeida: Eu que agradeço. Foi fantástico, adorei. E vamos continuar em outras ocasiões, outras oportunidades. Foi bem legal mesmo. 

Cassio Politi: Vamos sim. 

(inint) [00:32:10 – 00:32:23]

Cassio Politi: Muito bem, vamos chegando então ao final do Think Tech de hoje. Sara, eu adoraria ter convivido com algumas pessoas de negócios que me inspiram. O Aloysio de Faria é uma dessas pessoas. Eu já tinha ouvido de outros funcionários que há boas histórias sobre o Aloysio de Faria, essas pessoas sempre falaram muito bem dele, e agora a Lucia reforça essa impressão. E olha, confesso que eu fiquei triste quando ele morreu. 

Sara: Eu imagino, Cassio. Quando morreu em 2020, o Aloysio de Faria era o banqueiro mais velho presente na lista das pessoas mais ricas do mundo na Forbes. Ele tinha 99 anos e uma fortuna estimada em 2 bilhões de dólares. Muitas reportagens mencionavam Aloysio de Faria como banqueiro invisível, porque ele quase não aparecia na mídia. A tradicional marca, La Basque, de sorvetes premium muito vendidos em São Paulo, foi criada por uma razão peculiar. O doutor Aloysio, como era chamado, gostava muito de sorvetes. Ele ficou à frente da empresa até setembro de 2020 quando morreu, ele completaria 100 anos em novembro daquele ano. 

Cassio Politi: Bom, então temos algo em comum, que eu também adoro sorvete. É isso aí, Think Tech de hoje fica por aqui. Até a próxima.